Adoção: a união pelos laços do amor

Negligência, maus tratos, desestrutura familiar ou simplesmente não querer criar um filho. Esses são alguns dos pontos que levam uma criança até os vários abrigos e casas de acolhimento e, posteriormente, à adoção.
Diariamente são vários os casos de abandono e ao mesmo tempo vários casos de adoções, porém ainda em números pequenos comparados a quantidade de pessoas que estão dispostas a adotar. O grande ponto na hora da adoção são os requisitos, que muitas vezes variam do sexo, passando pela idade e até cor ou raça. A grande preferência na hora de adotar é por crianças menores de cinco anos.
Ficar na fila de adoção, ter um ou vários filhos tirados e levados para abrigos ou participar ativamente de toda a transição e processo de adoção, são algumas das histórias que ilustram essa reportagem e fazem viajar no tempo e em busca, muitas vezes, de respostas.
Roseana Franco Rotta e o trabalho psicológico na adoção
Em seus 17 anos de trabalho junto a Psicologia e trabalho em abrigos na cidade de Lages, Roseana acompanhou vários casos de adoção, principalmente as primeiras adoções de irmãos que aconteceram no Brasil foram na cidade de Lages e a psicóloga, como trabalhava no abrigo Menino Jesus e na época o Fórum de Lages não possuía um profissional da área para realizar a atividade, Roseana era quem realizava todo o processo. Adoções individuais, de irmãos e internacionais foram acompanhadas por Roseana, que precisou se adequar a realidade, inclusive tendo aulas de italiano para poder atuar nas adoções internacionais. Ela iniciou no Lar Menino Jesus em 2006 e permaneceu no local por dois anos e meio. De lá, ela lembra de vários casos e situações, porém algumas chamam a atenção devido ao grande envolvimento com futuros pais e futuros filhos.
A psicóloga relembra do caso de quatro irmãos, dois meninos e duas meninas, que foram para a adoção internacional. Os dois casais, futuros pais das crianças ficavam em Florianópolis e iam para Lages uma vez por semana, para iniciar o vínculo com os futuros filhos. Todo o processo tinha sido feito e cada casal ficaria com um menino e uma menina, porém ao finalizar o processo as irmãs queriam ficar juntas e o Ministério Público preciso mudar toda a documentação e passou a observar de forma diferenciada e ouvir também as crianças durante o processo de adoção, a fim de evitar futuros constrangimentos e problemas, principalmente psicológicos que possam vir acarretar no desenvolvimento das crianças adotadas.
O papel do psicólogo e assistente social nos abrigos, que são os locais para onde as crianças e adolescentes são levados quando retirados do convívio familiar, é exclusivamente observar: comportamento, atitudes e registrar tudo em relatórios. "Eu gostava de acompanhar cada criança ou adolescente que chegava no abrigo desde o banho, o que gostava de comer, suas atitudes... para depois poder realizar os relatórios". Existe um acompanhamento das famílias, após a adoção e faz parte de todo o processo. "Eles enviam fotos e no caso da adoção de irmãos, as famílias acabam se tornando amigas, pois existe um vínculo, que são os filhos", comenta Roseana, que mesmo não atuando mais nos processos de adoção, ainda mantém contato com algumas famílias através das redes sociais.
A psicóloga lembra que antes de trabalhar no abrigo Menino Jesus, trabalhou no Programa Sentinela que atuava junto aos casos de abuso e exploração de adolescentes e, posteriormente, constatou no abrigo vários casos de filhos de meninas que acompanhou no Sentinela e que passavam pela mesma situação que suas mães no passado. "Infelizmente os casos se repetem", frisou Roseana, a qual atualmente trabalha no CRAS do município de Campo Belo do Sul e não tem mais ligação direta com as adoções, porém quando chegou ao município, trabalhou na casa de abrigo e acompanhou alguns casos de adoção, como o dos dois irmãos que foram adotados pela irmã mais velha e filhos de Veroni Aparecida Rodrigues Barbosa.
