Lages recebe nesta semana mais uma edição do Programa Alesc Itinerante
96% dos brasileiros sofrem discriminação e humilhação por causa da pele
Com a chegada das primeiras ondas de calor e o verão fazem com que aumente significativamente o número de pessoas nas praias e piscinas de todo o país. Isso faz com que aumente, também, o preconceito contra pessoas portadoras de doenças de pele, entre elas a psoríase.
Mesmo não sendo uma doença contagiosa, o aspecto da pele dos portadores costuma colocá-los em situações de constrangimento. A psoríase é uma doença genética e inflamatória que não tem cura, mas pode ser controlada.
Aproximadamente três milhões de brasileiros sofrem com os sintomas da psoríase, doença de pele crônica e inflamatória que tem origem quando o próprio organismo faz com que células da pele comecem a se renovar mais rápido que o normal, causando lesões avermelhadas, coceira, descamação e dor nas regiões afetadas, geralmente joelhos e cotovelos. A doença muitas vezes altera a vida da pessoa tanto física quanto psicologicamente, incluindo a interação com outras pessoas nos momentos de trabalho e lazer.
O efeito da psoríase na qualidade de vida tem se mostrado semelhante ao de patologias como o câncer, doenças cardíacas, artrite, diabetes tipo 2 e depressão.
Considerado o maior estudo global com pacientes, a pesquisa "Clear About Psoriasis" foi realizada com 8.338 pessoas, em 31 países, incluindo o Brasil, e contou com o envolvimento de 25 associações de pacientes. No país, a associação responsável foi a Psoríase Brasil.
O Brasil apresentou uma das maiores médias da pesquisa dentre os 31 países, ao lado do Taiwan e Coréia do Sul, quando o assunto é discriminação e humilhação. 96% dos pesquisados afirmaram já ter passado por uma situação de constrangimento.
Estudo recente coordenado pelo Hospital das Clínicas da USP, de Ribeirão Preto, mostra que a psoríase pode levar o paciente a manifestar sintomas de depressão e fobia social. Agora, em outubro, se discute mais fortemente a questão porque celebra-se o Dia Nacional e Mundial da Psoríase (29/10), mas o debate e o cuidado devem ser feitos por todos sempre.
Nesse estudo da USP, 63,7% dos participantes tiveram a qualidade de vida impactada negativamente pela doença, sendo que 54,1% apresentaram sinais de ansiedade e depressão. A amostra, segundo a divulgação da pesquisa, foi de 300 pacientes das regiões Norte, Sudeste e Sul do Brasil.
Quem sofre da doença pode tornar o sol um aliado. A exposição solar moderada ajuda no controle das lesões. Cerca de 80% dos portadores de psoríase apresentam melhora nas lesões após tomar banhos de sol nos horários adequados.
Portanto, vale a pena frequentar praias, piscinas, parques ou qualquer outro local que permita exposição ao sol. Mas é importante se expor de forma correta - as queimaduras solares podem piorar a doença. O ideal é usar um protetor solar adequado ao tipo de pele e evitar tomar sol entre 10h e 15h.
Vários fatores podem agravar ou até desencadear a doença, como o estresse físico ou psicológico, fatores externos como uso de álcool, cigarro e a manipulação das lesões. Além disso, alguns medicamentos podem piorar o quadro. O uso de corticóides injetáveis ou tomados via oral devem ser evitados, uma vez que proporcionam uma melhora imediata, mas podem resultar em piora acentuada da situação (o chamado Efeito Rebote).
A grande verdade é que não existem motivos para o preconceito - ninguém pega psoríase pelo ar, piscina, toalhas, ato sexual ou ao manter qualquer outra forma de contato com a pele de uma pessoa doente.
A psoríase tem fases de melhora e outras de piora. Os tratamentos diminuem as lesões nos momentos de piora e mantêm o paciente o máximo de tempo possível sem lesões na pele (é o que se chama de remissão). A remissão da doença pode durar dias, meses, anos ou mesmo toda a vida. Tem-se então a impressão de cura, apesar de a psoríase ser uma doença crônica.
Médicos ou outros profissionais podem oferecer tratamentos alternativos para a psoríase. É certo que estes tratamentos têm bons efeitos psicológicos sobre as pessoas, podendo produzir um alívio temporário. Porém, muitos deles não são comprovados cientificamente.
Vale a pena usar hidratantes para a pele. Todos os pacientes portadores de psoríase se beneficiam com a utilização de hidratantes potentes nas áreas lesadas. Eles melhoram a descamação e evitam as rachaduras da pele.
Não há restrições na alimentação do portador de psoríase. Mas, fique atento: alimentos ricos em gordura interferem na absorção de alguns medicamentos usados no tratamento das lesões. Existem estudos mostrando que indivíduos obesos tendem a apresentar mais psoríase que os magros. Portanto, procure manter o peso ideal.
Diga não ao preconceito, a psoríase não é contagiosa e tem tratamento.
Sabrina Floriani, Médica de Família, professora do Curso de Medicina da Universidade da Região de Joinville - Univille, coordenadora da Liga de Medicina de Família da Univille.
Rafael Amorim Lopes, acadêmico do 8º período do Curso de Medicina da Universidade da Região de Joinville - Univille, coordenador da Liga de Medicina de Família da Univille.
Deixe seu comentário