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A saudade de um Migrante

Itamar Pereira

Todos conhecem a história do povo judeu que sofreu a diáspora e se viu expulso de sua terra e espalhado pelo mundo. Pois, ao longo de dois mil anos ou mais os judeus nutriram o sonho de voltar pra Jerusalém e arredores. Enquanto este dia não vinha, se despediam um dos outros com a frase: ‘Até o ano que vem. Em Jerusalém!’. No meu caso, há mais de 35 anos morando a 396 km da querida Anita Garibaldi, venço a saudade voltando sempre, duas, três, quatro e até mais vezes por ano, dependendo dos feriadões.

Neste tempo encontrei dezenas de anitenses ausentes, sempre impressionado com a saudade e a vontade deles em voltar. Os anitenses guardam as melhores lembranças e sempre se orgulham em dizer sua origem. Em 1980 encontrei perto de São Paulo o Gustavo Salmória, primo do Ivo e amigo do Solano. Como ele amava esta Anita Garibaldi. Foi de cansar de tanto ouvir suas histórias. Aqui em Francisco Beltrão tem o Olavo de Lorensi, vindo daí há mais de 40 anos. É com ele que ficam meus exemplares do Correio dos Lagos e sei que os guardará para sempre. Assim, eu gastaria páginas inteiras contando relatos de anitenses que encontrei mundo afora e das saudades que nutrem por esta terra.

Eu mesmo, seguido me flagro mergulhado em lembranças maravilhosas que mantêm Anita Garibaldi no meu coração. Se fecho os olhos posso ver o Fernando Ambrósio, com o Dedé, indo pra rodoviária aguardar o ônibus das 9:30 h, recebendo os rolos de filmes enviados pela Zaniratti. À noite, nossos heróis eram projetados na tela do Salão Pio XII em filmes inesquecíveis. Ou poderia aqui narrar os jogos de futebol no campo do Juventus no Bairro Borges ou no Estádio Municipal, onde se exibiram alguns dos grandes craques que vi jogar.

Seria de chorar poder ver hoje o tio Tonho Amorim, o Ivo e o Rui Duarte, o Lilito, o Artur, o Palito, o Arinildo, o Vila, o Chamaco, o Toninho Zanoni, o grande Plínio, o João Soares, meus tios Antonio e Cornélio Pereira. E poder pedir a bênção dos padrinhos Silvina e Clodomiro Duarte. Já imaginou eu poder abraçar o Zeca Vico, o Osni Fernandes, o Vilmar e o Célio Matos. E o Moacir Borges, o Ivonir, o Neri Menegazzo, o Nelsinho Duarte, o Aguinaldo, o Aniceto Adelino Dutra, O Enori, o Célião, o Deizinho, o Aruy, o José Antunes, o Nilson Sapateiro, o Celito Tesser, o Euzébio, meu primo Volni, o Sebastião Freitas, meus irmãos Elias e Ana Maria e quanta gente mais. E dos migrantes, quantos mais eu poderia ver.

Como eu, milhares de anitenses ausentes devem ter saudade do Clube dos 500, do Salão Paroquial e do Clube 9 de Março, locais dos melhores bailes e carnavais de nossas vidas. E as aulas? Como esquecer as salas do Colégio Padre Antonio Vieira e seu salão nobre com as peças de teatro. Enfim, é muito pra lembrar e este espaço está terminando. E lamento não posso ir desta vez, mas fica certo no ano que vem nos vemos em Jerusalém. Quer dizer, em Anita o melhor lugar do mundo pra onde, um dia, todos os migrantes voltarão e se Deus quiser, não só pra festa, mas pra ficar. Por que não?

 

 

Itamar Pereira, é jornalista em Francisco Beltrão, Paraná.

 

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