O tema da Campanha da Fraternidade, "Fraternidade e segurança pública", e o lema "A paz é fruto da justiça"(Is 32,7); A Igreja incentiva os discípulos de Jesus Cristo, e toda sociedade, a considerar a importância de valorizar a segurança pública em vista do bem-comum. Com isso, a Igreja não pretende um controle religioso da sociedade, mas motivar a reflexão da segurança pública a partir dos valores evangélicos. É uma missão autenticamente profética, em continuidade com a tradição bíblica.

O tema do profetismo, pregando a conversão social, perpassa toda a história do profetismo de Israel. Um exemplo disso tivemos na celebração do 3º Domingo do TC, quando o Profeta Jonas profetizava a destruição de Nínive, caso não se convertesse (Jn 3,1-5). Na 1ª leitura, o profeta Joel, ao constatar a situação socialmente precária da sociedade onde vivia, convida a cidade a converter-se, a abandonar a situação de pecado para assumir o projeto divino. Na celebração do último Domingo (7º Domingo do TC) considerávamos que pecados não são atitudes isoladas, mas um contexto vivencial que não corresponde ao projeto divino, que não corresponde à proposta do Reino de Deus, do Evangelho. A convocação de Joel para arrepender-se do pecado (1ª leitura), encontra resposta no salmista, que conduz a assembléia a interceder o perdão das faltas e a purificação do coração (salmo responsorial).

Refletir o tema da Campanha da Fraternidade 2009, a partir do lema, que considera a paz como fruto da justiça, é considerar aqueles valores do Reino que promovem a justiça, o bem-comum e a paz social. Um desses valores é ter em mente que o cristianismo vê a pessoa humana como "próximo", alguém que o discípulo do Evangelho respeita, especialmente quando necessitado, como ensina Jesus na parábola do Bom Samaritano (Lc 10,25-37). No momento que se desrespeita o "próximo", elimina-se a possibilidade de fazer-lhe o bem, de tratá-lo como irmão e de respeitá-lo em sua dignidade. O desrespeito pelo próximo é uma das principais causas de desestruturação da segurança pública com a promoção de injustiças, violências, medos e falta de paz.

Quaresma é tempo de conversão! O 3º Domingo do TC antecipava a importância de converter-se da prioridade do "ter" para a prioridade de relacionamentos humanos que sejam, de fato, humanizados e humanizadores, quer dizer, que respeitem o outro como "próximo". A 2ª leitura coloca o motivo para agirmos desse modo ao dizer que somos "embaixadores de Cristo". A função do embaixador, entre outras, é representar os interesses de seu país em terra estrangeira. Como "embaixadores de Cristo", nossa função é representar os interesses do Reino na sociedade, como a justiça e paz, a segurança pública, o bem-comum.

O favorecimento da justiça, da paz, da segurança pública, do bem-comum, na prática, acontece de dois modos. Num primeiro momento, incentivando o acolhimento do Evangelho, o empenho concreto em vista da transformação social, a partilha fraterna, a promoção do diálogo, a construção da cultura do amor e do perdão e, o testemunho de uma vida vivida na sobriedade.

Da vivência na sobriedade nasce o segundo modo prático de motivar a justiça e a paz na sociedade, através da normalidade da vida (Evangelho). Uma leitura atenta do Evangelho dessa celebração evidencia que Jesus não exige nada que esteja além da normalidade de uma vivência sóbria e simples. Ou seja, o empenho pela segurança pública, pelo bem-comum, por relacionamentos humanos que sejam humanizadores, o respeito pelo "próximo"... Tudo isso deverá ser feito na normalidade da vida e sem tocar a trombeta para fazer publicidade (Evangelho). Jesus ensina que a conversão tem início no coração que vai se tornando bondoso e respeitoso para com o próximo.

Um forte abraço a todos e boa quaresma e ótima preparação para a Santa Páscoa de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Pe. Ângelo M. da Cruz

Pároco de Anita Garibaldi