Chegar aos autores do crime que chocou o município de Campo Belo do Sul e toda a região foi um trabalho incessante de quatro meses da Polícia Civil.
Chegar aos autores do crime que chocou o município de Campo Belo do Sul e toda a região foi um trabalho incessante de quatro meses da Polícia Civil de Campo Belo do Sul. Nesta matéria, o investigador Paulo Sergio Ramos Batista, responsável pela investigação, repassa algumas informações mais detalhadas de como chegaram aos autores do crime.
Já no inicio das investigações a Polícia Civil descartou a hipótese de latrocínio, pois uma das vítimas a Sra. Seraselia trazia em seu pescoço uma corrente de ouro, e outros objetos de valor também não haviam sido levados, a exemplo do carro da família que estava com o tanque cheio e as chaves na ignição.
No primeiro contato que teve com Edemar (por telefone), o investigador Paulo Sergio já percebeu que havia algo de errado, pois Edemar Pletsch, quando chamado para conversar, alegou que estava em uma festa e relutou em ir ao encontro do investigador. “Esta atitude não é normal para uma pessoa que deveria ser o maior interessado na solução do caso”, disse Paulo.
Outro fator intrigante foi o desaparecimento de um relógio de bolso banhado a ouro que havia sumido no dia do crime e após vinte e seis dias Edemar ligou para o investigador avisando que havia encontrado caído próximo a uma cerca. O relógio foi encaminhado para perícia para tentar colher impressões digitais, porém o produto utilizado para detectá-las não indicou a presença de nada, nem mesmo de sujeira. Então, levantou-se a dúvida de como poderia um relógio ficar quase um mês no chão e não ter nenhuma sujeira?
O segundo ponto em destaque foi a arma que, segundo Edemar, havia sido roubada no dia do crime. Para desenvolver as investigações, o investigador precisava de cartuchos deflagrados pela arma, já que não se tinha o número de identificação e através da munição poderia se identificar a arma com a comparação balística, porém quando Edemar era questionado sobre o assunto ele negava que tivesse guardado alguma munição da arma roubada. O investigador persistiu e pediu para que Edemar procurasse com mais calma durante um final de semana e a resposta de Edemar na segunda-feira seguinte era de que apenas cartuchos de uma arma calibre 22 foram encontrados dentro de uma cesta na casa. Paulo Sergio fotografou as munições encontradas e em uma comparação com fotos tiradas no dia do crime da mesma cesta, foi constatado que existiam: objetos, cartuchos de 22 e cartuchos de 38, o que levou a entender que os cartuchos de 38 haviam sido subtraídos da cesta. Mais tarde, após a prisão de Edemar, em um mandado de busca expedido pelo judiciário de Campo Belo, os cartuchos foram encontrados em uma gaveta no quarto do Edemar.
Neste ponto o processo investigativo começou a ter um rumo definido, a ganhar corpo. “Durante a investigação mantivemos contato direto com o Edemar e o chamamos na delegacia várias vezes. Ele já estava cansado, porém cada vez que ele vinha na delegacia conseguíamos novas informações”, comentou Paulo.
Deste ponto em diante, vários novos fatores aumentaram as suspeitas sobre Edemar, pois existia uma situação estranha em seu comportamento. As histórias do relógio e a da munição foram determinantes. “Passado esta fase começamos a desmentir as versões dele. Grande parte do que ele nos disse, constatamos que não era verdade. Paralelo a isso começamos a observar o comportamento do executor, o Arizon, que passou a trancar-se em casa, saindo em poucas oportunidades”, enfatizou o investigador.
Um dos motivos apontados pelo investigador que dificultou as investigações foi o fato de Edemar Pletsch ter destruído o telefone celular utilizado por ele para fazer os contatos com Arizon durante o planejamento e no dia das mortes, telefone este, que pertencia a Prefeitura Municipal. Após o crime Edemar Pletsch passou a manter contatos com Arizon Pereira através de um telefone celular clandestino.
