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Entrevista com Eduardo Geremia

Vamos conhecer um pouco da vida e história de um quase padre que casou com uma ex-freira por ordem do destino.

 Nosso entrevistado desta edição já foi seminarista. Mudou-se para Anita Garibaldi devido o seu casamento com uma anitense. Foi candidato a vereador nas últimas eleições é muito ligado as questões ambientais, procurando sempre estar atento a tudo o que acontece ligado ao tema. Ele é um grande colaborador da igreja e assumiu recentemente a diretoria da Associação dos Universitários de Anita Garibaldi.

Eduardo Geremia, tem 35 anos é natural de Bento Gonçalves – RS e há três anos mora em Anita Garibaldi. Casado com Andréia Freitas, não tem filhos. É graduado em Filosofia, Teologia e atualmente cursa pedagogia em Lages. 
 
Correio dos Lagos – Como iniciou na vida religiosa?
Eduardo Geremia - Entrei no seminário com quatorze anos e desde criança sempre quis seguir a vida religiosa. Tenho dois tios que são padres e por isso gostaria de seguir o modelo de vivência deles. Permaneci dez anos ao todo no seminário, nesse período estudei o segundo grau e graduação superior em Filosofia e Teologia, além de estudar dois anos fora do país.
Depois de alguns anos, conhecendo mais a caminhada que seguiria posteriormente, decidi mudar de caminho, mas nem por isso abandonei a Igreja.  Depois que sai do seminário, continue trabalhando em uma igreja de Porto Alegre e fiz um trabalho de assistência aos estrangeiros na mesma congregação. Nesse meio tempo comecei a namorar e casei com a minha atual esposa, que é aqui de Anita Garibaldi.
Continuo servindo a minha vocação na comunidade. Mesmo agora, na vida de casado, não abandonei meu compromisso com Deus.
 
Correio dos Lagos – Como conheceu sua atual esposa, que na época já era irmã e como foi sua vinda para Anita Garibaldi?
Eduardo - Nos conhecemos desde 1992 quando ela entrou no convento e entrei no seminário na mesma cidade. Desde então sempre seguimos juntos. Eu estive aqui em Anita quando a Andreia veio fazer os votos. Fui eu que passei nas comunidades convidando a população para a celebração, passei uma semana aqui. Depois disso percebemos que a vida religiosa poderia ser seguida mesmo depois de casados, ajudando na igreja, que é o que fazemos hoje. Minha vinda para Anita foi devido a minha esposa ser daqui e resolvemos morar no município da família dela. 
 
Correio dos Lagos - Na sua opinião a igreja católica mudou em alguns aspectos?
Eduardo - A igreja tenta seguir aquilo que acha que foi o seguimento de Jesus. Ela não consegue agradar a todos, mas precisa seguir as normas da escritura. Porém, cada igreja tem um modo, uma cultura e por vários fatores a igreja se diferencia umas das outras, desde a formação dos padres e religiosas, por mais que tenha uma orientação padrão de seguimento cada um interpreta de uma maneira. Temos desde os padres liberais, aos que seguem a liturgia mais rígida. Cada igreja tem uma visão diferenciada. Estamos no tempo que as pessoas buscam mais facilidade, porém,  passamos por alguns problemas, como por exemplo os novos padres cantores, podemos nos referir assim, que conseguem encher as igrejas, mas fica a questão da euforia do momento, no entanto surge a questão da liturgia, caridade e a igreja social que muitas vezes não aparece com a força que deveria. Então são modos diferentes de seguir e chamar os fieis para dentro da igreja. Creio que o objetivo fundamental da igreja é a fé, a caridade, enfim o convívio social com os mais necessitados, colocar em prática os bons ensinamentos que aprendemos enquanto católicos.
 
Correio dos Lagos – Qual sua visão com a chegada do novo Papa Francisco.
Eduardo - Acredito que o novo Papa seja mais próximo da comunidade e do povo humilde.  A imagem do papa sendo um ser intocável foi quebrada. Ele já trouxe o povo mais junto dele, claro que ele não vai resolver todos os problemas, polemicas, mesmo porque se quisesse ele não poderia, pois tem que seguir a tradição e normas da igreja, mas é um ar novo e sinaliza novas mudanças.
 
Correio dos Lagos – Como estão os preparativos para a Jornada mundial da juventude?
Eduardo - O grupo está se preparando desde novembro com encontros e desde o princípio colocamos que a viagem seria religiosa, de oração, de encontro com o papa, não de excursão. O grupo possui entre 15 e 25 jovens que participam e para a jornada acredito que iremos em 18 que estão desde o início se preparando para isso. Com a vinda do papa Francisco deu  um ânimo ainda mais forte, porque é um papa latino-americano e a juventude toda está bastante animada. Estamos percebendo que o pessoal que tem participado do grupo está mudando, está vindo para os encontros porque querem e estamos percebendo que o grupo tem futuro e procura algo diferente dentro da igreja. Na jornada acredito que vai ser um testemunho bastante interessante para a cidade e para trazer mais jovens para a igreja.
 
