Lages recebe nesta semana mais uma edição do Programa Alesc Itinerante
Fogo de chão ainda faz parte da vida de idosa anitense
Anita Garibaldi
O
velho fogo de chão é um costume que basicamente desapareceu com o tempo. A modernidade interferiu diretamente nesta tradição deixada pelos antepassados que viveram na região serrana. Com a chegada dos fogões à lenha e mais tarde dos fogões a gás, os alimentos deixaram de ser preparados nas panelas de ferro, que eram suspensos em cima das lavaredas na cozinha de chão.Mas algumas pessoas ainda conservam o estilo campeiro de viver. Lausina Melo dos Santos, moradora do interior do distrito da Lagoa da Estiva, é um exemplo dessa insistência. A idosa de 92 anos, vive rusticamente num pequeno casebre de madeira, mas diz, estar feliz com o modo de vida que leva. As paredes do lado interno da casa estão pretas, como se fossem pintados pela cor escura, mas na verdade é o vestígio de fumaça que vai se acumulando com o passar dos dias.
A vó Lausina, como é conhecida pela vizinhança, mora sozinha há vários anos. Sempre alegre ela recebe bem os visitantes, ao redor do fogo de chão, que durante todo o dia fica acesso, principalmente durante o período de inverno. Ela até tem um fogão à lenha, mas está desativado. O fogo de chão é a única forma que utilizada para cozinhar os alimentos que saboreia diariamente. "Vivo feliz assim, e além do mais a comida fica bem mais saborosa preparada no chão batido", afirmou a agricultora. Enquanto as panelas vão esquentando devagar os alimentos, o inseparável chimarrão e cigarro de palha acompanham o passar das horas.
Separada do marido há muitos anos e com os quatro filhos morando em outros lugares, a dona de casa, tem no cachorro, que costuma chamar de "bulica", a sua única companhia em todos os momentos. "Ele é o meu companheiro do dia-a-dia, temos uma grande amizade um pelo outro. Ficamos a maioria do tempo se esquentando ao lado do fogo e ele está sempre ao meu lado. Gosto muito do bulica", ressaltou a aposentada, que mesmo morando sozinha não se sente solitária.
Mesmo com a idade avançada, ela ainda, mantém uma lavourinha nos fundos da casa, onde colhe verduras e outros alimentos para ajudar no sustento.
As mãos calejadas, não escondem as dificuldades que teve para criar os filhos. "Meu marido sempre trabalhou fora. Ele vinha somente de vez em quando visitar a gente. Nunca morou conosco. Eu tinha que dar duro para não deixar meus filhos passar fome. Deixava eles com uma irmã e saía em busca de trabalho doméstico para manter a casa, mas graças a Deus, nunca deixei eles sem ter o que se alimentar", desabafou.
Muito católica, vó Lausina, mantém uma grutinha na frente da moradia, a qual, tem diversas imagens de santos. A maioria delas ganho dos parentes e vizinhos. No lugar, ela, faz as orações diárias, onde pede proteção e saúde, pois não quer morrer tão cedo. "Deus me livre, tenho muita coisa pela frente. Quero viver muito, pois me considero uma menina ainda", brinca a aposentada.
Deixe seu comentário