Como chegaram até o executor do crime Arizon
“Partimos do seguinte ponto: quem é da convivência do seu Edemar, com quem ele tem contato direto e que teria um passado criminoso e seria capaz de cometer o crime?”, este foi o questionamento do investigador, o qual passou a analisar o círculo de amizades e convivência de Edemar, que por sinal, era muito bem relacionado na cidade, com exceção do Arizon Pereira, pois ambos eram constantemente visto nos bares da cidade e tinham uma amizade de longa data uma vez que Edemar foi cliente do bar da mãe do Arizon durante 18 anos e praticamente acompanhou o crescimento de Arizon. “Edemar Pletsch e Arizon Pereira tinham uma convivência muito próxima e um forte laço de amizade. No circulo de amizade de Edemar, Arizon era o único que tinha um passado criminoso, com uma bagagem de furto, tráfico de drogas e estupro”, comenta Paulo.
Seguro e motivo das mortes
Tanto a Marlene quanto o Edemar tinham seguros de vida no valor aproximado de R$ 213 mil. Era de conhecimento de muita gente as dívidas do Edemar e o valor do seguro iria aliviar a situação.
Porém o motivo das mortes não foi somente pelo seguro, mas também pelos problemas conjugais em razão das questões financeiras. Devido às dívidas, as brigas eram constantes e Edemar declarou que já havia tentado algo contra a esposa outras vezes, porém nunca tinha tido coragem. E o segundo motivo para a morte da esposa seria o seguro de vida. A sogra Serasélia, segundo Edemar, não era para ter sido executada, porém o Arizon e a sua companheira Janaina afirmam que desde o primeiro momento Serasélia também deveria ser assassinada.
A prisão
A prisão foi simultânea. Foram presos os quatro envolvidos no município de Campo Belo além de um irmão de Janaina de nome Marcio morador da cidade de São José, que foi preso para que se esclarecesse alguns detalhes do crime. Após a prisão, Janaina começou a cooperar com as investigações apontando onde estava a arma de Edemar Pletsch utilizada no crime e os objetos levados da casa para simular o latrocínio.
A comunidade pedia respostas
De acordo com o investigador Paulo Sergio, a solução do caso não foi rápida e nem demorada, mas sim durou o tempo necessário para que fosse bem feita. Que em Campo Belo, com exceção de três crimes mais antigos, todos os últimos crimes, sejam de assassinatos ou roubos foram todos solucionados.
A investigação seguia em sigilo como qualquer outro caso e era preciso apresentar resultados. Muitos comentários eram feitos pela comunidade e, de acordo com Paulo Sergio, as manifestações foram legítimas e merecem os parabéns quem as organizou, porém as respostas estavam sendo buscadas. “Estávamos buscando respostas e provas. Ficamos noites sem dormir para solucionar o caso e não poderíamos sair dizendo para a população o que estava acontecendo. Sabíamos das coisas que estavam para acontecer, mas tínhamos que dizer à população que o caso era difícil de ser solucionado. Estávamos no meio de uma investigação e o sigilo profissional não nos permite se quer comentar o assunto”, frisou Paulo Sergio.
O que marcou o investigador neste caso
“Já investiguei vários crimes de homicídio, mas o que me marcou no primeiro momento é que me compadeci com o Edemar e prometi a ele naquele dia eu disse: Seu Edemar, o delegado me designou para trabalhar exclusivamente neste caso e em nome da Polícia Civil estou fazendo uma promessa. Não vou descansar enquanto não descobrir quem matou a sua mulher e a sua sogra. Ele me agradeceu muito e de fato trabalhei esses quatro meses incansavelmente. Depois de tudo solucionado, no momento da prisão de Edemar, lembrei a ele da promessa que eu havia feito e apresentei tudo o que conseguimos de provas. Foi neste momento que ele confessou o crime que foi planejado quinze dias antes das mortes detalhando como tudo aconteceu”. Nesse processo foram produzidas mais de setecentas páginas de material, o qual foi entregue ao poder judiciário.
Próximos passos
Edemar Pletsch, Arizon Pereira, Janaina e o irmão Marcio estão sob prisão temporária no presídio de Lages. A mãe de Arizon foi liberada. Ainda esta semana o delegado responsável pelo caso representará pela conversão da prisão temporária em prisão preventiva.
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