Intensificados os preparativos para a Cavalgada da Região dos Lagos
Suicídio, um tema a ser abordado durante todo o ano
Por muitos anos o tema suicídio foi considerado um tabu, procurava-se não falar sobre o assunto e divulgar na imprensa os casos de suicídio, acreditando-se que abordando o tema, estaria incentivando outras pessoas aa cometer o mesmo ato.
Porém de uns anos para cá, o Setembro amarelo foi ganhando força e as ações em volta do tema, sensibilizando muitas pessoas que passam por algum tipo de problema.
Para abordar um pouco mais sobre o assunto, o Correio dos Lagos conversou com a psicóloga anitense Ema Maria Zanchetta que está atuando em Anita Garibaldi alguns meses com atendimento de crianças, adolescentes, adultos e idosos.
Segundo dados apontados pela psicóloga que tem especializações em Psicologia Organizacional e do Trabalho e Psicologia Educacional, dados da OMS, estima-se que anualmente mais 700 mil pessoas morrem por suicídio no mundo. Entre 2010 e 2019, as mortes por suicídio aumentaram em 43% no Brasil. Passando de 9.454 em 2010 para 13.523 em 2019.
Correio dos Lagos - Qual a importância de se falar sobre suicídio?
Ema Maria Zanchetta - Acredito que é de suma importância falarmos sobre este tema, pois nos deparamos com milhões de pessoas no Brasil e no mundo que ceifaram suas vidas, trazendo grande sofrimento para familiares, amigos e a sociedade em geral. E que através das campanhas de prevenção o tema se elucida, o que permite salvarmos vidas e ajudar nesse processo de grande sofrimento mental, pois temos o conhecimento que mais de 97% das causas que levam o indivíduo a tentar ou cometer o suicído, correspondem a problemas mentais ou a transtornos psiquiátricos. Pois através dessas campanhas de conscientização, possibilitamos ao indivíduo e seus familiares não se sentirem sós, mas a buscarem apoio de profissionais como psicólogos e psiquiátricos que irão ajudar sem julgamentos.
Correio dos Lagos - Tempos atrás, principalmente nas escolas e até mesmo nos meios de comunicação, falar sobre suicídio era um tabu, dizia que incentivava outras pessoas a cometer o mesmo ato, como você avalia isso?
Ema - Infelizmente ainda encontramos dificuldades em abordar esse assunto, muitas das vezes por ser desconhecido, por preconceito, por medo, incomodo e até atitudes condenatórias. Mas através das campanhas obtivemos maior espaço e frequência para mudar esses pensamentos equivocados em relação ao tema e até mesmo sobre doenças como a depressão. Nas escolas esta percepção também está mudando, pois, o suicídio constitui-se, atualmente, em um problema de saúde pública mundial, pois está, em muitos países, entre as três principais causas de morte entre indivíduos de 15 a 44 anos e é a segunda principal causa de morte entre indivíduos de 10 a 24 anos. Deixando claro a relevância do tema para a vida de todos.
Correio dos Lagos - Quais os principais fatores que levam uma pessoa a pensar em suicido?
Ema - Quando se trata de suicídio sabemos que as causas são muito complexas, e que podem envolver fatores emocionais, psiquiátricos e socioculturais. Assim como crises financeiras, uso abusivo de alcool e drogas, doencas graves, isolamento social, crises familiares e transtornos mentais, tal como depressão, ansiedade e esquizofrenia, etc. Estes são alguns exemplos, mas o que realmente leva ao ato em si, é o grande sofrimento vivenciado pela pessoa. Podemos ousar dizer que ela não quer cometê-lo, mas sim acabar com o seu sofrimento.
Correio dos Lagos - Qual a sua opinião em dedicar o mês de setembro a preservação da vida?
Ema - É muito importante pois, salva vidas!
A realização dessa campanha de conscientização e prevenção principalmente nos meios de comunicação, nas empresas, projetos sociais e nas escolas, tem por objetivo nos ajudar a desmistificar o problema como sendo individual, e ajudando a esclarecer as crenças e tabus existentes, e assim demostramos que estamos todos juntos pela vida, ninguém está sozinho.
A cor amarelo da campanha é uma homenagem a um adolescente Norte Americano de 17 anos chamado Mike Emme, que se suicidou dentro do seu carro, um Mustang amarelo, que ele havia reformado. Seus pais e amigos abalados com sua morte levaram ao seu funeral fitas amarelas com os dizeres "Se precisar, peça ajuda" e foi assim que muitas pessoas tomaram a iniciativa de pedir ajuda.