Correio dos Lagos – Estamos em época de páscoa, como você  avalia a mudança do verdadeiro significado da páscoa?
Eduardo - Para nós que somos cristãos católicos é a passagem da morte para a vida. Jesus que sofreu se entregou na cruz para pagar os pecados de cada um de nós, mas ressuscitou, e se não tivesse ressuscitado seria em vão e a páscoa é essa celebração. Ele vence a morte e mostra que depois da morte há ressurreição, há vida. Mas, nos dias de hoje, a gente percebe que o consumismo e o capitalismo para  poder ganhar dinheiro transformam a páscoa em coelho, ovo de chocolate. Até hoje não entendo como chegamos nisso. Percebo que com esses símbolos, esse chocolate pode ser vendido tanto a um cristão ou um judeu, pra quem quiser, não precisa ser católico para vender essa ideia de páscoa. São festas cristãs que a propaganda e o mercado colocam símbolos e vira nessa festa comercial.
 
Correio dos Lagos - Você acredita que a igreja consiga mudar isso?
Eduardo - A igreja faz a sua parte, pode-se ver que  todas as igrejas tem toda uma programação da semana santa. Dificilmente você vai ouvir a igreja falar em coelhinho da páscoa, ter um cenário com ovinhos e pegadinhas para os fiéis chegarem ao altar e pegarem seus ovinhos, porém a força da mídia é muito maior, tem muito mais recursos que a igreja.
 
Mudando de assunto...
 
Correio dos Lagos - Você sempre esteve envolvido em questões ambientais. Como avalia isso aqui na região?
Eduardo - Esse meu interesse surgiu quando trabalhei um ano em uma ONG em Porto Alegre, e o “cabeça” dessa ONG era um canadense que há 25 anos começou a implantar a coleta seletiva em Montreal. Ele participou da  ECO 92, apresentou vários projetos em questões ambientais bem viáveis e possíveis de serem implantadas. Em Porto Alegre, ajudei muito ele e fui pegando o gosto e aprendendo o processo. Hoje, percebo que projetos ambientais são simples de serem implantados, mas parece que projetos bons são só os que gastam muito dinheiro. Desde que estou aqui em Anita, percebo que podem ser desenvolvidos vários projetos, com a ajuda da Baesa que sempre é parceira, porém falta a iniciativa e as pessoas levarem a sério a questão ambiental, e ter em mente que não pode ser apenas um ato, tem que ser algo continuado.
 
Correio dos Lagos - Você está estudando novamente. Esse curso tem alguma ligação com a área ambiental?
Eduardo - Cursei Filosofia, Teologia quando era seminarista, fiz um curso a distância sobre gestão de resíduos sólidos, só que para qualquer coisa é necessário o “canudo” . Esses cursos valem como conhecimento mas não tenho um diploma que possa apresentar, então a necessidade de ter um diploma me levou à faculdade. Estou fazendo Pedagogia, porque o curso vai me dar acesso as gerações que estão se preparando para a vida, essas ideias, conhecimento me dará a oportunidade de desenvolver esses projetos com eles e a pedagogia vai fazer esse elo, através de uma sala de aula vou conseguir apresentar uma proposta diferenciada que possa abrir caminhos.
 
Correio dos Lagos - Através da faculdade surgiu a presidência da Associação dos Universitários. Como tem sido essa experiência?
Eduardo - Iniciando a faculdade percebi que precisamos do transporte universitário. Lá dentro a gente começa a perceber as dificuldades, inclusive de ter a garantia de um transporte que saibamos que vai ter sempre. Diante dos problemas, avaliando que precisava de alguém para assumir a diretoria, que é um posto que ninguém quer, mas é necessário, e como tenho essa tendência de estar envolvido com as pessoas, fui eleito, alguém tinha que assumir. Neste primeiro momento estou analisando a situação da associação, principalmente a financeira. Sabemos que temos uma dívida e estamos em atraso com a empresa  de transporte, devido a vários motivos e o principal e a falta dos três últimos repasses da administração municipal do ano passado, que estão empenhados para serem pagos, mas sem previsão. Pelo que percebi os estudantes estão correndo atrás de uma dívida e estamos avaliando realmente a situação financeira para tentar achar uma solução para isso. O nosso principal foco é quitar essa dívida e  colocar o financeiro em ordem. Estamos tentando achar uma maneira e baratear o transporte, mas aí nos deparamos com pouca participação dos universitários, pois na hora do benefício todos ganham, mas na hora do compromisso todos têm que participar. Precisamos da participação maciça dos universitários, participação das famílias e também da comunidade, pois eles serão os futuros profissionais de Anita Garibaldi e necessitamos de apoio nesta etapa. Precisamos de uma união muito forte para continuar a caminhada.
 
 
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