logo RCN

Distantes fisicamente, porém unidos na fé

  • - A presença de fiéis deu lugar as celebrações através das redes sociais, como Facebook e Instagram

Diante do cenário vivenciado pelo Brasil, pelo mundo e pelas nossas cidades em que a pandemia do Coronavírus chegou trazendo inseguranças, medos e uma mudança na rotina diária de cada pessoa, muitos foram os segmentos que precisaram se adaptar e, nessa entrevista, destacamos o trabalho da Igreja Católica no município de Anita Garibaldi, através do trabalho do padre Fernando, padre Vanildo, irmãs da Divina Providência e toda a Paróquia Santa Bárbara, no que diz respeito a levar a palavra de Deus aos lares anitenses e da Região dos Lagos através das redes sociais. Acompanhe a entrevista com o pároco padre Fernando Medeiros Cargnin.


Correio dos Lagos - Devido a essa pandemia do Coronavírus que o mundo vive, o que mudou na rotina da igreja?

Padre Fernando Medeiros Cargnin - Essa pandemia trouxe para a igreja a necessidade da gente se modernizar, usar da criatividade para que através dos meios sociais, a internet, pudéssemos chegar diretamente ao coração das famílias. Na rotina da igreja o que influenciou essa pandemia, é que ao invés de nos aproximarmos fisicamente, estivemos e estamos muito mais próximos espiritualmente, mesmo que a gente não tenha a presença dos fiéis na igreja. As fotos, áudios, testemunhos que as pessoas enviam para a gente do seu momento de oração, acompanhando a santa missa, preparando as suas casas, isso mostra uma aproximação espiritual muito grande. Mudamos a rotina dentro da igreja, mas a igreja se tornou presença viva dentro de cada família, trazendo de volta o aspecto antigo da verdadeira igreja doméstica. Embora não estejam em grupos de famílias, mas tivemos através, infelizmente dessa pandemia, de poder trazer um pouco mais de unidade, esperança, fé e consolo. Claro que os atendimentos personalizados, confissões, visita aos doentes foram transferidos, faremos em momento oportuno, ninguém ficará sem atendimento espiritual, no entanto nesse momento de isolamento social, nós como igreja também precisamos cuidar da saúde e o que muda é exatamente isso, estamos mais nas redes sociais com a santa missa, com as celebrações da Semana Santa, passando nas ruas, e tudo isso mexeu com a estrutura da evangelização na igreja.

Correio dos Lagos - Como está sendo essa experiência de realizar as celebrações sem a presença dos fiéis?

Padre Fernando - Rezar a missa sem a presença física dos fiéis de fato traz uma certa tristeza no coração do padre, ver a igreja vazia, sem movimentação, sem a resposta, aclamações litúrgicas, sem a participação nos cantos, isso deixa-nos entristecidos e emociona. Celebrar tem sido um desafio muito grande. Alguém me perguntou: - Por que arrumar a igreja todos os dias? E eu respondo: é diferente, pois os fiéis não estão ali, mas é exatamente por isso, não estão fisicamente, mas estão nos acompanhando no seu lar. Preparar a igreja, liturgia, reflexões, cânticos é uma maneira de fazer com que as pessoas em sua casa se sintam dentro do espírito litúrgico que está sendo celebrado e tenham consciência de que aquele momento foi preparado. Claro, temos a dificuldade emocional, nossa igreja é grande e ao invés da resposta do povo, tem o eco da voz do padre, o que deixa a igreja um pouco mais com a penumbra da tristeza e solidão, mas ao mesmo tempo a gente sabe que do outro lado da tela está o coração sedento de esperança e de Deus. É difícil celebrar, mas nos sentimos responsáveis e testados na criatividade naquilo que a gente prepara para fazer com que a palavra de Deus chegue nos corações dos fiéis.

Correio dos Lagos - O senhor acredita que os meios de comunicação e redes sociais, sendo estas, as formas de transmissão das missas, têm aproximado os fiéis da igreja? Como surgiu a ideia de utilizar as redes sociais?

