Lages recebe nesta semana mais uma edição do Programa Alesc Itinerante
VISÃO POSITIVA
A INOCENTE TRISTEZA DE UM FILHO Por: Jaime Folle
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oje é domingo, são dez horas da manhã. Meu filho acordou às oito horas e está ansioso me esperando, ele quer brincar no parque, andar de bicicleta, jogar bola, soltar pipa, pisar na terra, se arrastar na grama comigo. Ele me esperou a semana inteira, respeitando a minha privacidade de homem do trabalho, ele tem apenas seis anos, ainda não entende muito bem essa história de ter que priorizar outras coisas como trabalho, compromissos sociais, e não a ele. Mas sua mãe, que também trabalha fora e estuda à noite, já lhe explicou que seu pai é um sujeito muito ocupado, possui uma vida social intensa, afora os compromissos sociais na parte noturna com a sua comunidade.A empregada doméstica que cuida do meu filho diuturnamente não se cansa de explicar ao pequeno ser, que seu pai está andando apressado demais, não consegue achar tempo pra ele, a empregada também já explicou a ele que eu ando muito ocupado cuidando dos e-mails, das mensagens, e ele, apesar dos seis anos, sabe que eu estou correndo muito e ganhando menos, ele sabe que já não consigo ficar um minuto longe do meu celular, o mundo me cobra resultados, a sociedade me cobra status, a vida me cobra saúde, o sistema me exige ter mais dinheiro, ter uma aparência adequada, um marketing pessoal ideal para os novos tempos. Meu filho também já sabe que o amor me cobra atenção, ele é o amor. Ele quer me dizer uma coisa importante, que na sua inocente tristeza, não consegue, pois eu digo que agora não posso, "mais tarde papai vai brincar com você", e de fato, eu chego mais tarde para brincar com ele, sempre mais tarde do horário dele dormir. No outro dia ele acorda e sabe dos meus afazeres e compromissos e, mais uma vez, a dedicada empregada vai repetir a conversa do dia anterior.
É papai, hoje é domingo, eu sei que você não vai trabalhar, já botei calção, arrumei a bola e estou aqui, sentado na escada a mais de duas horas, lhe esperando para ir ao parque e só não lhe acordei porque a empregada me disse para não acordar você nos domingos, pois papai precisa descansar.
Aí você acorda e vai assistir a Fórmula 1, e se prepara para fazer o churrasco tradicional de todos os domingos, ir ao futebol no estádio. E nem percebe que eu estou a mais de duas horas na inocente tristeza da espera de um pai que não me percebe, que não faz sobrar tempo para mim, aí mais uma vez vou brincar sozinho, achando que a minha tristeza é normal. Todos os pais são assim mesmo, resta-me, agora, curtir o domingo mais uma vez sozinho, pois minha mãe está ocupada com seus afazeres domésticos, e o domingo é o único dia para fazê-los.
Hoje eu cresci, fiquei grande, não tenho saudade da infância, nem do meu pai, ele vem me visitar, eu também vou ao estádio, não lhe convido, acho que ele não gosta de futebol. Somos bons amigos, não mais do que isso.
Acho que minha inocente tristeza me transformou em um adulto frio e insensato.
Que pena meu pai! Que pena!
Até a próxima
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