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FAMÍLIA: ESSA MODA PEGA?

Numa época em que uma noção errada de liberdade, muito divulgada, leva a não contrair vínculos

Numa época em que uma noção errada de liberdade, muito divulgada, leva a não contrair vínculos e a quebrar com facilidade os vínculos contraídos, é oportuno recordar que a liberdade é, na sua forma maior, liberdade de nos amarrarmos. É esse o significado de "criar laços".

Somos, na maioria, movidos por modismos. Adesivar carros com desenhos da família virou moda por afirmar família como nosso maior "porto seguro". Mas para essa idéia surtir efeitos para além da estética, é importante perguntar sob quais construções, sociais e culturais estão postas nossas famílias, sob pena de frustrarmos nossas expectativas para com elas e para com a referida moda.

A família pede apoio – A exaltação do amor pela família, por mais interessante que seja, por mais sucesso e adesão que já tenha ou venha a ter, pode contribuir para sobrecarregar a família, mais uma vez, com todo o peso da desestruturação social que o nosso mundo está produzindo. Não resolvemos mais os dramas das pessoas pelo discurso fácil da solução de todos os problemas passarem pela família. É a própria família que precisa ser resgatada e ressignificada em seu papel e função social em nossos tempos.

O que a sociedade tem feito, através de suas instituições, é cobrar da família uma responsabilidade com a qual ela sozinha não pode mais arcar. Por estar fragilizada, envolvida em imensos desafios de convivência, a família reclama de cuidados, zelo e proteção, invertendo-se uma lógica sempre alimentada e projetada por todos.

A revolução industrial gerou nas famílias o primeiro grande impacto, na medida em que os homens, mulheres e filhos passam a dedicar-se mais a seu local de trabalho do que à sua própria casa. Com a revolução tecnológica e a eletrônica, substitui-se a convivência e o diálogo entre os membros de uma família pela escuta passiva do rádio, da televisão e da internet. Hoje, mais do que nunca, vivemos a afirmação de nossas individualidades a partir de um vazio existencial e histórico. Não contam mais a memória, a coletividade, a convivência. Conta agora sermos livres: sem vínculos com nada e com ninguém.

A família não é um produto para a gente oferecer como solução para os reais problemas do ser humano e da humanidade. Se ainda acreditarmos nela como um porto seguro, como referência para a vida pessoal e comunitária, precisamos investir nosso melhor tempo e nossas melhores energias para que ela possa cumprir com a experiência que temos dela. Essa é uma opção que a sociedade precisa fazer, garantindo todos os apoios, programas e investimentos que forem necessários.

Humanizar através da família – O amor é a mais revolucionária das armas que a humanidade já construiu para gerar seres humanos livres, solidários, abertos, comprometidos com a permanente defesa e promoção da vida. Não acreditamos na mera verbalização deste nosso desejo de amar a família, mas acreditamos que possamos, de forma individual e coletiva, adotar posturas que promovam a convivência, a integração e a troca de saberes e de experiências no nosso ambiente familiar.

Promovamos a família como o melhor espaço humano para nos fazermos gente. Acreditemos que a família, ao ser vivenciada por nós, também é promovida. Adesivemos nossos carros com as caricaturas de nossa família, mas não esqueçamos de comprometer o nosso coração, a nossa alma, as nossas energias. A família não é uma moda passageira, mas é o espaço que criamos para nos humanizar. Humanizar é nosso maior trabalho humano.

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