Uma mãe que teve os filhos enviados para a adoção
Muitas vezes pensamos que casos de abandono e situações em que os filhos são tirados do convívio familiar acontecem apenas em cidades maiores, onde os índices de violência e exclusão são maiores, porém a realidade muda quando se encontram histórias como a de Veroni Aparecida Rodrigues Barbosa, que hoje aos 43 anos de idade, mãe de seis filhos, viu há dez anos a vida dar uma reviravolta, quando teve os quatro filhos, na época, retirados de casa por uma ordem judicial e enviados para a adoção.
Era o ano de 2006, Veroni lembra que sua vida se resumia em fazer festa, bebia e abandonava os filhos, era comum sair de casa e deixar os pequenos aos cuidados da irmã. Ela lembra de uma vez que saiu de casa e ficou sete dias sem dar notícias, o que preocupava a todos, até que denunciaram e um dia, na presença de conselheiros tutelares, assistente social e policiais, os filhos foram retirados de casa e levados para o abrigo do município.
A mãe não tinha condições de criar os filhos e todos foram para adoção. Dos quatro, três não se adaptaram e retornaram ao abrigo e um menino que na época tinha três anos de idade, não retornou e desde então a mãe nunca mais teve contato.
Logo após os filhos serem tirados de casa, Veroni foi embora e só quando retornou que descobriu que o menino tinha sido adotado. Na época ela estava grávida do quinto filho e todos de pais diferentes. Ela teve depressão, trombose e o sofrimento que sentiu vendo os filhos sendo tirados de casa, fez com que ela mudasse de vida.
"Cuidem de seus filhos, deem amor e carinho. Hoje eu cuido dos dois filhos que estão comigo, não deixo eles sozinhos e me arrependo muito do que aconteceu. Eu gostaria muito de ver meu filho, eu sei que ele não vai reconhecer nós como família, mas queria saber como ele está", diz emocionada Veroni.
Você deve estar se perguntando: e os outros três filhos?
Deus realmente é fiel e generoso e aqui inicia uma nova história de amor. Dos quatro filhos retirados de casa e levados para o abrigo, apenas um foi adotado, os outros três retornaram ao abrigo e lá permaneceram por quase dez anos, foi quando a filha mais velha que na época havia completado 18 anos, engravidou no abrigo e casou, indo embora para a cidade de Blumenau/SC. Tempos mais tarde, o vínculo entre irmãos e o amor que sentia, fez com que ela pedisse a guarda dos outros dois irmãos que estavam no abrigo, e o juizado aprovou. Hoje, todos residem em Blumenau, irmã e mãe, genro e pai e tios e sobrinhos.
Veroni fala com alegria do ato da filha mais velha em adotar os irmãos e diz ter contato diário com todos, inclusive uma das filhas quer voltar para casa.
A adoção na visão da psicóloga
A adoção visa colocar a criança ou adolescente em uma família substituta, para que os mesmos tenham condições de se desenvolverem em um ambiente cercado de amor, cuidado e proteção.
O acolhimento institucional tem por objetivo ser um local de passagem, onde provisoriamente a criança ou adolescente ficará até que possa voltar para sua casa, ao convívio de algum familiar ou ainda, até encontrar uma família substituta.
Porém, a esperança de crianças e adolescentes que vivem em abrigos diminui à medida que o tempo avança. A realidade, infelizmente, demonstra que muitas crianças passam toda a infância no abrigo e saem já adultos. Percebe - se também que a demora se deve principalmente a dois fatores: a morosidade da destituição do poder familiar, e ao perfil desejado pelas famílias.
