Uma bela história com um triste fim.
Um breve relato sobre um casarão, um tempo, um lugar. Momentos vividos, lembrancas que me contaram.
Por Cristiani Zanchett Cordeiro Gonçalvez.
Uma história viva na memória dos Oliveira Couto e de outros que por lá passaram. De propriedade do Sr. Sebastião de Oliveira Couto e Paraída Zanchett de Oliveira Couto (in memorian), que no local criaram 14 filhos, 2 netos e 1 criado, na comunidade de Barra Grande em Abdon Batista.
O casarão começou a ser construído em 1956 e inaugurado dois anos depois em 1958. O responsável pela obra foi o carpinteiro João Arnoldo Zimmermann, mais conhecido por João Alemão (in memorian). Todo ele feito de madeira araucária beneficiada, foi construído graças a muito suor derramado, fruto de muito trabalho digno.
Um casarão de 06 quartos, 04 salas, uma espaçosa cozinha, porão, sótão e cozinha de chão, que não se pode deixar de mencionar, lugar de encontro para um bom chimarrão, alguns dedos de prosa, onde o fogo ficava aceso aquecendo os dias frios de inverno. A energia por lá, por mais ou menos 20 anos, era gerada por meio de roda d´água.
Algumas festas em família foram realizadas, mas a mais gratificante e esperada por todos era a confraternização de final de ano. Data em que vinham todos os parentes de perto, de longe e até alguns amigos. Lá passavam a virada de ano. A festa começava no dia 31 e só acabava no finalzinho do dia 01. Além de toda a festança, antes do café da tarde era feito a revelação do amigo secreto. Era um zum, zum, zum só, afinal imagine revelar algo em meio a tanta gente que só queria colocar o assunto em dia. Eram momentos de muitas alegrias, fotos para relembrar, abraços, brincadeiras. Com certeza não era qualquer sentimento que fazia com que todos se reuníssem a cada ano naquele velho casarão.
Mas há momentos na vida em que é preciso se despedir. Seja de alguém, seja de algum lugar ou de coisas que não se encaixam mais na vida.
Apesar disso o casarão estava lá, firme e forte, grande no seu tamanho e sentimentos vividos e compartilhados. Com seu tom desbotado pela passagem do tempo, seus aposentos desprovidos de qualquer móvel, o velho fogão a lenha, mesmo assim, de certa forma ainda existia vida lá. A forte lembrança das crianças correndo, subindo e descendo as escadas do sótão. O poço de água pura, fresca que nem nas piores secas na região deixou de existir. O gostoso cheirinho do pão assando. O aviso de visitas chegando e o silêncio das calmas noites, onde só o barulho dos sapos e coruja se ouviam. Quantos pedidos de casamento ali feitos, novas famílias se formando. Os netos chegando para o esperado final de semana na casa dos nonos, as brincadeiras ao redor do casarão, o jardim bem cuidado, o pátio bem varrido, tudo ainda é muito vivo nos corações de quem realmente amou aquele lugar.
Todos sabiam que com a vinda das águas, o dito progresso trazido pela UHE Garibaldi, tudo o que foi vivido por lá passaria a existir somente na memória de que cada um. O que não precisava era ter tido um fim tão sem propósito. Qual foi o motivo que levou a esta ação? Qual o sentimento empregado ali naquele momento? A quem queriam atingir? O objetivo foi alcançado? Cabe a cada um perguntar a sua consciência.
É, casarão, para sempre saudades.
A história viva que guardava muitas saudades foi destruída na noite do dia 17 de abril, quando um forte clarão foi visto pela vizinhança no local onde a casa estava localizada. Mesmo com a chegada de familiares e vizinhos nada pode ser feito, pois o fogo tomou conta das madeiras que estavam erguidas há mais de sessenta anos e que a partir daquele momento só serão lembradas através das fotos de família e na memória de cada um que teve a oportunidade de passar por lá.
A família registrou um Boletim de ocorrência e a polícia investiga se realmente o fogo foi criminoso.
Algumas pessoas demonstraram a tristeza e revolta em ver a história ser destruída em chamas
“Lembro sempre, com muito carinho, da minha infância e adolescência, vividas no casarão. E quando me vêm à memória aqueles alegres e felizes momentos passados com nossos avós, tios, primos e amigos, sinto uma grande felicidade. Quando me ligaram contando que o casarão estava em chamas, foi como se uma parte de mim deixasse de existir. Só Deus para saber o que aconteceu naquela noite, se foi ou não um ato criminoso, é na justiça de Deus que confio. Agora ficarão só as lembranças de um passado que jamais esqueceremos, um lugar de infinitas saudades e recordações”, relata Vanderlei, um dos netos que por 17 anos morou no casarão junto de sua mãe Idalina de Oliveira Cordeiro.
Para Cláudio de Oliveira Couto, filho de Luiz de Oliveira Couto: “Parece mentira, o antigo e tradicional casarão da família Oliveira Couto se despede de forma triste. Através de cinzas. Sentimento de tristeza e saudade. Inexplicável o que passamos por lá, muitas alegrias, recordações. Vivemos uma história, compartilhamos tristeza e emoção...Uma construção tradicional, adquirida com muito esforço, que agora ficará apenas saudades e boas recordações”.
“Eu estava em Campos Novos trabalhando e por volta das 18h20 sai e vim pra casa do pai na Barra Grande, quando cheguei recebi a notícia de minha mãe e fui imediatamente ao local. Ao chegar lá presenciei umas das cenas mais tristes da minha vida, o fogo criminoso consumindo tudo. O velho casarão, que aos olhos de outros podia ser só uma casa, para nós da família representava muita coisa, era nossa história viva, memória dos falecidos Sebastião de Oliveira Couto e Paraida Zanchett, meus avós, que “pingaram” muito suor para construí-lo, era o lugar onde todo ano novo, nos reuníamos para festejar, conversar, rever os parentes. Este incêndio foi criminoso, um desrespeito a memória dos meus avós e porque não a história de Abdon Batista, até porque, o casarão mostrava um pouco da história da época. Estou muito triste com o que aconteceu, vivi minha infância brincando por lá, porque a casa do pai era bem perto, tenho lembranças maravilhosas de lá e estas boas lembranças o sem noção que fez isto não pode apagar. O fruto do progresso as vezes é amargo, os descontentes não se dão conta do mal que fazem...a si mesmos...”, relato de Isaias de Oliveira Couto, filho de João Maria de Oliveira Couto.
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