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Quem sabe faz a hora

A letra da música ?Pra não dizer que não falei das flores?, de Geraldo Vandré, é tida como um hino de resistência, e é exatamente isso que muitos jovens estão fazendo em Anita Garibaldi: resistindo

 Supõe-se que os pais sempre querem o melhor para os seus filhos. Bons pais começam a pensar nos filhos antes mesmo da concepção e continuam num exaustivo, porém gratificante, esforço para educá-los, imaginando-os como cidadãos de respeito e bem sucedidos.

Agora, supondo que os jovens de um determinado município são os filhos desse local, como avaliar os cuidados que a sociedade civil e administração pública têm com relação ao futuro desses jovens? Não é só através de investimento com uniformes e merenda que fazem os bons filhos à casa retornar (ou em casa ficar).
Uma parcela da juventude de Anita Garibaldi tem deixado de fitar um nobre porvir nas terras do município, contrariando o que está no hino do município. Ultimamente a vida da maioria dos jovens anitenses logo ao sair das escolas é a seguinte: um trabalho no comércio (ou na fábrica de cortinas) em troca de um salário que ajude nas despesas com os estudos. Algumas pessoas até podem dizer: “o que querer mais do que isso para começar a vida?” Ora seja! Há muitas respostas, mas a principal talvez seja incentivo, para que motive alguém a querer implantar e evoluir seus projetos na cidade.
A jovem Mariana Dalamico, 18 anos, moradora de Anita Garibaldi e acadêmica de fisioterapia da Uniplac, em Lages, acredita que atualmente os jovens não se sentem motivados a continuar morando em Anita com relação as suas perspectivas profissionais. “Antes de sermos grandes profissionais, precisamos ser acadêmicos. Aqui na nossa cidade não temos uma universidade, então temos que nos deslocar até as cidades mais próximas como Campos Novos, Lages e até mesmo Joaçaba. Eu optei por usar o transporte universitário, e todos os que usam pagam uma boa quantia por mês. Se os governantes do município não nos incentivam a ficar aqui, por que devemos ficar?”, desabafa a jovem. “Estamos estudando porque queremos ser alguém na vida, queremos nosso diploma. Eu não gostaria de ir embora, mas se a situação continuar assim, não só eu, mas tenho certeza que várias pessoas terão que ir, pois aqui só ajudam quem eles querem. Isso significa que eles não se importam com os jovens, porque se realmente importassem nos incentivavam a ficar”, complementa ela.
Cidades pequenas, como as da Região dos Lagos, precisam de um planejamento político e educacional que incentive o desenvolvimento de ideias empreendedoras. Estas cidades têm uma carta na manga que ainda é pouco explorada: o apoio financeiro das hidrelétricas, as quais apoiam projetos que ajudem a cumprir com o acordo de responsabilidade social das usinas com a comunidade.
É fato óbvio e historicamente conhecido e divulgado de que a juventude é a promotora de tudo o que está por vir, o problema é que ela está mal amparada e mal motivada para assumir as rédeas do desenvolvimento no futuro.
Um lugar só cresce, em todos os sentidos, se há pessoas vivendo nele. Dados da Diretoria de Estatística, Geografia e Cartografia do IBGE e do IBGE cidades apontam que, de acordo com estimativas populacionais, Anita Garibaldi tinha 9.191 habitantes em 2009, mas em 2011 a estimativa populacional ficou em 8.497, mostrando uma diferença de 694 pessoas em dois anos, a qual pode ser ainda maior, uma vez que na última contagem trabalhadores da barragem da Usina Garibaldi já moravam aqui e, como todos sabem, eles não ficam por muito tempo numa cidade.
Nas 694 pessoas a menos estão incluídas as que morreram e as que fugiram por um motivo ou outro, inclusive uma parcela de jovens que não resistiram ao ficar a mercê de um futuro não muito certo, jovens que foram fazer a sua hora longe dos limites de Anita Garibaldi.
 
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