As consequências sofridas por quem espera por uma família podem ser irreversíveis. Diversos estudos na área da Psicologia evidenciam a necessidade vital que a família representa para uma criança. A necessidade de uma família é indispensável não somente para os bebês, mas para todos, sejam crianças, adolescentes ou adultos. É na família que está a base do ser humano, sua fortaleza, de onde se adquire valores que futuramente serão transmitidos. A família deve representar segurança e proteção e deve ser repleta de respeito e de amor entre seus entes. Privar crianças ou adolescentes da convivência em família é o mesmo que deixá-las abandonados à própria sorte.
O processo de preparação das crianças e adolescentes disponibilizados para adoção requer várias ações entre o psicólogo e a criança, deve-se agregar esforços no sentido de realizar uma ação coletiva e participativa de vários atores que estão ou serão inseridos no projeto de fortalecimento e autoconhecimento necessário para a colocação em família substituta.
O profissional deve estar atento a vazão de sentimentos ambivalentes e a disponibilidade para experimentar o novo, pois a inserção e uma família é novidade e o período de adaptação tanto para pais adotivos como para o adotado é de fundamental importância, a partir deste momento as experiências são únicas para ambos e se tornaram parte da história da família.
Não importa se a barriga não crescer por 9 meses, um filho é para a vida inteira
Entre a decisão de adotar e ser adotado há um caminho a ser percorrido, composto por diversos critérios. Vamos entender o passo a passo dessa trajetória?
Para quem
deseja adotar
Homens e mulheres, não importa o estado civil, podem adotar, desde que sejam maiores de 18 anos de idade e sejam 16 anos mais velhos do que o adotado.
A partir da decisão em adotar, é necessário entrar em contato com a Vara da Infância e Juventude mais próxima de sua residência (em Anita Garibaldi encontra-se no Fórum), e lá solicitar a lista de documentos necessários para iniciar o processo de adoção.
Após a avaliação feita pela equipe técnica da Vara da Infância e do parecer do Ministério Público, o juiz dará sua sentença. Com o pedido acolhido, o interessado será adicionado automaticamente na fila de adoção e agora aguardará até aparecer uma criança com o perfil definido.
Quem pode ser adotado?
Crianças e adolescentes com até 18 anos à data do pedido de adoção, cujos pais forem falecidos ou desconhecidos, tiverem sido destituídos do poder familiar ou concordarem com a adoção de seu filho. Maiores de 18 anos também podem ser adotados. Nesse caso, de acordo com o novo Código Civil, a adoção depende da assistência do Poder Público e de sentença constitutiva.
Segundo orientações do ECA, só podem ser colocados à adoção aquelas crianças e adolescentes para quem todos os recursos dos programas de atenção e apoio familiar, no sentido de mantê-los no convívio com sua família de origem, se virem esgotados.
Mas para que se chegue a essa conclusão de que a criança ou adolescente está em situação de risco com a família, são várias etapas. De acordo com informações do Conselho Tutelar de Anita Garibaldi, é através deles o primeiro contato sobre como está a vivência em família. A partir disso, o Conselho comunica o Ministério Público, solicitando o desabrigamento da criança ou adolescente que está sob risco.
Em seguida, a assistente social da Vara da Infância passará a analisar a situação, visitando os pais e tomando as providências necessárias para evitar a destituição dos pais. Todos os meios ao alcance são procurados para que os filhos fiquem com os pais, ou com parentes próximos. Caso isso não seja possível, a criança vai, então, para a adoção. Segundo os conselheiros anitenses, para o tamanho do município, os casos de situação de risco são pequenos em relação a quantidade de habitantes.
Quando a criança é desabrigada da casa dos pais, ela passa a residir temporariamente (até que seja decidida a situação) em abrigos, que no caso da Comarca de Anita Garibaldi é a Casa Lar.
O Conselho Tutelar ressalta que o abandono é caracterizado como crime, mas doar não. Por isso quem não deseja criar os filhos pode entrar em contato com o Conselho ou Ministério Público informando sobre a situação.
Hoje no Brasil existem 36.405 pessoas em situação cadastral disponível a adotar, enquanto há 4.865 crianças/adolescentes aguardando uma nova família.
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