A simplicidade do representante do Vaticano, exposta na forma de ser e de agir, transmitiu um recado também para os políticos habituados à ostentação e ao desperdício.
A visita do Papa, como parte do programação da Jornada Mundial da Juventude, deixa um legado importante para o país que transcende o universo dos católicos e dos jovens de maneira geral.
Ao afirmar que a forma de se relacionar com os brasileiros começa pelo coração, o visitante deu um sinal claro de como pretendia aproveitar seu convívio de uma semana com a população e do quanto tem consciência de suas aspirações expostas em recentes manifestações que, nos últimos dias, cederam espaço para a mensagem de paz de Francisco.
A simplicidade do representante do Vaticano, exposta na forma de ser e de agir, transmitiu um recado também para os políticos habituados à ostentação e ao desperdício. Ao mesmo tempo, deixou em segundo plano falhas preocupantes na organização de eventos com sua presença por parte das autoridades locais, o que merece ampla visão para futuras cerimônias oficiais.
É confortador para o país que, num momento marcado por tantas insatisfações em relação à atuação do poder público em áreas essenciais para os brasileiros, Jorge Mario Bergoglio tenha demonstrado conhecê-las a fundo e expressado a crença de que serão enfrentadas.
Foi o que evidenciou, na prática, ao optar pela visita a um centro de recuperação de dependentes químicos, onde condenou a liberação do uso de drogas e defendeu a necessidade de se acompanhar quem está em dificuldade. Foi o que fez igualmente, em discurso, ao reconhecer que os jovens têm uma sensibilidade especial frente às injustiças e que muitas vezes se desiludem com notícias sobre corrupção, sobre homens públicos que, ao invés de buscar o bem comum, agem em benefício próprio. E não se restringiu aos problemas, pois sugeriu que, mesmo assim, “não deixem que se apaguem a esperança”.
A expressão de fé num futuro mais promissor tem a ver com a promoção de valores mais humanos como os defendidos pelo Papa para jovens de todo o mundo. Entre eles, estão a educação integral, a atenção à saúde, a qualificação da segurança pública e também demonstrações de maior eficiência dos governantes. Foi justamente o que falou no Rio.
O próprio Papa enfrentou congestionamento, e o sistema de transporte público não deu conta da demanda de passageiros, ao mesmo tempo, o local projetado para o encerramento da Jornada virou um lamaçal, impondo alterações improvisadas e cortes na programação, além de colocar em xeque a capacidade do país de realizar megaeventos. Entre tantos outros, Um recado importante do Pontífice, num momento de tanta tensão no país, é o de que é possível manter coerência entre o que se diz e o que se faz quando o objetivo é realmente agir em favor de todos.
Referência:
Opinião da RBS. Um Legado de Esperança. Diário Catarinense, Florianópolis, 29 de julho de 2013.
Deixe seu comentário