logo RCN

Há trinta anos o trabalho é no cemitério municipal

  • - Aos 70 anos, Ferdinando é o único coveiro de Anita

Ferdinando Ambrosio tem 70 anos de idade e destes, 30 são dedicados a profissão de coveiro, algo não muito comum, mas necessário em todos os municípios. Filho de João Ambrosio e Libera Suppi Ambrosio, é nascido em Anita Garibaldi e viveu todos esses anos no município.
Cada vez que alguém falece, é seu Ferdinando que é procurado para realizar todos os preparativos no cemitério, desde a abertura da carneira e até a construção das casas. O trabalho começou quando os pais faleceram. "Aí mandamos fazer uma carneira pequena e depois eu resolvi fazer uma casinha para os pais. Naquela época os pedreiros vinham de Lages para fazer as casinhas e vi ali uma oportunidade. Eu construía casas e tive problema na coluna, o médico pediu pra eu reduzir o serviço aí virei coveiro, pois as casinhas são bem menores", lembra seu Ferdinando com sorriso no rosto.
O trabalho é quase que diário, a chuva muitas vezes atrapalha, mas o que ele faz poucas pessoas, ou melhor dizer, quase ninguém quer fazer. Seu Ferdinando acredita que mais de mil pessoas estejam enterradas no cemitério municipal de Anita Garibaldi e falta espaço. "Muitas vezes acontece de falecer o casal ou algum parente próximo e não ter espaço, aí eu abro tiro os ossos, coloco numa caixa pequena e colocamos nessa caixa junto. Pois não tem mais lugar e alguns espaços são pequenos", comenta seu Ferdinando.
De dez anos para cá algumas regras mudaram na hora de fazer um enterro e confeccionar as carneiras, que devem ser de concreto e bem fechadas, pois segundo a Polícia Ambiental o Diabetes pode se espalhar pela terra e ir para a água causando contaminação. "No nosso cemitério tem um olho de água e com essas novas regras tem que ser bem fechado para não deixar a água do corpo sair".
Perguntado se algum fato chamou a sua atenção, ele lembra de várias histórias, porém uma recente emocionou a todos que estavam acompanhando o enterro. "O homem morreu e dois amigos violeiros vieram fazer uma homenagem, eles ficaram escondidos, só eu sabia e quando o enterro estava terminando eles começaram a cantar, emocionando os filhos, a viúva e todos que estavam acompanhando. Foi muito bonito e um exemplo".
Outro fato que seu Ferdinando lembra é com relação as muitas histórias que ao abrir um caixão anos após, o corpo está virado ou de lado e pensam que a pessoa viveu dentro do caixão e se virou, mas ele desmitifica isso, dizendo que se o coveiro não é muito prático na hora de descer o caixão na carneira, pode acontecer de virar e automaticamente o corpo vira. "Comigo já aconteceu de virar e eu desci, abri o caixão e arrumei, os parentes não quiseram descer, mas eu fui e arrumei", lembra.
Com relação ao local em que seu Ferdinando trabalha, ele enfatiza que deveria ter mais comprometimento tanto dos órgãos competentes que são responsáveis por manter o local limpo e organizado, quanto das famílias que muitas vezes só vão ao cemitério em época de finados. "O nosso cemitério não tem mais espaços para comprar, a Prefeitura está tirando um barranco já faz dois anos, a hora que terminarem vai ter mais alguns espaços para vender".
Durante esses trinta anos não tem quem conheça seu Ferdinando, que atende também em outros municípios. Além de coveiro ele também é chaveiro.

 

Anterior

MUDAR O MUNDO

CDL de Anita Garibaldi tem novo presidente Próximo

CDL de Anita Garibaldi tem novo presidente

Deixe seu comentário