Lages recebe nesta semana mais uma edição do Programa Alesc Itinerante
O autismo vivido todos os dias
Sexta-feira, dia 30 de março, Lucas Teles Souto completará seis anos. Mais um ano de conquistas, desenvolvimento e muito carinho e amor recebido, principalmente dos pais João Henrique Barbosa Souto e Vanessa Campos Teles Souto.
Natural de Lages, atualmente ele e a família residem em Cerro Negro, mas também já moraram em Anita e o vínculo permanece com o município vizinho. Lucas é um entre os nove alunos autistas que recebem atendimentos múltiplos na APAE de Anita Garibaldi.
Dia 02 de abril é uma data especial para a família Teles Souto e de grande importância a nível mundial, pois se trata do Dia da Conscientização do Autismo.
Conhecer mais sobre o que é o Transtorno do Espectro Autista, suas características e a importância da família em todo esse contexto é o que veremos em entrevista com os pais de Lucas: Vanessa e João Henrique. Acompanhe:
Quais foram os primeiros aspectos que levaram a perceber que Lucas tinha autismo?
"O atraso na fala e a audição seletiva foram os sinais que mais chamaram atenção. Em torno de 8 meses, Lucas emitia e imitava alguns sons. Porém dentro de poucos meses passou a falar apenas 'MAMA' e 'PAPA', deixando de emitir qualquer outro tipo de som. Quando era chamado não olhava, mas quando ele estava a fazer algo que podia ser perigoso (como colocar o dedo na tomada, por exemplo), falávamos NÃO e ele obedecia, demonstrando que havia ouvido o comando."
Como e quando foi o diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista do filho?
"Começamos a desconfiar quando o Lucas tinha aproximadamente 1 ano e 4 meses. Mas os sinais ainda eram discretos. Quando completou 2 anos, os sinais estavam mais evidentes, o atraso na fala persistia e Lucas foi avaliado por uma neuropediatra, a qual solicitou exames e o encaminhou para avaliação com fonoaudióloga e psicóloga, para afastar outros diagnósticos, já que o diagnóstico de autismo é clínico e observacional. Mesmo sem termos o diagnóstico fechado, ela prontamente já nos indicou iniciar as terapias."
Quais foram os primeiros passos após o diagnóstico?
"Mesmo antes do diagnóstico fechado iniciamos as terapias indicadas pela neuropediatra. Lucas manteve as terapias com a fonoaudióloga e com a psicóloga e foi encaminhado a APAE para realizar fisioterapia, terapia ocupacional e estimulação sensorial com a pedagoga. Nos primeiros 12 meses após o diagnóstico, tivemos uma rotina intensa de terapias com o Lucas. Ele chegou a fazer 11 terapias por semana. Em casa, nós mantínhamos essa estimulação, com atividades orientadas pelo psicopedagogo Miguel Higuera, que palestrou em Anita em 2015 a nosso convite."
Como é atualmente a vivência da família com o autismo?
"É natural. Tem dias que são maravilhosos, outros nem tanto. Alguns dias ele fica mais agitado e ansioso e isso atrapalha seu comportamento como um todo, podendo interferir no nosso comportamento também. Lucas acaba de completar 6 anos de idade e desde os 2 anos nossa família 'vive' o autismo diariamente. No começo foi difícil, não sabíamos muito bem como lidar com a situação. Tínhamos nossos anseios, medos e dúvidas. Será que Lucas iria falar? Será que aprenderia a ler? Seria ele capaz de aprender uma profissão? Mas decidimos viver 'o hoje', fornecendo a ele toda a bagagem necessária para o seu desenvolvimento, sempre acreditando no seu potencial. E com o objetivo principal de fazê-lo feliz.
Na condição de pais de uma criança autista, percebemos que cada conquista é sempre muito comemorada por nós. Coisas simples, que ao olhar de outras pessoas, podem parecer bobas, para nós é sempre motivo de muito orgulho.
No nosso cotidiano tentamos sempre manter nossa rotina habitual de trabalho e lazer. Não deixamos de frequentar lugares públicos por conta do autismo. Sabemos que alguns dias existirão birras, agressividade, gritos. Mas isso ocorre nas crianças neurotípicas também. Com o passar do tempo, o comportamento dele foi se moldando e as atitudes foram melhorando, porque esses ambientes passaram a fazer parte da rotina dele.
Lentamente fomos expondo ele a várias circunstâncias típicas e cotidianas, para que essa parte sensorial fosse melhorando a cada dia."
Qual a importância do acompanhamento de profissionais, tanto na APAE, na escola e em outros, para o desenvolvimento de Lucas?
"É muito importante, pois cada terapia ou aula realizada tem papel fundamental para que possa se tornar um adulto semi-independente. Cada profissional tem uma responsabilidade muito grande, pois assume uma vida. Vida esta que pode ser moldada trazendo muitos benefícios para o dia a dia da criança autista e para a família dessa criança também. Cada profissional tem seu valor, isso é indiscutível. E todos juntos, fazem a diferença. O trabalho multiprofissional é valioso. E se nós pais também fizermos a nossa parte, a tendência é melhorar cada vez mais. Basta dedicação, paciência e comprometimento de todos nós: pais, terapeutas e professores."
Como é a relação de Lucas com os pais?
"Lucas é uma criança carinhosa. Tem alguns momentos de impulsividade, devido a ansiedade. Mas é muito afetuoso. Não gosta de ficar sozinho. Gosta de compartilhar o que está fazendo com a gente. Beija, abraça, agrada, pede desculpas. Gosta de ser elogiado. Percebe quando nos deixa tristes. Percebe quando estamos orgulhosos. Somos uma família como outra qualquer. Chamamos atenção quando necessário, e parabenizamos se houver merecimento. Os terapeutas nos ensinaram que Lucas não é um coitadinho"
Percebem preconceito com ele e com a família?
"Não sentimos que há preconceito. Mas sei que essa não é a realidade da grande maioria. Nossa família nos apoia demais e dissemina informações a respeito do autismo, para que as pessoas entendam o que é e saibam lidar com a criança autista. Agradecemos a todos os terapeutas, professores e médicos que compartilham esse cuidado do Lucas com a gente, e a todos que já passaram e também contribuíram de alguma forma para a evolução dele."
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