Lages recebe nesta semana mais uma edição do Programa Alesc Itinerante
Ele se livrou do crack e dá o exemplo
Canoinhense teve o apoio da esposa Ana Paula para se livrar da dependência da droga
Quem cumprimenta o representante comercial João Ricardo dos Santos, 32 anos, não imagina que há cinco anos ele dormia com revólver debaixo do travesseiro, que escondia crack e cocaína em casa e chegou ao ponto de consumir mais droga do que traficava.
Hoje, de mãos dadas com a mulher, Ana Paula, que não o abandonou, pai de duas crianças, sorridente e corpulento – até brinca com os quilos a mais –, é presidente de uma associação que ajuda dependentes a se livrarem das drogas.
A história, que parece ficção ou milagre, é de Canoinhas, no Planalto Norte de SC. Ele conta que depois de uma overdose e de se internar em uma comunidade terapêutica em Joinville, em 2005, nunca mais retornou à pedra. Rota de tráfico vindo de Foz do Iguaçu (PR) em direção ao Litoral de SC, João diz que a facilidade de conseguir drogas em Canoinhas, de driblar a polícia da cidade de 55 mil habitantes e o fato de ter sido dono de bar o influenciaram a escolher o caminho errado.
A vida de vício começou com bebida, aos 13 anos.
– Depois foi a maconha. Teve até plantação aqui em Canoinhas apreendida pela Polícia Federal. A cocaína, minha mulher descobriu que eu usava no primeiro dia do casamento. O crack veio depois. Eu pegava droga pra vender no bar, o pessoal pedia, dava dinheiro. Eu vendia e usava – conta João Ricardo.
O tráfico o fez mudar. Arranjou armas por necessidade de proteção e para cobrar devedores.
– Ninguém confia em ninguém nesse negócio – diz.
Foram dois anos assim.
– Quando vi, estava magro, cabeludo, agredindo quem me devia. Cheguei a ameaçar gente de morte, por pouco não perdi a cabeça – lembra.
A mulher confirma. Diz que tirou fotos escondidas para denunciar o marido, mas faltou coragem. O casal não se separou por pouco.
A “cura” veio a muito custo. Depois de tombar um Fusca da mãe, tentou esconder o carro, mas a família descobriu. Quis interná-lo, sem sucesso. Ele perdeu casa, carro e comércio em dívidas. Quando teve a overdose, passou 30 dias em hospital e soube que estava ameaçado de morte.
– Minha língua virou, fechou a garganta – lembra.
Como a polícia intensificava operações contra o tráfico na região, comparsas achavam que ele os tinha delatado. Botou na cabeça que só a fé o salvaria e decidiu sair de Canoinhas. Encontrou ajuda no Desafio Jovem Shalom, em Joinville. Longe, recomeçou a vida. Ficou nove meses internado. Voltou a Canoinhas para trabalhar e começar uma nova vida com a família. Dois anos depois, sentiu necessidade de ajudar pessoas com histórias parecidas.
Era o embrião da Associação Assistencial Desafio Jovem Canoinhas, que fica no Bairro Água Verde. Com colaborações, uma boa dose de dedicação e dinheiro do bolso, além de conseguir que a instituição recebesse ajuda pública, montou a comunidade terapêutica numa área rodeada de verde. Hoje, com apoio da família e novos amigos, sonha em ajudar mais pessoas.
Exemplo que deve ser passado adiante e incentivo para outras pessoas que querem parar e não consegue.
A pessoa tem que querer parar. A força tem que vir de dentro.
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