Por isso acredito que temos o dever de abordar esse assunto não só em setembro, mas o ano inteiro.
Correio dos Lagos - Nas escolas, projetos e na comunidade, como o tema pode ser abordado?
Ema - Sabemos que falar sobre suicído, muitas vezes não é fácil. E cada profissional tem seu modo de abordar. Eu acredito que podemos começar falando da forma de prevenção e da importância da vida de cada indivíduo e suas singularidades. Inserindo temas como a fase da vida que essa criança, adolescente, adultos e idosos estão vivenciando e suas transformações físicas e cognitivas.
E assim iremos expondo novas ideias, quebrando paradigmas, dialogando sobre como proteger nossa saúde mental. Através das nossas percepções, emoções e qualidade de vida. Gosto de evidenciar o quanto é fundamental termos autoestima, aprender a se amar, a expressar suas emoções, a ser assertivo, a não se criticar e nem se comparar com o outro esteja este outro a sua volta ou nas redes sociais. Principalmente as comparações em relação ao mundo virtual, no qual temos conhecimento de ser um mundo paralelo e por muitas vezes irreal. Somos conscientes que cada um de nós possuí um biotipo, que enfrentamos dificuldades e que não vivenciamos uma vida plena e feliz em todos os momentos dessa nossa vida. E que a nossa realidade socioeconômica por muitas vezes não condiz com a realidade das redes sociais.
Desta forma podemos nos oportunizar a olhar a vida com outros olhos, aprendendo a sermos resilientes, a termos empatia, pensamentos positivos, nos priorizar e a não acumular lixos mentais. Assim como ter uma comunicação não violenta, praticar exercícios físicos e cuidar da alimentação. Apresentando dados sobre suicídio e sobre as vulnerabilidades que permeia nossa sociedade e enfatizando sobretudo a vida.
Correio dos Lagos - Com a pandemia, você acredita que casos de depressão, ansiedade e até mesmo o suicídio aumentou? O que leva esse aumento?
Ema - Sim, temos evidencias que estes casos aumentaram. Claro que podemos destacar vários motivos. Poderíamos começar mencionando a forma abrupta que a pandemia e o lockdown começou trazendo muitas incertezas para a população, mesmo não sendo de forma tão rígida em relação a outros países. Mais o medo que as pessoas tinham em contrair a doença, em ter comorbidades, de perder a vida, em se manter isolados e a preservar os idosos os deixando isolados e longe dos seus entes queridos. Fomos de modo inesperado obrigados a mudar nossa rotina e tivemos dificuldades de demonstramos adaptabilidade nesta nova realidade. Muitas pessoas tiveram de lidar com desemprego, crise financeira, falência de empresas, violência doméstica, abuso de álcool. Os contatos passaram a ser virtuais, como ensino a distância, home office, consultas on-line e vários outros. Sendo assim o aumento significativo de casos de depressão, ansiedade e ataques de pânico foram constatados. Há maioria destes casos ocorreram em maior número em mulheres e adolescentes.
Correio dos Lagos - Existe características que possam identificar uma pessoa que está passando por problemas psicológicos e que possam a carretar aos pensamentos de suicídio?
Ema - Sim, existe alguns comportamentos ou falas que podem indicar pensamentos ou atos suicidas.
Como por exemplo: Excesso de pensamentos; Alterações de humor; Choro excessivo; isolamento social, mudanças de rotina, comportamentos irresponsáveis e perigosos e
Avisos como: "vou me matar", "A vida não vale a pena", "Você estaria melhor sem mim"....
É importante observar tais comportamentos para poder ajudar este familiar ou amigo a procurar ajuda qualificada que por muitas vezes este precisará passar por tratamento psicológico e farmacológico.
Correio dos Lagos - Quais os canais de apoio para auxiliar pessoas que se encontram em quadros depressivos e que pensam em tirar a própria vida?
Ema - Temos o CVV (Centro de Valorização a Vida) funciona 24hs é só ligar para o número 188.
Mas também gostaria de destacar a importância do SUS, para nossa sociedade, pois oferece acesso a tratamentos através das UBS, SAMU e CAPS.
Informações: (48) 99972-5056.
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