A natureza muda em uma marcha que chamamos tempo, os modelos científicos são temporais. Tempo é uma noção intuitiva que temos, porque tudo muda em etapas que se sucedem, em uma taxa que parece uniforme. Mas não há prova da existência do tempo físico, nem uma exigência teórica de que exista.
Para Immnuel Kant, o tempo é propriedade subjetiva dos sentidos, e não objetiva das coisas. Historicamente, o tempo é uma construção intelectual de civilizações ancestrais, baseada nas mudanças percebidas na natureza, como a sucessão dos dias, estações do ano e movimentos dos astros. Os primeiros relógios emulavam a mudanças naturais com movimentos artificiais, como a elepsidra, a ampulheta, a vela de óleo ou a vela graduada.
Um conceito em mutação – O tempo matemático e absoluto emergiu no Renascimento para as navegações e para quantificar o trabalho assalariado. A noção do tempo se desvinculou das mudanças naturais e foi ligada à operação de relógios.
Como grandeza física independente e de fluxo uniforme, o tempo surgiu na ciência com Galileu, idealizador da utilização do pêndulo. Newton modelou os fenômenos naturais, usando um tempo que denominou matemático. Mas a Teoria da Relatividade de, Einstein, pôs fim à ideia de um tempo absoluto, propondo tempos diferentes em diferentes sistemas de referência, estados de movimento ou acelerações gravitacionais.
No século 19, surgiu o tempo entrópico, da termodinâmica ou mecânica estatística, de Boltzmann. É, por exemplo, o tempo envolvido no processo da difusão do aroma de um perfume. Como é improvável que a difusão se inverta, ou seja, que o perfume espalhado naturalmente ao vidro na forma líquida, isso poderia ser a prova da existência e do sentido do tempo físico de antes para o depois. O problema com esta ideia e que a difusão é um fenômeno aleatório, podendo se inverter talvez nos buracos negros, na matéria e energia escura ou por meio de fenômenos cosmológicos desconhecidos.
No século 20, o tempo evoluiu para um patamar cronotecnológico e uma duração passou a ser medida por comparação com o número de repetições de eventos periódicos ou que ocorrem em taxas supostas constantes, como a oscilações do quartzo, césio e rubdio, e a velocidade da luz. O tempo passou a ser o número de vezes que a duração de um evento é maior ou menor que a de outro evento. Apesar de redundância do método, a extrema precisão obtida nessas medições como grandeza fundamental do sistema internacional.
O tempo existe mesmo? – O século passado trouxe o tempo emanharamento quântico certos fenômenos microscópicos subvertem a ordem temporal. O mais conhecido é o experimento de Aspect, de 1982, com fótons que parecem interagir instantaneamente ligada as outras do universo, por isso o tempo físico pode ser apenas uma crença científica, como pensa Davies ao perguntar: “que realidade pode ser atribuída a um fenômeno que nunca pode ser demostrado experimentalmente?” Par ele o tempo não existe.
O tempo também pode ser virtual, segundo Deutsch, inspirado em jogos de computador. Assim, seria uma entidade definida pelo processamento do universo, e a realidade seria o produto desse processamento, sem existência objetiva. Neste caso , a taxa de variação do tempo virtual muda para os avatares (nós e todos os seres) conforme a velocidade do processamento, sem que isso seja percebido, pois estamos dentro da simulação.
A rigor, a ciência só tem hipóteses acerca do tempo, pois as experiências sensoriais são virtuais, mediadas pelo sistema nervoso, tanto quanto são virtuais para os avatares dos jogos de computador. O tempo também é uma entidade natural que possui características mentais, surgindo uma natureza psíquica. Enfim, o tempo pode ser sentido nos mitos e nos entes, mas ainda não foi compreendido pela ciência.
Referência:
Jornal Mundo Jovem. O tempo: um enigma para a Ciência. Porto Alegre, outubro de 2014.
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