Fernando Vequi Martins - A gente fica feliz numa cidade do interior, cidade pequena  em ter uma aderência tão grande a prevenção. A presença de homens também chama a atenção e nos deixa emocionado, pois sentimos que o objetivo foi atingido. As pessoas se sensibilizaram e vieram de coração aberto, e todas com certeza saíram mais ricas de informação, sem dúvida.

 

Correio dos Lagos - Esse movimento  ganhou grandes proporções, isso contribuiu na prevenção?

Fernando - Observo que a cada ano a aderência é maior, mas temos um longo caminho a percorrer. Este é o terceiro ano que estou na região e a cada ano tento fazer algo diferente até para não nos repetirmos e para que as pessoas venham em todos os eventos e a cada encontro saiam daqui com uma informação diferente. O diagnóstico no Brasil, e em especial na nossa região, ainda é feito numa fase avançada. Mesmo com incentivo e maior acessibilidade aos exames percebemos que ainda temos uma grande dificuldade de as mulheres fazerem corretamente a prevenção, sabemos que é importante se vestir de rosa, estarem presentes, mas as pacientes têm que refletirem e aderirem efetivamente e fazerem a mamografia, o autoexame para que elas não se surpreendam no futuro, isso que é mais importante.

Correio dos Lagos - O número de casos de Câncer de Mama está diminuindo?

Fernando - O Câncer de Mama a cada ano aumenta. No ano passado tivemos no Brasil mais de 52 mil casos novos, em Santa Catarina mais 1600 e nesse ano a probabilidade são de mais 57 mil novos casos, e em Santa Catarina mais 1800. Não é um problema,  gente observa que a incidência aumenta e ainda vai aumentar pois as mulheres estão se cuidando, fazendo mais exames, e por isso registram-se mais diagnósticos. Antigamente muitas mulheres morriam sem saber o que tinham e sem diagnóstico e a gente observa se tiver diagnóstico na fase inicial a chance de cura é cerca de 100%, temos exemplos de pacientes que tiveram diagnóstico e estão aqui vivendo sem nenhum problema.

Correio dos Lagos - Existe alguma forma de evitar o Câncer de Mama?

Fernando - Quando fala-se em prevenção com a mamografia fala-se em prevenção secundária, ou seja, fazer o diagnóstico precoce, descobrir no começo, porém existem algumas terapias que fazem prevenção primária, ou seja, evitar o surgimento, mas são terapias muito radicais  como retirar as duas mamas, retirar os ovários e fazer uso de medicação que antecipa menopausa, vemos muitas pacientes jovens usando essas medicações. Eu incentivo a atividade física, não há muita comprovação científica, mas a gente observa no dia a dia as pacientes que se cuidam e têm uma saúde regular elas não são acometidas de câncer mama especificamente. Então as medidas para prevenção primária são tão radicais, que a gente prefere falar na prevenção secundária, mesmo que não evite o surgimento, mas se descobre no começo e cura as pacientes, com cirurgias menos radicais, preservando as mamas, e  pacientes com autoestima melhor.

Correio dos Lagos - Alimentação também contribui?

Fernando - Tudo que o final seja obesidade a gente observa. Desde a infância as meninas menstruam mais cedo isso é reflexo dos hábitos de vida muito ocidentais, a obesidade hoje é um problema de saúde pública e praticamente metade do Brasil está acima do peso e tudo o que leva a obesidade, independente da alimentação, além do sedentarismo, aumenta a incidência de câncer. Então sentir-se bem, cuidar da saúde, cuidar da alimentação, praticar exercícios físicos e consultar o médico regularmente, com certeza salva vidas. No Brasil, ainda que as pessoas querem ser tratadas, sempre há a procura de um tratamento milagroso e a gente tem que chegar a um ponto que refletir no que eu posso fazer para me tratar, não ser tratado mas se tratar, e tudo que falei, alimentação, pensamento positivo, bons hábitos de vida, praticar exercícios, fazer os exames preventivos  é fazer a nossa parte, para que depois não gere uma culpa. Muitas pacientes quando fazem um diagnóstico, se perguntam o que fizeram para merecer isso. Se prevenir não vai deixar de ter câncer, vão ter de qualquer maneira, mas façam a prevenção para que no momento do diagnóstico tenham a consciência tranquila.