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É proibido envelhecer

 

Dona Mariquita foi uma das minhas melhores amigas da infância. Na época, ela desfilava com 86 anos de pura sabedoria. Morava em Brasília, cidade onde fiquei por meses fazendo a reabilitação daquilo que a paralisia infantil deixou sobrar no corpo.

Tive muitas amizades com pessoas mais velhas ao longo da vida. Aprendi com elas um bocado de novas palavras e expressões, a jogar xadrez a exercitar a paciência – lição que ainda reprovo, admito-, a curtir o silêncio.

Com dona Mariquita, tomei gosto por escrever cartas e, sobretudo, por firmar o pensamento que toda aquela reforma que eu padecia no hospital Sarah era para ter um fim melhor, menos torto, mais confortável. Ela me passava uma segurança de que daria "tudo certo no final".

Atualmente, parece que estão proibindo as pessoas de envelhecer, de se manifestar como velhos. Sem falar que pouco se pensa e faz para um mundo com condições adequadas àqueles de "idade avançada", seja lá o que for.

Os idosos de hoje têm de dar selinho, têm de fazer maratona, tem de saber "mexer" no computador e estar sempre disposto, com "visage" jovial. Ser velho é coisa do passado. Tem que agitar.

Por esses dias, minha mãe mesma, foi criada com o pé no barro, longe das modernidades e dos recursos que transformam qualquer pelanca em bumbum de neném, reclamava da pele muxibenta, da falta de equilíbrio, da chateação por estar perto dos 70.

A ciência ajudou, a realidade social mudou e, de fato, parece que o tempo está passando mais devagarinho. Há uma série de pilulinhas mágicas que podem recompor a boa saúde da "figura" e o dominó deixou de ser a única opção de lazer do povo mais vivido.

Acontece, porém, que a velhice existe, os limites biológicos existem. Por mais que se passe reboco, massa corrida na cara, o tempo traz a nova fase da vida, que pode, evidentemente ser bem aproveitada, ter suas peculiaridades, seu charme. O que não dá para negar é que ser velho pode significar ter mais fragilidade física e, com isso, maior necessidade de sensibilidade a seu redor.

Fiquei comovido com os resgates dos idosos no Japão. Um trabalho lascado e dedicado para dar aos mais vulneráveis, pelo menos na aparência, a chance de continuar vivendo, ensinando, cuidando dos netos, plantando horta, sendo executivo em empresas, ajudando a cuidar da família ou jogando conversa fora, por que não?

Acontece, porém, que a velhice existe e o tempo traz a nova fase da vida, que pode ser bem aproveitada.

Por mais sarado, penteado e caramelado que seja o idoso, não dá para carregá-lo como um saco de batatas. É preciso pensar em cuidados diferentes, em condições diferentes de acesso, de prioridade, de serviços, de atenção. Aqui pelo Brasil, por enquanto, o "esquecimento" desses detalhes é flagrante. Querem mesmo é proibir o envelhecer.

 

 

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