Homossexualidade assumida: a única escolha é a de ser feliz

Entrevista: Marcos Conradi
Jovem, nascido em Anita Garibaldi, cidade pequena do interior do estado. Atributos que parecem ser contrários a assumir ser homossexual. Pois, justamente o contrário. Marcos Conradi, 24 anos, estudante da 5ª fase de Ciências Contábeis e funcionário público, há seis anos, com apoio da família, deixou de viver num "mundo" que não era seu ao assumir ser gay. Filho de Maria Sonir Conradi e Ari Conradi, ambos falecidos, morou durante muitos anos com o avô e a tia, bases do amor e do incentivo à felicidade de Marcos. Em 28 de junho celebra-se o Dia Internacional do Orgulho Gay, contextualizando a data, conheça a história, junto aos desafios e realizações, do anitense que enfrentou as barreiras do preconceito:
Correio dos Lagos - Com quantos anos e como foi quando percebeu sobre sua orientação sexual?
Marcos Conradi - Percebi realmente quando tinha 14 anos, estava no Ensino Médio, tem gente que identifica antes. Sempre fui meio quieto, na minha. Foram quase quatro anos desde que descobri minha orientação até me assumir. Nunca dei bola para piadinhas preconceituosas, não me deixava levar por isso, para que não fosse algo que me prejudicasse. Sabia que eu era, mas não mexia muito nessa questão.
Correio dos Lagos - Quando foi que assumiu publicamente ser homossexual e como foi à reação da sua família ao saber?
Marcos - Na verdade, quando me assumi, foi através do meu irmão. Eu tinha 18 anos quando ele conversou comigo e perguntou. Sou o mais novo dos irmãos, e ele me incentivou. Sempre disse pra mim mesmo que não negaria o que eu sou. Até então só havia falado com alguns colegas de sala, mas com a família ainda não. Não tinha pensado como me assumir, e foi ele que me ajudou a contar para a família. Naquele momento, foi onde tive que iniciar o meu processo de aceitação. Não foi fácil, chorei o dia inteiro e a noite daquele domingo, que nunca vou esquecer. Minha família me apoiou muito, foi meu suporte, parecia ser mais normal pra eles do que pra mim naquele momento. Fiquei surpreso positivamente com a reação deles. Na minha família não teve nenhum outro caso. Não estava preparado para falar, mas nunca pensei em negar. Depois de falar com eles, realmente passei a viver o que eu sou. Porque minha família sabendo, não tem o porquê esconder de ninguém. Após me assumir para eles, me aproximei dos meus irmãos, antes parece que tinha um bloqueio da minha parte.
Correio dos Lagos - Na época você morava com seu avô. Pela diferença de gerações entre vocês, como foi particularmente a atitude dele?
Marcos - Acho que minha família aceitou tão bem porque ele falou: "Era para ser assim, e ele é". Uma pessoa que na época tinha mais de oitenta anos e demonstrou que estava ao meu lado. Meu avô era muito sábio e evoluído, e principalmente sempre teve muito amor por mim.
Correio dos Lagos - No seu dia a dia, seja com os amigos ou no trabalho, enfrenta preconceito ou já se sentiu discriminado?
Marcos - Sou muito na minha, é minha vida particular, não é algo que tenho que expor. Tenho que ser um bom profissional no meu trabalho, uma boa pessoa na minha família, em casa, na comunidade... O que importa é o caráter e a honestidade, e não o restante. Não sofro preconceito no trabalho, nem dos amigos, é tudo bem tranquilo.
Correio dos Lagos - Em Anita Garibaldi, no contexto da sociedade local, como é lidar com sua homossexualidade?
Marcos - Não tenho nada que reclamar de Anita. As piadinhas sempre têm, mas não absorvo isso. Nunca sofri um preconceito de forma mais séria aqui. Na faculdade já senti isso, onde é uma cidade maior (Lages/SC) e também por ser um local acadêmico.
Correio dos Lagos - O que precisa ser melhorado para a melhor vivência dos homossexuais?
Marcos - Tem que ser trabalhado mais na questão de que é preciso aprender a conviver com as diferenças.
Correio dos Lagos - Os direitos de gays, lésbicas..., amparados pela Constituição, são realmente respeitados?
Marcos - Os direitos de inclusão dos homossexuais estão melhorando bastante em nosso país. O Brasil não está tão avançado quanto outros. Hoje os homossexuais podem casar, por exemplo, mas não existe lei para punir a homofobia. A sociedade está aprendendo a conviver com isso, afinal há espaço para todos.
Correio dos Lagos - Religião e homossexualidade. Como entende a relação das duas?
Marcos - Sempre fui uma pessoa de muita fé, passei por muitos problemas, e pra suportar foi só mesmo Deus. Minha opinião é de que, quem vai à igreja procurando Deus não pode ser julgado. Depois que me assumi, no início tinha medo de ir à igreja e de ser julgado, de não ser bem visto, mas comecei a ver que todos têm espaço, porque a igreja acolhe, Jesus acolhe independente da orientação sexual. Me sinto muito bem lá, mas no começo quando achava que não podia frequentar, sentia muita falta. Acho errado quem usa a religião para julgar alguém.
Correio dos Lagos - Atualmente você namora. Como é a convivência em casal com a família e sociedade?
Marcos - Estamos juntos há 1 ano e 6 meses, perante a sociedade e minha família. Ele foi a primeira pessoa que apresentei para minha família. A situação nova de apresentar alguém foi outro turbilhão de emoções, mas novamente fui surpreendido positivamente, pois foi muito natural. Temos uma vida normal.
Correio dos Lagos - O que mudou na sua vida depois que assumiu sua orientação sexual, tanto para si quanto publicamente?
Marcos - A partir do momento que você assume para você, para a sociedade e para a família quem realmente é, você começa a viver sua vida a partir daí, antes vive um mundo que não é teu. Não é uma opção, porque ninguém deu a opção de ser heterossexual ou homossexual, você nasce, traz isso, não tem nenhuma escolha.
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