Quatro detentos que estudavam na cadeia pública municipal formaram-se na semana passada.
No final da tarde do último dia 6, enquanto a luz do sol se enfraquecia, a luz do conhecimento era reforçada para os detentos da Cadeia Pública de Anita Garibaldi, os quais receberam seus certificados de conclusão do ensino fundamental, durante uma cerimônia organizada no CASA e que contou com a presença dos familiares dos detentos, professores e membros dos poderes executivo e judiciário.
Os quatro formandos estudavam em uma sala adaptada no presídio municipal. A cidade de Anita Garibaldi é pioneira neste tipo de trabalho educativo, o qual desde 2001 tem amadurecido e desenvolvido a interação e o conhecimento como uma alternativa para que a mudança de vida comece ainda durante o cumprimento da pena.
O projeto tem o apoio da prefeitura municipal, através da secretaria de educação, e da comarca de Anita Garibaldi, na qual o juiz Alexandre Takashima Karazawa deu os primeiros passos para fazer com que os encarcerados tivessem novas oportunidades através da educação. Em 2009 o projeto Mentes Livres, executado pelo Instituto José Paschoal Baggio, com foco na leitura de revistas, livros e jornais, tornou-se parceiro nessa ação.
Rodrigo Amorim, ex-presidiário e acadêmico do curso de direto da Universidade do Planalto Catarinense, atua como incentivador do projeto. Durante seu discurso, representando os formandos naquela tarde, relatou sobre o início dos trabalhos e as dificuldades encontradas. “Não importa qual foi o crime cometido por cada um dos presos, o que importa é que depois que a gente cumpre a pena precisamos de uma perspectiva para voltar à vida do lado de fora. As coisas mudam e a gente só consegue alcançar essa mudança através da educação”, disse Rodrigo.
José Carlos Ribas, José Moraes, Airton Moraes e Pedro Moraes foram os formandos, mas as homenagens também foram estendidas ao senhor Alceu Corrêa, diretor da cadeia anitense, o qual foi lembrado pelos anos de trabalho dedicado para que o desenvolvimento do projeto fosse mantido de modo eficiente. Ele foi homenageado por membros do poder judiciário com uma placa de agradecimento entregue pelo juiz Geraldo Corrêa Bastos, da comarca de Correia Pinto.
As professoras Isolete Ambrosio e Ivonete Chaves foram capacitadas e pagas pela prefeitura de Anita Garibaldi para trabalhar com os detentos utilizando material didático oferecido pelo CEJA (Centro de Educação de Jovens e Adultos), que é mantido pela administração municipal. Elas disseram que se sentem realizadas ao ver seus estudantes onde estão hoje. “Esses alunos que estão recebendo o certificado não desistiram de viver. O fato de eles estarem aqui mostra que sempre há um jeito para continuar. Ser um professor na cadeia, com certeza serve para se aprender mais do que ensinar, afinal quando se sai de lá, se sai diferente.” disse Isolete.
O prefeito Ivonir Fernandes, agradeceu a todos os envolvidos e parabenizou os formandos. Ele lembrou da importância dos professores nesse processo educativo e de reinclusão social. “Parabéns às professoras pela dedicação e compromisso que tiveram ao repassar seus conhecimentos”, disse Ivonir.
Conhecer uma cadeia pelo lado de dentro como um detento é algo que ninguém deseja, mesmo assim, em alguns casos, a vida toma rumos impulsivos que vão além de escolhas pessoais. Entretanto, educar-se, mesmo que em um ambiente onde todas as alternativas parecem limitadas, é sempre uma decisão pessoal que causa uma vitória para a sociedade. No final daquela tarde, presidiários tornaram-se donos de uma pequena parcela da imensa liberdade que o conhecimento pode oportunizar. “Vou sair da cadeia só em 2015, mas vou sair de cabeça erguida, porque agora eu estudei, aprendi que o saber não ocupa espaço e leva a pessoa a pensar melhor,” disse José Moraes, aluno formado.
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