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Números mascarados e objetivos reais

"Apresento um número de três algarismos apenas, que é o número do meu salário."

A fala acima é de uma professora do estado do Rio Grande do Norte, na qual ela desabafa sobre a situação da vida do professor que precisa sobreviver com um salário desproporcional à realidade econômica nacional.

Enfatizam os governantes que a educação no Brasil tem melhorado, o índice de evasão escolar é reduzido, a merenda é de qualidade, o Ideb vem aumentando e o Plano de Desenvolvimento Educacional tem dado ótimos resultados. Não somente o futuro do país como também uma boa campanha política depende destes números, os quais realmente são bem maiores do que o número de três algarismos que são estampados nas folhas de pagamento dos educadores, principalmente, mas não unicamente, na daqueles de início de carreira.

A verdade é que nosso país quer mostrar crescimento rápido. Logo investir em um negócio a longo prazo, como a educação, não é vantajoso. As campanhas políticas vivem em razão das obras de infraestrutura, afinal o que dá voto é a construção de pontes e estádios, mas a construção do conhecimento e da nação crítica que pode derrubar esta politicagem, não interessa à ninguém.

O brasileiro mora num dos países com a educação mais precária das Américas, de acordo com a Unesco. Este é um tapa na cara do PDE. Os "grandes" números brasileiros não são nada comparados aos menores números da educação mundial.

Ultimamente temos visto a luta dos professores por um salário compatível ao seu valor social, entre outros direitos. O governador Colombo nega o pagamento do piso salarial mais bonificações, fato este que gera polêmica no estado. O piso do professor é lei federal e deve ser cumprida. Ninguém está acima dela. E não adianta dizer que professor trabalha porque tem o "dom" de educar. Pode até ser que tenha, mas ele também tem o "dom" de multiplicar o dinheiro que ganha para não deixar sua família desnuda e com fome. Se o aluno com fome não aprende, o que nos faz pensar que o professor com fome pode educar? Ninguém trabalha de modo eficiente com o estômago vazio. Ninguém, nem os multiplicadores do salário.

Misturar a educação de qualidade com a questão econômica dos profissionais da educação não é erro nenhum. Afinal todos aprenderam na escola que somos um país capitalista e, como tal, temos que nos movimentar pelas cifras se quisermos viver.

Ser professor é ser um humano, sem restrições. Parabéns aos corajosos educadores que entraram nesta luta pelo que lhes é de direito. Parabéns aos ACTs, que mesmo com medo de sujar o currículo com o estado, deram a cara a bater pelo seu futuro. E boa sorte com os alunos e pais revoltados com a paralisação. Estes são bem piores do que o resultado do contracheque.

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