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COMO SEREMOS AMANHÃ?

Por mais modernos, avançados, biônicos, quânticos, incríveis que sejamos, não poderemos nos livrar das nossas emoções humanas.

Por mais modernos, avançados, biônicos, quânticos, incríveis que sejamos, não poderemos nos livrar das nossas emoções humanas.

Estar aberto às novidades é estar vivo. Fechar-se a elas é estar morrendo vivo. Um certo equilíbrio entre as duas atitudes ajuda a nem ser antiquado demais nem ser um superavançadinho.

Sempre me fascinaram as mudanças – às vezes avanços, às vezes retorno à caverna. Hoje andam incrivelmente rápidas, atingindo nossos usos e costumes, ciência e tecnologia, com reflexos nas mais sofisticadas e nas menores coisas com que lidamos. Nossa visão de mundo se transforma, mas penso que não ao mesmo ritmo; então de vez em quando nos pegamos dizendo, como nossas mães ou avós tanto tempo atrás: "Nossa! Como tudo mudou!".

Nos usos e costumes a coisa é séria e nos afeta a todos: crianças muito precocemente sexualizadas pela moda, pela televisão, muitas vezes por mães alienadas, por teorias abstrusas e mal aplicadas. Se antes namorar era difícil, o primeiro batom rosa-claro aos 15 anos, e não havia pílula anticoncepcional, hoje talvez amar seja descomplicado demais. O singular é que, com tanta informação disponível na internet, e pseudoaulas de vida sexual em algumas escolas, tantas meninas engravidem ou como os meninos, peguem doenças venéreas. Casamentos (isto é, uniões ditas estáveis, morar junto) podem ser atropelados pela incapacidade de fortalecer laços, construir juntos com alguma paciência. Não sou de sermos infelizes juntos pelo resto da vida, mas de tentarmos um pouco mais. Talvez a gente esteja num junta-separa meio rápido, frequentemente deixando filhinhos, que nem pediram para nascer, nem certamente queriam separar de nada nem de ninguém. São simplesmente levados de um lado para outro.

Na educação, cansei de falar. Cada dia uma nova notícia: não se reprova mais ninguém antes de tal série, os alunos entram na universidade sem saber escrever, coordenar pensamento, ler e entender. Não todos. Não sempre, mas cada vez com mais frequência.

Quem sabe nos mataremos menos, se as drogas forem controladas e a miséria extinta. Não creio em igualdade, mas em dignidade para todos. Talvez haja menos guerras, porque de alguma forma seremos menos violentos.

Leremos unicamente livros eletrônicos ou algo ainda mais moderno. As vastas bibliotecas de papel serão museus, guardando o cheiro da minha infância, quando – se eu aborrecia minha mãe com mil perguntas – meu pai me sentava numa de suas poltronas de couro e botava no meu colo alguma enciclopédia com figuras de flores, frutas, bichos, protegidas por papel de seda amarelado. Inesquecível, e delicioso quando chovia.

As crianças terão outras memórias, outras brincadeiras, outras alegrias; os adultos, novas sensações e possibilidades – mas as emoções humanas, estas eu penso que vão demorar a mudar. Todos vão continuar querendo mais ou menos o mesmo: afeto, presença, sentido para a vida, alegria. Desta, por mais modernos, avanços, biônicos, quânticos, incríveis, não podemos esquecer. Ou não valerá a pena nem um só ano a mais. Seremos uns Robôs cinzentos e sem graça. Tudo depende de nós!

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