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E o bolsa-livro?

 Falta ao livro um rosto popular e um preço que caiba na parca algibeira do freguês. Eis um produto ainda mais caro para a bolsa do povo: o livro ainda é percebido como um bem supérfluo, quando na verdade, é um “ativo” essencial na formação do ser humano.

Por que não aliviar o livro e as editoras da carga tributária proibitiva que ainda incide sobre esse “professor de papel”? Se o Estado brasileiro renuncia a receitas fiscais das montadoras de veículos, por não renunciar aos excessos cobrados das “montadoras de cultura”?
Difícil é convencer a garotada adosar melhor a obsessiva atração cibernética do computador, ou de sua majestade, joguinho eletrônico. Mas não custa nada insistir. Desafiar um jovem a dividir a internet com um livro. Essa boa mistura está destinada a construir a base educacional do século 21.
Na era da interação tevê-informática, ler um livro pode parecer um passatempo antediluviano. Mas não. Ler é bom, é gostoso, mas crianças e adolescentes precisam ser catequizados para essa “novidade”. Um desafio e tanto, posto que a tendência geral é acreditar-se que ler é chato. Inverdade cruel, que costuma se valer da simplificação do “não li e não gostei”. 
Ler é um belo exercício de informação e de imaginação. Não deixa de ser uma forma diferente do leitor ligar a televisão que existe dentro do seu cérebro. Uma tevê colorida e cuja programação nunca se repete, pois o canal da imaginação é de uma novidade infinita.
Atrair um jovem para a leitura é um exercício de paciência. E de sagacidade. O primeiro passo é atrair esse novo freguês para textos curtos e interessantes. Usar como chamariz o texto bem-humorado da crônica, que é uma literatura sem gravata. Ou até um capítulo de ação num clássico como Crime e Castigo. Há períodos em que Dostoievski parece perseguir um roteiro de novela de suspense – logo no começo, quando o estudante Raskolnikfokmata AlenaIvanovna, a velha usuária. 
Quem se animaria a atualizar suas leituras num dia de sol e céu azul.
É muito difícil, bem sei. Mas cedo ou tarde, a juventude do mudo cyber descobrirá o significado daquela profecia de sir Francis Bacon, o filósofo inglês, para quem “informação é poder”. Logo, por silogismo, “ler é poder”.
“Não podemos ouvir, falar e ver tudo”. (Anônimo).
 
RAMOS, Sérgio da Costa. E o Bolsa-Livro? Diário Catarinense. Florianópolis, 24 de novembro de 2012.
 
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