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Falta de Tempo

Antigamente as pessoas tinham mais tempo livre. Ou seja, tínhamos mais tempo para não fazer nada. Podíamos ficar deitados de papo pro ar pensando que estávamos fazendo, sozinhos com nossas idéias (tínhamos tempo até pra ter idéias!).

Antigamente as pessoas tinham mais tempo livre. Ou seja, tínhamos mais tempo para não fazer nada. Podíamos ficar deitados de papo pro ar pensando que estávamos fazendo, sozinhos com nossas idéias (tínhamos tempo até pra ter idéias!).

Hoje em dia não. Chegamos à Era da correria, da pressa e da urgência (e aparentemente atrasados, mas não me pergunte como). Não importa tudo o quanto fazemos, sempre há mais a fazer. E se você parar um instante – na rua ou na vida – te atropelam. Vivemos em um processo acumulativo: você acorda(sempre atrasado) e tudo o que pensava em fazer durante o dia é atropelado por todas as coisas novas que surgem para você fazer a cada instante do dia. Assim, tudo aquilo que você tinha planejado para hoje fica para amanhã, para a outra semana, para o próximo mês... E fica lá, num canto isolado da sua memória – passeando por ela de vez em quando.

Temos então, a impressão de que o tempo é menor ou passa mais rápido para nós do que para quem viveu há cinquenta anos, por exemplo. Aí pensamos: que injustiça! Justo para a nossa geração, que tem muito mais coisas a fazer do que eles! Mas infelizmente não é culpa do tempo, que é sempre o mesmo. É apenas uma impressão que sentimos por não ter tempo, para parar e pensar sobre ele. E há ainda o contraponto de que a nossa expectativa de vida é maior hoje do que era há cinquenta anos. Mas se enganam os que pensam que devemos esse índice as pesquisas científicas, aos novos medicamentos ou a (duvidável) melhor qualidade de vida. É devido a nossa conhecida falta de tempo, que faz com que quem tinha planejado morrer hoje só tenha tempo de morrer daqui a sessenta anos. Nem as crianças estão livres dessa sina. Isso mesmo. A infância, conhecida como a fase das brincadeiras, de não pensar na vida, de aproveitar cada momento do dia, transforma-se em uma miniatura de vida agitada. A correria da brincadeira de pega-pega é substituída pela correria para os cursos de inglês e informática. Nada mais é natural, tudo é planejado, sistemático e a longo prazo.

Eu fico pensando em como será o nosso último dia de vida. Quando não poderemos deixar o que iríamos fazer nesse dia para o próximo. Será que Deus aceitaria negociar um dia de reposição? Bem, eu acho que deveríamos pensar seriamente em criar o oitavo dia da semana. Para que possamos fazer nele tudo o que acordamos pensando em fazer nos demais e não fizemos. A nosso situação é crítica se pararmos para pensar, embora não tenhamos tempo para isso. Eu mesmo deveria ter escrito essa crônica aos quinze anos. E agora preciso parar porque tenho outra coisa para fazer.

 

Willian Mota Simonetto

wmsimonetto@hotmail com

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