Há pouco tempo tivemos as Olimpíadas de Londres, espetáculo que, a exemplo dos outros, atrai as atenções do mundo. Inspirados em torneios da Antiguidade, os jogos começaram a ser disputados em 1896, em Atenas, e, com interrupções no período das duas grandes guerras, se repetem desde então de quatro em quatro anos.
Em Londres, que já foi sede do evento em 1908 e 1948, competiram 205 países, representados por 10.500 atletas. Estima-se que os britânicos tenham investidos mais de R$ 30 bilhões para patrocinar a festa, que em 2016 será realizada no Rio de Janeiro. Valerá a pena?
Considerando a questão do ponto de vista estritamente financeiro, a resposta possivelmente seria negativa. Apenas a Olimpíada de Barcelona, em 1992, é consensualmente avaliada por especialistas como vitoriosa em termos econômicos –ao passo que a de Montréal, em 1976, e a de Atenas, em 2004, são os fracassos mais citados.
É certo que a Olimpíada atrai turistas, alavanca negócios e movimenta a atividade econômica. O problema é que os cálculos para aferir esses ganhos se submetem a critérios variados e parecem sempre passíveis de contestação.
Pode-se, por exemplo, supor que determinada quantia direcionada a obras de infraestrutura se traduza em benefício objetivo para a população. Alguém, contudo, poderá argumentar que a mesma soma, fora do contexto olímpico, seria destinada a setores mais necessitados ou rentáveis.
Além desse tipo de ambiguidade, há ganhos intangíveis ou de difícil mensuração, como a promoção da imagem e da autoestima do país. O economista do esporte Stefan Szymaski, da Universidade de Michigan (EUA), afirmou ao jornal britânico “Financial Times” que qualquer coisa capaz de trazer felicidade deve ser considerada um benefício econômico.
É uma consideração que parece especialmente apropriada à conjuntura recessiva por que passa o Reino Unido –e aplica-se também ao Rio, que se recupera de um passado recente de dificuldades.
Nada disso, contudo, pode servir de pretexto para que se consumam recursos públicos de maneira pouco criteriosa, como se tornou rotina no Brasil.
Basta mencionar os Jogos Pan-Americanos de 2007, torneio campeão de estouro orçamentário que quase nada deixou de legado para a população. Só resta torcer para que a festa Rio-2016 se aproxime mais do êxito de Barcelona do que do fiasco de Atenas e Montréal.
Referência:
EDITORIAL. Jogos de valor. Folha de S. Paulo. São Paulo, 27 de julho de 2012
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