A doença da internet
O vício em internet pode ser descrito como uma desordem patológica associada ao uso compulsivo e descontrolado das interfaces mediadas pelas tecnologias digitais. Ainda que não envolva o uso explícito de uma droga intoxicante, as razões dos usuários são similares das compulsões por jogos de azar. Alguns dependentes do uso abusivo da internet desenvolvem vínculos com os novos ambientes a ponto de transferirem integralmente seus espaços de convívio social às comunidades virtuais, substituindo quase que completamente os relacionamentos anteriores. Os sinais da síndrome se caracterizam por preocupações cada vez mais centradas na realidade virtual, transformando em poucos instantes o que deveria ser intervalo de horas. Assim, da mesma forma que a satisfação e a perspectiva de felicidade se condicionam ao acesso, a diminuição do uso da rede se transforma em irritabilidade, ansiedade, depressão e pânico.
O quadro deveria ser assustador. Não é simplesmente porque a maioria, de alguma forma, se identifica com ele. Em outras palavras, o primeiro passo em direção a uma possível solução ou controle racional dos impactos é, a exemplo de outras síndromes, a constatação realista do problema e seus desafios em todas as suas dimensões.
Há quem aponte que, atualmente, pelo menos 10% dos brasileiros poderiam ser classificados como dependentes digitais. Por enquanto, os tratamentos se baseiam em terapia, intervenção familiar e remédios, além da (des)exposição gradual às mídias digitais, buscando recuperar o autocontrole no uso.
Enquanto humanidade, temos, a partir do uso consciente e racional das tecnologias digitais, possibilidades ilimitadas desenvolvimentos econômico, social e ambiental sustentáveis. Tais recursos permitem atingir, pela escala impressionante que viabilizam, sociedades mais igualitárias em termos de oportunidades. No entanto, há que se debater de forma lúdica e transparente os cenários que se avizinham. No Brasil, por um conjunto de circunstâncias específicas, resultamos em um povo com forte apreço por novidades tecnológicas e com competência singular no uso positivo dos espaços virtuais.
Referência: MOTA, Ronaldo. A doença da internet. Diário Catarinense. Florianópolis, 16 de janeiro de 2017.
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