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ENTREVISTA Simone Sobiecziak

Uma vida alicerçada no esforço e dedicação nos estudos

  A anitense Simone Sobiecziak, 27 anos, de origem simples, foi planejando seus sonhos e conquistando horizontes através dos estudos. Graduada em Matemática pela Universidade do Planalto Catarinense (UNIPLAC) e em Física pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), é pós-graduada em metodologias interdisciplinares em Matemática, Física e Química pela CENSUPEG e atualmente se prepara para começar o mestrado. O Correio dos Lagos conversou com a jovem, que nos contou sobre os desafios e as vitórias de sua caminhada, bem como das perspectivas para o futuro.

 
Correio dos Lagos - Por que a escolha pela área das ciências exatas?
Simone Sobiecziak - Quando estava na quinta série, na Escola Padre Antônio Vieira, tinha uma professora de Matemática, a professora Bernadete, da qual gostava muito. Foi naquele ano que decidi ser professora de Matemática. Porque a maneira como ela dava aula me encantava, ela cativava os alunos. Eu sempre soube que queria ser professora, mas não tinha decidido professora de quê. Então a partir dali decidi que seria de Matemática. Na faculdade também tive professores nos quais me espelhei. O professor Valdeci José Costa foi meu orientador e conselheiro, um professor muito conhecido na UNIPLAC por seu caráter e disciplina, o qual para mim é um grande amigo e inspiração, sempre me ajudou quando precisei tomar decisões difíceis. Isso é bem importante, o aluno confiar em seu professor e pedir conselhos, ter inspiração e admiração.
Correio dos Lagos - Matemática foi a sua primeira graduação. Como foi ingressar neste curso superior? 
Simone - Entrei na faculdade aos 17 anos, em 2004.  Mas, não foi bem fácil. Passei pelo antigo SAEM, que hoje é o ENEM. Porém, foi para uma universidade de Tubarão. Foi então que me chamaram para a UNIPLAC, mas não pelo SAEM. A mãe recebeu o telegrama e não me contou, porque não tínhamos como pagar. Demorou umas semanas até ela me contar. Comecei a pesquisar se teria alguma forma de conseguir alguma ajuda de custo, fiquei sabendo que a universidade tinha algumas modalidades de bolsa e por isso decidimos que íamos tentar. Consegui 40% de bolsa na faculdade inteira pela modalidade do artigo 170.
Correio dos Lagos - A faculdade lhe exigiu além do esforço que imaginava ser necessário para ter um bom desempenho?
Simone - O início como todos os começos foi complicado e difícil, até me adaptar, me encontrar no curso e fazer amizades. Sempre gostei de estudar, isso me ajudou muito. Dediquei muitas noites de sextas e sábados para os estudos, pois sempre trabalhei o dia todo e à noite frequentava a faculdade, então o tempo que tinha para estudar era da meia noite às seis da manhã, que era o horário que o ônibus chegava, ou nos finais de semana. Deixei de sair para me divertir várias e várias vezes. Nunca peguei recuperação final na escola e nem prova final na faculdade. Não admitia para eu mesma, que não conseguiria uma nota boa por falta de estudo, ou por ter deixado de fazer a minha parte, então sacrifiquei muitos momentos de lazer para um bom desempenho na faculdade. Os anos em que estudei na UNIPLAC foram de bastante batalha. É bom mostrar isso para as pessoas, porque vendo alguém que está bem no momento, alguns podem pensar que a pessoa simplesmente tem sorte. Mas, para mim não foi simplesmente sorte, foi dedicação, abdicação e esforço.
Correio dos Lagos - Os universitários de Anita Garibaldi, que estudam em Lages, enfrentam viagem durante os dias letivos. Você também teve esta rotina. Como analisa esta atividade no processo acadêmico?
Simone - Tive sorte, porque no primeiro ano que começou a ir o ônibus universitário de Anita para Lages, foi o ano em que iniciei a faculdade. Porque se fosse para morar em Lages eu não teria feito o curso. Por isso é importante mostrar às autoridades a extensão de um simples apoio aos universitários, os quais dependem do ônibus para estudar em Lages.
Correio dos Lagos - Quais foram suas primeiras experiências como professora?
Simone - A partir de 2006 comecei a lecionar em Cerro Negro. Trabalhava com aulas de Química e Física, porque não tinha vaga de Matemática. Dei aulaS até de Inglês na escola. Trabalhei nas Escolas Estaduais Isidoro Silva (a minha escola do coração) e Padre Antonio Vieira e, a mais recente foi no Colégio Bom Jesus Diocesano de Lages em paralelo às aulas que lecionei na UNIPLAC.
Correio dos Lagos - Depois da pós-graduação você optou por fazer outra faculdade. O que te levou a investir em conhecimento no ramo da Física?