Padre Fernando - Creio que sim, que estão aproximando os fiéis da igreja. Vários padres também estão usando os meios sociais para fazer outros momentos de orações, não só as celebrações da missa e tudo isso tem aproximado as pessoas da igreja. Creio que esse momento de provação da saúde tem sido para nós uma provação de fé. Aqui na nossa Paróquia Santa Bárbara tenho tido uma expectativa muito grande de pessoas que tem amadurecido na fé, recuperado a esperança, alimentado a sua caminhada de igreja justamente porque esse tempo as aproximou da igreja. Tenho tido testemunhos de pessoas de que, após passar tudo isso, as famílias querem participar mais da igreja e a resposta tem sido positiva para esse tempo. Acredito que passando essa pandemia, a gente tenha um reavivar de lideranças na nossa paróquia. As redes sociais oportunizaram isso, também até um redescobrimento da fé. A igreja sempre se utilizou dos meios de comunicação, mais diretamente as grandes igrejas, os santuários, Canção Nova, Rede Vida, temos vários canais católicos que utilizavam a mídia social. Com a pandemia cada paróquia se viu obrigada a achar uma dinâmica que pudesse acalentar o coração de seus fiéis e mostrar que estamos juntos, ainda que separados fisicamente a igreja precisava achar uma maneira de estar junto de seus fiéis e veio a ideia de transmitir as celebrações ao vivo através das redes sociais. A iniciativa de utilizar na igreja é antiga, porém foi um desafio nas nossas paróquias e a pandemia nos colocou alguns desafios e adaptações, acredito que a ideia surgiu desse desafio e tivemos que adaptar a maneira de evangelizar e como já fazíamos uso das redes sociais, automaticamente entrou a possibilidade de fazer as transmissões ao vivo.

Correio dos Lagos - O senhor teve uma atitude que emocionou muitos fiéis, que foi colocar fotos nos bancos da igreja. Como surgiu essa ideia e qual o intuito?

Padre Fernando - Primeiro vale dizer que a ideia de colocar as fotos dos fiéis nos bancos não é minha, eu copiei de um padre dos EUA que teve essa atitude. Aquilo me chamou atenção e me fez perguntar: Por que não aproximar a comunidade mais do padre? As pessoas me têm visualmente atrás da imagem do celular, computador, aqui na igreja, eu não os tenho, não visualizo mais aquela imagem que costumava ver nas celebrações. Essa ideia do padre dos EUA me fez refletir isso. No ano passado, no Cerco de Gericó, eu pedi que as famílias trouxessem a sua foto para que o padre montasse um álbum e cada dia pudesse rezar por uma família, e através do padre dos EUA achei a maneira de ter os fiéis de volta comigo visualmente e para que possa sentir a companhia, a esperança de cada família. Posso confirmar que foi emocionante para o padre e para as pessoas que estão se vendo nas fotos. Copiei a ideia e a intenção é sentir a presença de cada família da nossa paróquia. Depois que a gente divulgou as fotos, outras famílias enviaram posteriormente as fotos e a gente foi imprimindo aos poucos e fomos colocando nos bancos até no sábado que antecedeu o Domingo de Ramos. Ainda estão chegando fotos e na medida do possível vamos colocando, pois a intenção é ter as famílias próximas do padre.

Correio dos Lagos - Além do período de isolamento e evitar as aglomerações, a Igreja Católica vive uma semana especial, a Semana Santa. Como o senhor está adaptando as várias celebrações e os momentos de fé em que a igreja sempre recebia muitos fiéis?

Padre Fernando - Estamos vivenciando a grande semana para os cristãos que é a Semana Santa. Temos a prática de reunir muitos fiéis para as celebrações e nos vimos num desafio muito grande de como fazer com que os fiéis pudessem interagir ainda que vivenciando o isolamento social, de modo a celebrar intensamente a Semana Santa, a viver os passos de Jesus rumo ao calvário para conquistar a salvação para cada um de nós. Dentro desse panorama a pastoral de nossa paróquia teve iniciativas como, por exemplo, a bênção dos ramos, motivando as famílias para que colocassem ramos em frente às casas e que estivessem em frente às residências, porque o padre iria passar para abençoar os ramos. Essa experiência foi fantástica, emocionante e com uma carga espiritual muito grande. Ver as pessoas esperando o padre passar, muitas lágrimas, muitas pessoas aplaudindo, tudo isso favoreceu como resposta positiva a essa iniciativa de sair às ruas, recebo várias mensagens de agradecimento. A Semana Santa para ser celebrada fortemente pelos nossos fiéis, a gente tem tido essa experiência: poder celebrar bem na igreja e depois uma dinâmica especial como na Quinta - feira Santa, o padre passará com o Santíssimo Sacramento pelas ruas, na Sexta-feira Santa teremos uma dinâmica especial onde haverá o translado da imagem do Senhor morto pelas ruas da cidade e cada família é convidada a colocar uma vela acessa demonstrando a fé, esperança, piedade popular e colocamos junto com ele todas as nossas dificuldades, limitações no túmulo de Jesus pedindo que na sua ressurreição tudo seja transformado em graça.

