Se hoje a agricultura e a produção de energia elétrica fomentam a economia da maioria das cidades da Região dos Lagos, em meados do século passado a indústria madeira era a principal fonte de movimentação econômica.
Não é raro observar Araucárias em determinados pontos de toda a região, inclusive nos pontos centrais das maiores cidades. A árvore foi símbolo do progresso durante muitas décadas de exploração, mas hoje as pequenas matas remanescentes simbolizam apenas a lembrança das densas florestas, consumidas pelas madeireiras instaladas na região.
Na década de 50, a indústria madeireira já estava instalada no planalto catarinense, foi assim que Anita Garibaldi passou pelo maior processo de industrialização de sua história: o do ciclo da madeira.
Essa expansão industrial tinha como objetivo principal extrair madeiras nobres, principalmente a Araucária, e levá-la para outras cidades onde eram beneficiadas e serviam, entre outras coisas, para a exportação.
Não demorou muito para que a região começasse a receber pessoas em busca de trabalho na exploração das matas. Em conversa com um dos últimos homens que comandou uma madeireira no município na época da exploração da mata, o senhor Elias Rodrigues, ele nos conta que veio para Anita Garibaldi no ano de 1959, quando a cidade ainda era distrito de Lages, a fim de trabalhar como empregado numa das madeireiras da região, a Ouro Verde, que tinha sede em Canoas, no Rio Grande do Sul.
Na época, Anita contava com mais trinta serrarias, que trabalharam a todo vapor até meados da década de setenta, quando os pinhais começaram a ficar mais escassos. “Em 1976, quando abri a minha própria serraria, já tinha que serrar outros tipos de madeira, porque o pinheiro já tinha praticamente acabado”, explica Elias, o qual diz ainda que finalizou sua vida de trabalho com a madeira fazendo beneficiamento.
Enquanto a economia baseada na indústria madeireira ia enfraquecendo, um novo horizonte aos agricultores ia surgindo graças à própria extração da madeira, como pode-se perceber na fala do senhor Elias: “Como na época em que eu abri minha serraria já tinha pouco pinheiro, eu comprava madeira de folha (aquela que é retirada de outras árvores que não sejam pinheiros) das terras dos colonos que queriam limpar os terrenos para fazer lavoura”.
Elias foi um dos últimos donos de serraria em Anita Garibaldi que viu a extração da Araucária na cidade. Não só o desenvolvimento dos municípios deste lugar, que atualmente é chamado de Região dos Lagos, como também o seu surgimento esteve diretamente vinculado à indústria extrativista da madeira. Das grandes serrarias surgiram os primeiros povoados de trabalhadores, os primeiros comércios e até algumas das estradas que até hoje são de extrema importância.
Mesmo com a supervisão do extinto IBDF (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal), que cobrava das empresas fundos para reflorestamento, as matas nativas foram sumindo e a economia baseada no ciclo da madeira foi prejudicada. Com a escassez da Araucária, a indústria madeireira na região teve de se reinventar para sobreviver, com isso surgiu um novo modo de e trabalhar nas florestas, as quais já não eram mais nativas, mas plantadas, principalmente, com o Pinus Americano.
Renovação
O plantio de florestas ajuda a preservar a vida das indústrias madeireiras atuais
Há muitas décadas as madeireiras já investem no reflorestamento com mudas não nativas do Planalto Catarinense.
Uma das primeiras empresas a trabalhar com o reflorestamento na Região dos Lagos foi a Novosul. A empresa instalou-se na região no final da década de 50, ainda no auge do processo industrial extrativista, e aos poucos passou a recuperar áreas degradadas, conservando as florestas naturais.
Uma prova de que a indústria madeireira continua crescendo na região pode ser observada com empresa Boa Esperança Indústria Comércio e Exportação de Madeiras, de Capão Alto, a qual iniciou seus trabalhos há vinte anos com apenas cinco funcionários e hoje conta com uma equipe de 93 pessoas, produzindo em média 2.400 metros cúbicos³ de madeira serrada por mês.
Porém, não se pode falar em reflorestamento sem citar o nome da maior empresa deste ramo na região: a Florestal Gateados, de Campo Belo do Sul, que atua desde 1981 em atividades florestais. De acordo com informações disponibilizadas pela empresa em seu site, atualmente, uma média de 25.000 toneladas de toras por mês, oriundas de florestas plantadas com Pinus, Eucaliptus e Araucária angustifólia são produzidas e comercializadas, gerando 250 empregos diretos e seiscentos indiretos.
Documentos da Rede de Viação Paraná Santa Catarina, que já serviram como base para muitos estudos relacionados às madeireiras, mostram que logo no início da extração das Araucárias havia por volta de 381 serrarias catarinenses cadastradas à Rede. Hoje em dia, de acordo com o último levantamento feito pelo SEBRAE catarinense, o valor adicionado fiscal da indústria de desdobramento de madeira em Anita Garibaldi chegou a R$ 816.566, quase o dobro da pesquisa anterior realizada em 2006, dados que mostram que a contribuição do setor aumentou consideravelmente.
“Uma das dificuldades enfrentadas pelas madeireiras na época era levar a madeira para outras cidades, já que as condições das estradas eram muito ruins. As próprias serrarias, muitas vezes, cuidavam da manutenção das estradas, ajudando diretamente no desenvolvimento da região”.
Elias Rodrigues, empresário da indústria madeireira
A evolução das madeireiras na Região dos Lagos
Década de 60
Indústrias madeireiras já estavam instaladas em Anita Garibaldi e começam um processo de crescimento econômico e populacional no município.
As Araucárias tornam-se as principais árvores procuradas pelas serrarias. Na foto pode-se observar a extração de madeira na localidade Rincão da Gralha.
Década de 70
A Araucária já estava escassa na região, após praticamente trinta anos de exploração, com isso as serrarias que iam surgindo, como a do senhor Elias Rodrigues, optavam pela extração da “madeira de folha”.
Década de 80
As empresas de reflorestamento começam a se destacar como uma opção à preservação da mata nativa e à manutenção da indústria madeireira.
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