Certezas sobre o pós-morte
Entre tantas seitas e crenças que buscam explicar o significado da vida e o que acontece com ela após a morte – além de acabar – resta nos apegarmos a uma dogmática concepção de vida após a morte, ou vivemos à espera da mesma, à qual podemos atribuir como significado a finalidade da vida, literalmente. Dar significados às coisas que mal conhecemos é típico do ser humano. Não defendemos aqui uma ideologia ateia, mas seremos práticos, concisos em dizer que nada além da morte é conhecido. Muitos de nós têm fé no paraíso e no inferno, outros na reencarnação, outros, baseados em tantas outras concepções religiosas, acreditam que após a morte viraremos luz, estrelas, poeira, afinal "do pó vieste e ao pó voltarás" [Gênesis, 3 :19]. A vida e a morte já foram objetos de estudos não só de religiosos, mas também dos sempre inquietos cientistas. Assim, surgiram diversas teorias para a morte física: o coração para, o cérebro também, os pulmões também, paramos completamente. Facilmente decifrados os enigmas da morte corporal, partimos então para o estudo da morte no âmbito psíquico, que em alguns aspectos se assemelha com as concepções religiosas de alma. O homem é o único animal consciente de que vai morrer. Esta certeza desperta vários mecanismos psicológicos e corporais que irradiam seus medos, angústias, defesas e atitudes perante a ideia do fim da vida como a conhecemos. Não temos certeza de muita coisa, nossa única certeza sobre o pós-morte é que a maioria de nós vai para o cemitério, pelo menos enquanto a cremação não vira a mania da moda, nem com todos os apelos ambientais que vemos todos os dias. Sendo que a nossa única certeza é de que vamos para o cemitério, e que não queremos ser abandonados pelos nossos entes queridos mesmo após nossa partida, iniciamos todo o ano uma nostálgica ida até este lugar, a fim de rezar, chorar, limpar lápides e cuidar o mínimo da eterna residência dos que já foram. Alguns dizem que não vale a pena agradar aos outros depois de mortos, entretanto são importantes estes agrados, senão para os mortos, mas para os vivos, uma vez que cuidar dos túmulos vai além de respeito pelos finados, é uma questão de cidadania. Se não temos as respostas para a morte, para onde vamos e de onde viemos, pelo menos temos a certeza da importância de um dia reservado para os finados: a certeza de que algum dia quereremos que alguém reze por nós, ou pelo menos limpe nosso túmulo.
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