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Propaganda: arte ou artimanha?

 Ao meditar sobre esse título, vem-me logo à mente um provérbio latino muito sábio: “A corrupção de algo ótimo, é péssima”. E é verdade. Nada mais lindo e fantástico que  a arte. E nada mais detestável e odioso que a artimanha. E essas duas coisas nós vamos encontrá-las nesse fenômeno tão comum e tão atual que é a propaganda.

A arte – Não há coisa mais sublime e admirável que a arte. Ela realça as dimensões do ser humano: a criatividade, isto é, tudo aquilo que os seres humanos têm de mais extraordinário  e único: inventar, criar, fazer nascer algo que não existia, é algo quase divino; e o sentido do belo, o estético, o prazer, contemplar as coisas.
A arte penetra por todos os sentidos e nos leva, chegamos quase ao êxtase. Se você refletir um pouco vai se dar conta do encantador da arte. Ela alimenta nosso espírito, faz-nos sentir como é bom viver, como é bom dançar, cantar, deixar nossos sentidos voar. 
As artimanhas – Veja agora o paradoxo: artimanhas também usam a criatividade, a invenção, o belo, mas para quê? Para enganar, ludibriar, seduzir, esconder, dominar as pessoas. E é aqui que se coloca a importância de discernirmos entre esses dois propósitos. 
Alguns dizem que sempre que algo belo é criado, automaticamente isso é  bom. Mas não é raro constatar como muitos usam seus dons e talentos para prejudicar as pessoas. 
É exatamente aqui que reside a questão da propaganda: pelo fato de ela estar ligada ao belo e ao estético, de tomar conta de todos os nossos sentidos, ela pode facilmente nos conduzir a situações que prejudiquem a nós e aos outros.
Como distinguir – A arte e a artimanha andam bem próximas. Fazem uso dos mesmos mecanismos. Uma chave para análise: a consciência. A consciência é a capacidade que o ser humano possui de fazer as perguntas: quem sou eu? O que é o que me rodeia? Onde me levam as ações que pratico? E a consciência será as respostas que ele consegue a essas perguntas.
A consciência não é algum dispositivo em meu cérebro. Não. Ela é um processo infinito de busca de respostas. Quanto mais respostas, mais consciência. Só o ser humano é capaz disso: re-fletir, dobrar-se sobre si mesmo e fazer a pergunta. E agora o ponto mais fantástico: é essa consciência que me leva à liberdade. Só é livre quem é consciente.
Uma propaganda se transforma em artimanha quando procura negar ou diminuir a consciência. Os mecanismos que ela usa são em geral inconscientes ou semiconscientes. Por exemplo: a imitação – levar as pessoas a agir, comprar algo, para se parecerem com tal ator ou estrela. A sugestão e persuasão: ir repetindo de maneira quase hipnótica, isto é, não deixando você refletir... e você acaba aceitando ou comprando. A repetição: um tipo de pressão contínua sobre alguém até que ele, para se ver livre, acaba fazendo o que pedem. E assim por diante.
Concluindo: nada contra o uso do belo, da criatividade, isto é, da arte. Mas junto deve-se perguntar: isso vai ajudar as pessoas? Vai fazê-las mais felizes, ajudá-las a crescer, a serem livres, conscientes, a amar? Se sim, é arte. Se não, é artimanha.
 
Referência:
GUARESCHI, A. Pedrinho. Jornal Mundo Jovem. Propaganda: arte ou artimanha? Porto Alegre, junho de 2012.
 
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