Vamos falar de poesia?

Os dicionários definem poesia como a "arte de compor ou escrever versos". Todavia, a poesia extrapola esse conceito e se molda a partir dos sentimentos e do olhar do leitor e do escritor. Acredito que a arte de "brincar" com as palavras em versos e estrofes nos aproxima de uma dimensão na qual a liberdade, a criatividade e a imaginação circulam sem limites. Seja como leitores ou como autores, somos afetados e instigados pela magia do universo poético.

No dia a dia, a poesia está presente em quase tudo: na natureza, nas pessoas, nos sons, nos objetos, nas emoções... O poeta é aquele que consegue retratar em forma de palavras essa manifestação de beleza e estética que enfeita a vida permanentemente.

O professor, compositor, escritor e poeta água-docense Vagner Antonio Hartcopf expõe de maneira brilhante sua visão sobre a poesia: "Acredito que a poesia dá sentido às cores, aos sabores, aromas, sons, formas, enfim, a tudo o que existe. A poesia harmoniza tudo como se ela fosse o maestro de uma grande orquestra. Olhar o mundo com um olhar poético não é um privilégio somente dos poetas. Quando uma criança faz carinho no seu cachorrinho de estimação, por exemplo, está acontecendo uma manifestação da poesia. Uma pessoa admirando a beleza de uma paisagem é também manifestação da poesia. Um gesto de gratidão, de amor, de compaixão, tudo isso é a mais pura poesia. Poesia é sentimento, seja ele triste ou alegre. O poeta talvez seja aquele que consegue perceber esse universo infinito que é a poesia. Por isso a poesia nunca se esgotará e os poetas sempre existirão mesmo não escrevendo nada. Ser poeta e escritor é pelo menos tentar escrever esse universo e aí surge a arte de compor. O poeta se abastece da poesia na Divina arte de criar. A poesia necessita da criação para se manifestar".

É assim. Simples e belo!

Em tempos de isolamento social e carência de afeto e ternura, o mundo e a nossa vida precisam de mais poesia!

Poema escrito pelo poeta Vagner Antonio Hartcopf, natural de Água Doce - SC, que traz uma reflexão sobre o período delicado pelo qual estamos passando:

UM VÍRUS VEIO DE LONGE

Um vírus veio de longe

Parece ter pego carona

E nos fez ficar em casa

Um tal de vírus Corona.

Da China pra muito além

Foi ultrapassando fronteiras

Clandestinamente, sorrateiro

Foi ditando a sua maneira.

Um inimigo invisível

Parasita que pegou carona

Um ser pequeno, ínfimo

Um tal de vírus Corona.

As ruas tão vazias!

O que não vi jamais

Escolas tão vazias!

Corroborando meus ais...

Datas proteladas

Regras estabelecidas

Estado de alerta

E mudam-se as vidas.

Diante desse ser ínfimo

Isolamento, quarentena

Que vai além dos quarenta

E o mundo se apequena.

Contaminação, máscaras,

Coronavírus, pandemia

Álcool em gel, hospitais

Ouve-se o que não se ouvia.

Respiradores, pico da doença,

Medo, limites, restrições

Grupo de risco, sintomas

Dezenas e milhares de caixões.

UTIs, hospitais, leitos

Ficar em casa, isolamento

E cada qual vai vivendo

E vê se alongar o momento.

Mascaram-se os rostos

Álcool em gel para as mãos

Higiene, higiene, higiene

E o que passa pelos corações?

Estaria Mario Quintana feliz?

Pois dizia morar em si mesmo

Como sempre foi e sempre quis?

Parece que o mundo desacelerou

Disseram que a gasolina baixou

Até parece que o mundo cansou.

De tanto o mundo girar

Parece que pediu pra descansar...

E eu aqui a encontrar versos

Livre pela poesia, a voar

Livre nesse imenso universo!

E o mundo que é tão grande

O mundo que gira e muda

Cheio de tanta gente

E toda essa gente muda?

E essa gente isolada

Encontra o quê?

Toda essa gente em casa?

Essa gente muda?

Por que muda?

E como muda?

E quando muda?

E quanto muda?

Quanta gente pra mudar!

Quanta coisa pra mudar nas gentes!

VAGNER ANTONIO HARTCOPF