Correio dos Lagos - Além de afetar diretamente nas celebrações, a pandemia também afetou os eventos da igreja, a exemplo da feijoada que antecede a Festa de São Cristóvão e até mesmo as atividades referentes ao Aniversário de 70 anos da Paróquia. O senhor já imagina como procederá?

Padre Fernando - Realmente esse momento de dificuldade da saúde, essa pandemia, levou ao cancelamento de várias celebrações festivas, atividades promocionais aqui na matriz e nas comunidades, a exemplo da Feijoada de São Cristóvão, entre outras atividades. Na época quando tivemos que cancelar essas atividades usei a expressão que não falássemos em cancelamento e sim adiamento dos eventos para oportunamente poder realizar, confesso que não tenho noção de como vamos encaixar os eventos, nossa paróquia é grande e a agenda é cheia, mas a fim de poder ajudar as comunidades e também a paróquia vamos sim encaixar datas e possibilidades desses eventos promocionais. Sobre os 70 anos da nossa Paróquia, dia 31 de março seria a missa que abriria o Jubileu, de fato não fizemos, todavia conseguimos celebrar o início desse ano jubilar e teremos até o dia 31 de março de 2021 bastante possibilidades de celebrar juntos esse tempo de evangelização da nossa Paróquia. Uma das celebrações marcantes era a Festa Paroquial das Tendas que também foi cancelada, mas vamos ver uma outra possível data como evento de abertura do nosso jubileu e marcar a presença do nosso povo. Desafio grande, mas vamos tentar fazer o possível e encaixar essas atividades dentro do nosso cronograma do ano.

Correio dos Lagos - Que recado deixar para a população anitense e de toda a região que lhe acompanham durante as celebrações e na vida diária diante dessa pandemia?

Padre Fernando - A frase que o padre mais repete nas nossas celebrações em tempo de pandemia é: 'Onde Deus existe, o mau não resiste'. O pedido que faço a todos é que continuem mantendo a chama da fé acesa, alimentando a nossa esperança com palavra de Deus, comunhão espiritual, amadurecendo cada vez mais o ser cristão, a fim de passar toda essa tempestade, essa pandemia. Que a gente possa retornar à comunidade e melhorar cada vez mais o nosso reflexo cristão. Somos chamados pelo batismo a agirmos como Cristo, a ter em nossos corações os mesmos sentimentos de Cristo e creio que essa seja a mensagem principal que resume esse tempo de isolamento social, que a gente de fato tenha crescido, amadurecido e tenha percebido o valor da vida, e os cuidados que a gente tem que ter com ela. Crie laços ainda maiores com o nosso próximo, cada um de nós está sofrendo com o isolamento social, a gente sente saudades e que esse sentimento de saudade se transforme em maturidade no exercício de cristandade para que possamos realmente, quando retornar ao seio da comunidade, ter o reflexo maior de amor a Deus e de amor ao próximo. Continue firme nas orações, em sintonia com a nossa Paróquia, continue participando com sua família, manifestando a sua participação dentro deste espírito de fé e, tendo passado essa tempestade, possamos voltar e dar glórias ao nosso Deus, nos tornando mais humanos, mais serenos e mais maduros na fé. Que Deus abençoe cada família da nossa Paróquia e a todos nós e juntos façamos uma Anita Garibaldi melhor e que estes 70 anos da nossa Paróquia não sejam marcados negativamente por essa pandemia, mas que tendo passado tudo isso seja vivenciado com mais vigor, participação e alegria. Deixo o meu abraço e também em nome do padre Vanildo que partilha dos mesmos ideiais e se esforça para que cada fiel possa receber esse consolo e essa esperança que vem da palavra de Deus e da força da Eucaristia.

A Rosa de Anita floresceu Anterior

A Rosa de Anita floresceu

A suspeita que virou confirmação para Coronavírus em Anita Garibaldi Próximo

A suspeita que virou confirmação para Coronavírus em Anita Garibaldi

Deixe seu comentário