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Dez anos depois, o relato de quem renasceu após tentar suicídio

Hoje é o dia para voltar a ver a beleza de viver

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"A tatuagem ponto e vírgula representa continuidade. Esqueça o ponto final, vamos escrever novas histórias... #nãoaosuicidío #Fénavida" (Gil Karlos Ferri)

 

Era junho de 2007, Gil Karlos Ferri tinha 15 anos, bom filho, amigo querido e aluno dedicado. Em meio aos adjetivos, uma tristeza profunda se abateu sobre o filho de Gildaci e Claudete, morador da cidade de Anita Garibaldi.

"Durante um mês passei a perder a esperança, achando que nada valia a pena, que já tinha vivido tudo e que a vida não tinha mais graça. Me isolei da família, dos amigos e não me alimentava direito", descreve as sensações o anitense. Segundo ele, havia picos de alegria em meio à tristeza. "Nesse um mês eu vivi um isolamento depressivo, mas tinha picos de euforia. Ao mesmo tempo em que estava muito triste, às vezes amanhecia num dia rapidamente feliz".

A família logo percebeu a mudança, e buscou tratamento para Gil, que passou a receber atendimento para início de depressão. "Mas logo tentei suicídio e a ajuda profissional foi intensificada, com atendimento em psiquiatra e psicóloga. O apoio da família, dos amigos, da escola e a fé, através do amadurecimento espiritual, foram tudo, então eu comecei a voltar a ver o quanto a vida era legal, que o que parecia não ter graça era justamente o que dá graça à vida", comenta.

De acordo com ele, a tentativa de suicídio em mulheres é mais branda e os homens buscam formas mais severas. "No meu caso foi com facada e enforcamento. O suicida tem várias maneiras de chamar atenção, com ameaças do ato. No meu caso eu fui direto, mas uma pessoa muito especial me encontrou, conversou comigo e me convenceu a voltar para casa, pois muitos estavam me procurando", recorda o jovem, destacando que há duas opções quando se chega a esse ponto: tentar fazer novamente ou buscar se recuperar. "Eu escolhi a segunda opção, e resgatei a minha vida."

A partir daquele momento de ápice de tristeza, Gil começou a reagir positivamente. Ao mesmo tempo em que rapidamente se abateu, a melhora mostrou-se rápida. "Fiz dois anos de terapia com a psicóloga e atualmente tenho acompanhamento anual com o psiquiatra", explica.

Ele concluiu o Ensino Médio, e em 2009 iniciou o curso de História, mudou-se para Florianópolis para estudar na UFSC e atualmente cursa mestrado em História Ambiental pela UFFS. O aluno que recebeu fundamental apoio da escola em que estudava na época, a E.E.B. Padre Antônio Vieira, hoje é professor da instituição, sendo sempre muito elogiado pelos colegas de trabalho e alunos.

Dez anos passados do choque para a família e todos que conheciam Gil, ele descreve como um renascimento. "Essa vitória sobre si próprio mostra que nada mais me abala, eu resgatei a esperança na vida, tudo faz sentido. Gosto muito da citação do livro Iracema, de José de Alencar, onde ele diz: 'Tudo passa sobre a terra....', pois me representa sobre como passei a pensar. Nunca tive tabu em relatar esse fato que aconteceu comigo, para que eu possa ajudar as pessoas a superar essa situação", comenta emocionado.

Perguntado sobre o que diria às pessoas que estão passando por momentos difíceis, em que a tristeza se sobressai a tudo, Gil deixa uma mensagem de otimismo: "Diria que encontre alguma paixão, como por exemplo, no momento a minha paixão é a pesquisa histórica. As paixões movem o mundo e nos fazem ver o quanto nossa vida faz sentido e o quanto somos importantes e amados nesse mundo. Eu reencontrei a felicidade, voltei à vida, somente Deus decidirá qual será o momento em que deixarei de viver, não eu", conclui com sorriso no rosto e com os olhos com lágrimas de quem voltou a ter esperança na vida: Gil Karlos Ferri.

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O Setembro Amarelo é uma campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio, com o objetivo de alertar a população a respeito da realidade do suicídio no Brasil e no mundo e suas formas de prevenção. Ocorre o mês de setembro desde 2015.
 
O Correio dos Lagos entrou em contato com a psicóloga Juliana Regina da Silva, sendo essa profissão fundamental quando se trata de prevenção ao suicídio. Ela relata aspectos fundamentais sobre o assunto. Acompanhe: 
 
"Este tema tem sido falado cada vez mais na mídia e em outros ambientes do nosso cotidiano, apesar de por outras vezes ser um assunto velado. Por conta dessa falta de clareza sobre o tema e sobre o acontecimento em si, a falta de informação também se torna outro problema para a sociedade. Sem contar, na dificuldade que a maioria das pessoas que já tentaram cometer suicídio têm de falar sobre o assunto. O suicídio está presente na maioria dos casos de depressão e em casos de abuso de substâncias químicas. Há relatos de pessoas que tentaram se suicidar e após o evento, a mesma afirmar que não se lembra de ter tentado o suicídio. Ou seja, o risco aumenta devido a essa informação.
 
Existem variáveis psicológicas que facilitam o ato suicida. Essas variáveis são de origem cognitiva, afetiva e/ou comportamental e são passíveis de serem modificadas por meio de intervenções psicoterapêuticas focadas. 
 
Seguem cinco classes de variáveis psicológicas que são consideradas:
 
* Desesperança: altos níveis de desesperança que acontece frequentemente, independente do nível dos sintomas depressivos, costumam estar associados com altos níveis de intenção suicida.
 
* Cognições relacionadas ao suicídio: a simples ideia de se matar e/ou a intenção podem ser preditores de tentativas e mortes por suicídio.
 
* Impulsividade aumentada: este fator de vulnerabilidade pode fazer parte da própria personalidade do indivíduo, sendo considerado um traço, caracterizando-se por uma ênfase no presente, rápida tomada de decisão, falha em considerar as consequências de suas ações, desorganização e/ou incapacidade de planejar.
 
* Déficits na resolução de problemas: o fato do indivíduo ter dificuldade em vislumbrar alguma outra saída para as circunstâncias de sua vida, pode facilitar o ato suicida.
 
* Perfeccionismo: esta dimensão interpessoal que envolve percepções da própria necessidade e habilidade de atender aos padrões e expectativas impostos pelos outros também facilita o ato. O perfeccionismo costuma gerar estresse acentuando a aversão ao estresse ou ameaça, ou focando a atenção do indivíduo em falhas ou fracassos ao invés de focar nas suas capacidades e sucessos.
 
Tratamento
 
De acordo com o texto acima, encontramos algumas variáveis psicológicas que colocam os indivíduos em risco de ativar esquemas negativos associados a transtornos psiquiátricos e a atos suicidas. O tratamento é composto por técnicas e estratégias de enfrentamento a esses esquemas de forma objetiva, devido ao alto risco que o paciente corre com esses esquemas. E por muitas vezes, existe a necessidade de intervenção de fármacos para o sucesso do tratamento.

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