Simone - Fiz o vestibular da UFSC, pois tinha aberto vaga para Física em Lages, na modalidade semipresencial. Passei no vestibular e iniciei o curso em 2009, meio que por impulso. Eu gostava de Física, mas não imaginei que seria tão difícil como foi.  Tínhamos aula todos os finais de semana, alguns nós íamos até Florianópolis para ter aulas, outras vezes os professores vinham até Lages. Iniciamos com 60 alunos em nossa turma de Lages e nos formamos em três. Essa faculdade foi extremamente difícil, tive que me dedicar muito mais do que me dediquei para a de Matemática. Todos os finais de semana, por cinco anos, foram comprometidos com o curso. Perdi inúmeros aniversários de família, casamentos, formaturas... nunca podia ir em nada. Na formatura de Física da federal eles dão uma medalha e um certificado para o melhor aluno do curso, e eu fui premiada.
Correio dos Lagos - Em 2010 você iniciou na área universitária, mas agora como professora. Como foi o processo para chegar à educadora na UNIPLAC?
Simone - Estavam precisando de professor de Análise Matemática em uma turma da UNIPLAC, e como eu tinha sido boa aluna me ligaram. Aqui ressalto a importância de se dedicar aos estudos. Dei dois créditos em 2010/2, continuei em Anita, trabalhando no estado e fazendo faculdade de Física. Iniciei em 2011 na Escola Padre Antonio, com 40 horas, fui nas reuniões de início de ano e me ligaram da UNIPLAC, novamente, para me oferecer mais aulas, e em uma quantidade enorme, que eu teria que me mudar para Lages para dar conta de tudo. E assim o fiz. Larguei tudo em Anita, e em quatro dias achei casa e me mudei pra Lages. Fiz prova e me efetivei no curso de Engenharia Elétrica.
Correio dos Lagos - Agora você se prepara para ingressar no mestrado. Logo, uma etapa foi vencida, que foi a elaboração do projeto para começar o mestrado. Mais um mérito de dedicação?
Simone - No último semestre de faculdade já estava pensando em fazer mestrado pela federal. Entrei em contato com o pessoal da linha de pesquisa de Epistemologia e História da Ciência e da Matemática na linha de Ensino em Física. Não é Física pura e aplicada, significa que não irei ficar fazendo contas no mestrado e sim pesquisando sobre maneiras de ensinar melhor á Física. Pois de 22 anos em que estudei no ensino fundamental, médio e superior percebi que os alunos não gostam de Física, porque não foram ensinados de maneira correta. Comecei junto com o último semestre da faculdade a fazer o projeto para o mestrado. Na linha de pesquisa que eu escolhi precisava na inscrição ter o projeto de pesquisa pronto. Escolhi pesquisar sobre Albert Einstein e as mudanças que ele teve filosoficamente no decorrer de sua vida e o que essas mudanças interferiram nas suas descobertas físicas. Então fiz o processo com a ajuda de algumas pessoas e passei em primeiro lugar.
Correio dos Lagos - O que mudou na sua vida desde que recebeu a confirmação do mestrado?
Simone - Agora estou me mudando para Florianópolis. Pedi exoneração do Estado da minha vaga de efetiva, pedi a conta no Colégio Bom Jesus e pedi licença da UNIPLAC. Vou me dedicar exclusivamente ao mestrado.
Correio dos Lagos - Qual o seu objetivo como educadora? 
Simone - Hoje, como professora, tento ser inspiradora para meus alunos, assim como fui inspirada. Fazer com que eles se encontrem no mundo dos números.
Correio dos Lagos - Estudar é seu hobby ou você define como uma obrigação?
Simone - Durante toda minha vida escolar eu sempre fui estudiosa, fazia até competição com algumas colegas de classe para ver quem tirava as notas maiores. Claro, que em alguns momentos eu passei por fases de adolescente e perdi um pouco o foco, mas a minha mãe nunca desistiu de mim e sempre me incentivou e isso me ajudou muito, nos momentos em que eu perdia o foco nos estudos durante o ensino médio.
Correio dos Lagos - Descreva a importância da família na sua trajetória de estudos.
Simone - Tenho muitas pessoas para agradecer por tudo que tem acontecido em minha vida. Foi graças ao apoio, incentivo e orações da minha mãe, Maria Gorete, que entrei pra faculdade, ela é meu anjo, que sempre me ergue e reergue quando penso em desistir. Minha família sempre me apoiou, assim como meus tios e primos. Meu namorado sempre está do meu lado, me incentivando. O meu irmão que admiro. Sei que os meus sonhos são também os sonhos deles, isso também me motiva.
Correio dos Lagos - Quais suas projeções para o futuro. Doutorado?
Simone - Vou seguir meus sonhos de um dia ser doutora, prosseguindo a mesma área de pesquisa do mestrado. Meu objetivo com isso é trabalhar em uma universidade pública, pois de todas as experiências profissionais que tive, o trabalho de professor na universidade é o mais gratificante, além de que o salário é melhor. Quero ressaltar que por mais estudiosa que eu tenha sido, jamais imaginei uma coisa dessas na minha vida. Mas sei que tudo veio no tempo certo e estou colhendo os anos de esforço e dedicação.
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