Lages recebe nesta semana mais uma edição do Programa Alesc Itinerante
PÉROLA EM MADEIRA
A arquitetura em madeira de Canoinhas e Três Barras
A construção da estrada de ferro “Rio Grande - São Paulo” acabou por constituir-se num dos elementos centrais que viriam futuramente a desencadear a Guerra do Contestado. Face à dificuldade de levar a cabo o grandioso empreendimento, Lauro Muller, então ministro da viação e obras públicas, contrata a empresa Brazil Railway Company, de Percival Farquhar, para dar continuidade às obras da ferrovia. Parte do contrato concede a Farqhar uma extensa faixa de terra que margeava os trilhos da ferrovia, área esta que o empresário estadunidense iria explorar para extração de madeira.
Estes eventos acarretam na implantação, no município de Três Barras, da madeireira e serraria Lumber, da Southern Lumber and Colonizations Company, que iniciou suas operações em 1911.
Os eventos históricos acima descritos normalmente são vistos como um episódio negativo da história catarinense. Porém, foi a criação da ferrovia e a implantação da madeireira Lumber que possibilitou o desenvolvimento dos municípios que compõem a região norte de Santa Catarina.
A área norte do Estado normalmente - e quase que exclusivamente - é lembrada como palco da Guerra do Contestado. Mas existem muitos outros aspectos culturais importantes, que constituem um enorme potencial para o turismo cultural. Trata-se de uma jóia bruta, ainda esperando sua lapidação.
Dentre estes outros elementos culturais, está a influência norte-americana exercida nas edificações em madeira presentes nos municípios de Canoinhas e Três Barras. Tal influência, combinada com elementos da colonização germânica, polonesa e ucraniana, confere à região características culturais peculiares.
Em Canoinhas, o distrito de Marcílio Dias é um dos mais expressivos conjuntos arquitetônicos edificados em madeira. A implantação da parada de trem em Marcílio Dias acarretou na formação de um núcleo populacional nos arredores da estação, onde a edificação das casas seguiu a influência exercida pelas atividades da madeireira Lumber. São modelos feitos em madeira nobre, alguns dos quais de encaixe horizontal. Muitas destas edificações possuem dois ou mais pavimentos, demonstrando a habilidade dos marceneiros e arquitetos da época.
Um passeio por Marcílio Dias, passando pela estação de trem (hoje desativada) e observando os casarios locais, dá ao visitante a sensação de haver acessado uma janela aberta ao passado, misturando um sentimento de nostalgia e de orgulho pela beleza e grandiosidade das obras edificadas pelos desbravadores ancestrais. Um período cheio de glamour e de requinte.
Já em Três Barras está o conjunto arquitetônico original da serraria Lumber. Situada hoje em área do Exército Brasileiro, onde está assentado o CIMH (Campo de Instrução Marechal Hermes), a área ainda abriga os casarios originais da empresa. Lá é possível encontrar as casas que outrora pertenceram aos funcionários do alto escalão da empresa. Também nas antigas dependências da Lumber estão as edificações do escritório central da serraria, o antigo cassino e o cinema, que é considerado o segundo do Brasil.
Patrimônio em abandono
Conscientizar as pessoas da importância do patrimônio cultural para a formação da identidade local e preservação da memória é tarefa, por vezes, difícil. Envolve muita campanha de educação cultural e um forte trabalho nas escolas de educação básica, ou seja, uma transformação a longo prazo e que deve ser levada a cabo o quanto antes.
Porém, a questão aqui levantada é muito mais prática e funcional. O abandono do patrimônio cultural de Canoinhas e de Três Barras demonstra a capacidade que nós temos em perder dinheiro. Isso mesmo! O turismo, hoje, é a indústria que mais empregos gera, e a principal fonte de arrecadação de muitas cidades ao redor do mundo. E o melhor de tudo: se levado de maneira profissional, não polui.
Assim, transformar os municípios de Canoinhas e de Três Barras num pólo turístico, explorando o patrimônio edificado em madeira, somente conduziria a uma maior arrecadação e à constituição de postos de trabalho.
Você já imaginou uma visita ao conjunto arquitetônico de Marcílio Dias, com um passeio de trem ao município de Três Barras, visitando as instalações da antiga sede da serraria Lumber, assistindo uma projeção no segundo cinema mais antigo do Brasil, retornando de trem à estação de Marcílio Dias e degustando um saboroso jantar com base na gastronomia local?
Esta maravilhosa jornada ao passado pode se tornar realidade, basta conscientização, vontade política e, principalmente, mobilização da comunidade e dos empresários. O mal de hoje é esperar que todas as iniciativas importantes venham do setor público, e este pensamento faz com que inúmeras oportunidades de negócios deixem de se concretizar. Isso representa perda de divisas, sendo que estas perdas se dão, às vezes, de maneira irremediável.
A Caminhos Ancestrais agradece à Viviane Bueno pela contribuição a nossa equipe, indispensável para a elaboração desta matéria. Agradecimentos também ao Coronel Dalosto e ao Tenente Lacerda pela gentil acolhida no CIMH, que possibilitou o registro fotográfico das dependências da Serraria Lumber.
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