Intensificados os preparativos para a Cavalgada da Região dos Lagos
Serrano
Dizem que o serrano é diferente de todos os outros humanos. Pois não descende do homo sapiens e sim, do homo bagualis
Dizem que o serrano é diferente de todos os outros humanos. Pois não descende do homo sapiens e sim, do homo bagualis, que era o ser mais macho da pré-história. De matar mamute à unha e pegar china no braço, enquanto os outros precisavam de uma clava. Essa origem guasca teria resultado no tipo mais bagual da face da Terra. Acostumado a sair ao amanhecer nos piores dias do inverno descalço e com a camisa aberta, para a lida campeira de cada dia. Isso são causos que se contam para os guris ao redor do fogo de chão, acompanhados de um mate. E enquanto as mulheres não estão ali, para que elas não baixem a cabeça e comecem a rir. Essa é uma das tantas histórias divertidas e pitorescas que integram a cultura serrana, a qual, todos conhecemos por vivermos aqui. Quando criança, dificilmente alguém não ouviu dos pais ou dos avôs as histórias e lendas da serra. Temos contato com a cultura tradicionalista diretamente através da música, dos trajes típicos, da culinária e outros meios. Sabemos que etnicamente, temos influência europeia, indígena e, do que melhor caracteriza o homem serrano historicamente: o caboclo. Não precisamos pensar muito para conceber essa típica imagem de um homem serrano, se formos imaginá-lo: um tipo rude, que se levanta cedo para tirar o leite, soltar as vacas, alimentar os bichos, sair para o campo e realizar outros afazeres da "lida campeira". Ou, ir para a roça enquanto a esposa faz os outros referidos trabalhos e cuida da casa. Alguém que se veste de maneira bem simples e modesta, fala de um modo característico e justifica seu modo de vida e seu trabalho como "tradição passada por meu pai, meu avô, etc". No entanto, podemos constatar que, infelizmente, esse tipo está se tornando cada vez mais raro, ou está se "modernizando", muita vez contra a vontade. Por imposição de interesses mesquinhos de pessoas que só pensam em lucro. Acabará por desaparecer por completo um dia, isso parece inevitável. Mas, como serrano que sou, sinto um medo de que, ao desaparecer gradativamente, ele acabe levando essa parte da nossa história para sempre. Sinto algo parecido ao olhar para as araucárias, essas imponentes rainhas da serra, que dão o nosso tão apreciado pinhão. Olho-as e enxergo nelas as testemunhas silenciosas da conquista desta terra. Tenho a impressão de que elas têm guardadas dentro de si, em algum lugar inalcançável, anos e séculos da história da nossa gente. E sinto que ainda hoje observam a tudo o que fazemos, com aquele olhar irônico de quem já estava aqui quando tudo começou, e continuará quando tudo passar. Ou até outra usina chegar... Por fim, quero deixar aqui uma pergunta, para a qual não tenho uma resposta. Alguém sabe qual é a nossa identidade agora? Qual é a nova imagem do habitante da serra?
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