Intensificados os preparativos para a Cavalgada da Região dos Lagos
Religião Líquida
O sociólogo polonês Zigmunt Buman usa o adjetivo "líquido" para qualificar diversas realidades: o amor, o medo, a vida, a arte, a modernidade. A liquidez, no sentido da dissolução ou fluidez, é uma característica dos termos de hoje. Também a religião se apropria do qualificativo. Muita gente aprecia a religião no que ela tem de valores, propostas de sentido, horizontes explicativos da vida e da morte. Mas não admite enquadrar-se em suas instituições e exigências de pertença e fidelidade. Há tempos, muitos se identificam como "católico não praticante". Parece crescer, agora, o número dos que se dizem evangélicos, mas sem identificação com uma denominação. Transita-se de uma a outra igreja, busca-se experiências místicas aqui e acolá. Uma liquidez ou diluição que se explica pelo individualismo reinante. O problema surge com os perigosos extremos: o fundamentalismo fanático, que enrijece posições, e o relativismo medíocre, que nivela por baixo. A antropologia cristã vê o ser humano como alguém sempre relacional: idêntico a si na abertura aos outros. Entre os extremos, situa-se a posição crítica de abertura e diálogo. Explicando-se pelos verbos re-ligar, re-ler ou re-eleger, a religião tem um peso, sim, na solidez, na estabilidade. Não se consegue viver sempre como uma taquara agitada pelo vento. Mas os ventos são importantes para fortalecer a raiz e tronco da árvore. Uma identidade religiosa faz-se necessária, para não capitular diante do diferente que surge a todo instante. É preciso lucidez para conjugar a reestruturação de valores, imagens, comportamentos, sem abrir mão da própria originalidade e singularidade. A identidade religiosa reestrutura-se processual e historicamente. Mantém-se a dialética da conservação da própria identidade com as modificações exigidas pelo processo e pelas novas situações históricas.
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