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Vegetarianismo e suas características. Você já conhece?

A alimentação é de extrema importância, isso todos concordam. E no mundo da alimentação há muitas especificidades, curiosidades e informações que fazem toda a diferença para escolher como se alimentar. Na data de 19 de março celebra-se o dia mundial sem carne e para conhecer mais sobre as características da alimentação, especialmente do vegetarianismo, o Correio dos Lagos realizou entrevista com a nutricionista na Prefeitura Municipal de Pinhal da Serra, Natália Engroff do Canto (CRN215476), que é graduada pela Universidade Federal de Pelotas - UFPel e mestre em Ciências Fisiológicas pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, e além disso, desde 2019 adotou um novo estilo de vida, tornando-se vegetariana.

Correio dos Lagos - Por que optou por ser vegetariana?

Nutricionista Natália Engroff do Canto - Existem muitos motivos que fazem com que as pessoas se tornem vegetarianas, entre eles ética, saúde, meio ambiente e sociedade. No meu caso foi a questão ética. "São abatidos mais de 10 mil animais terrestres por minuto no Brasil para produzir carnes, leite e ovos. A maioria destes animais são frangos, porcos e bois - animais que têm uma complexa capacidade cognitiva e sentem dor, sofrimento e alegria da mesma forma que os cães que temos em casa. Os animais são sencientes (capazes de sofrer e sentir prazer e felicidade), por isso a escolha vegetariana é uma escolha de não compactuar com a exploração, confinamento e abate destes animais." FONTE: Sociedade Brasileira Vegetariana.

Correio dos Lagos - Como foi esse processo de transição?

Nutricionista Natália - Minha mãe, dona Marise Engroff, que possui Licenciatura em Biologia e Pós-graduação em Ciências do Meio Ambiente, foi a primeira pessoa que me fez refletir sobre o consumo de carne. Com 13 anos de idade (2006), em uma caminhada no interior da minha cidade natal, em um dia muito quente. Eu, indignada com o calor comentei sobre o fato e então ela disse algo parecido com isso: "Se queremos reduzir o calor devemos reduzir a produção de gases do efeito estufa e as flatulências e fezes do gado são as principais responsáveis pela emissão desses gases". Na mesma hora eu fiquei indignada e perguntei: "Como assim, o que devemos fazer para reduzir os gases do efeito estufa?". Então, de forma certeira ela disse: "Reduzindo o consumo de carne".

Anos depois, durante a faculdade de Nutrição, uma das minhas melhores amigas se tornou ovolactovegetaria e foram 3 anos (2013-2015) de convivência preparando opções e experimentando novas combinações, porém eu ainda não havia despertado para a realidade. Durante o Mestrado (2016-2018) eu trabalhei diretamente com animais de laboratório, camundongo. Era um cuidado diário com dezenas de animais, cuidar, suplementar um a um, limpar as caixas e alimentar. No fim do experimento, todos os animais eram eutanasiados, dentro das normas do conselho de ética da faculdade. Apesar do amor pelos camundongos e envolvimento emocional (posso dizer que o período mais difícil da minha vida) ainda assim continuei onívora. Foi somente em 2019, quando mudei meu estilo de vida e comecei a me interessar por autoconhecimento, em maio, assisti um documentário: "A palestra mais importante que você irá ouvir na sua vida - Gary Yourofsky". A partir daquele dia despertei para a realidade que vivia e desde 23 de maio de 2019 não consumo mais carne, de nenhum tipo, gado, frango, peixe, frutos do mar... Desde aquele momento é inadmissível eu compactuar com este estilo de vida. Até hoje é um processo de aprendizagem, são inúmeros cursos, palestras, congressos, entrevistas, vídeos, enfim, todo o conteúdo que eu posso consumir sobre a este assunto. A informação que contribui para a mudança, que é um processo individual, ou seja, cada um tem o seu tempo. Atualmente estou em fase de transição para o vegetarianismo estrito, "nunca é tarde para nada, pois o caminho é infinito" - Rosineide Bello. Como o conhecimento é a chave da mudança, deixo aqui alguns documentários e o convite para assistirem: "What the Healt", "The Game Changer", "Cowspiracy", "Food Matter", "Okj" e "Seaspiracy".

Correio dos Lagos - O que mudou na sua vida após essa decisão, em termos de saúde e bem-estar?

Nutricionista Natália - Tudo. Digo sempre que existe uma Natália antes do vegetarianismo e uma nova Natália, depois do vegetarianismo. Não consigo olhar o mundo mais do mesmo jeito, é um entendimento que todos nós somos um só e estamos conectados com a natureza, o planeta é nossa casa. A minha vida mudou completamente, me sinto mais tranquila, meus exames de sangue melhoraram e, principalmente, a felicidade de poder comer bastante, sim, o volume da alimentação vegetariana é muito maior com uma menor quantidade de quilocalorias, sim, podemos comer mais, ingerindo muitos nutrientes com teor calórico menor. Também sinto que faço parte da mudança de um mundo melhor, na conscientização de pessoas, com a minha mudança de hábitos e não apenas assistir notícias, ficar indignada e reclamar. Ninguém pode mudar o mundo sozinho, mas cada um pode mudar seu próprio micro universo para que assim a mudança global ocorra.

Correio dos Lagos - Do que os vegetarianos se alimentam?

Nutricionista Natália - Flexitariano: não é uma dieta vegetariana, nem vegana, nem onívora. Ocorre que o indivíduo opta por uma redução no consumo de carne e produtos de origem animal. Há quem coma carne apenas uma vez por semana, há quem opte por duas ou três refeições com alimentos de origem animal...

Ovolactovegetarianismo: utiliza ovos, leite e laticínios na sua alimentação.

Lactovegetarianismo: utiliza leite e laticínios na sua alimentação.

Ovovegetarianismo: utiliza ovos na sua alimentação.

Vegetarianismo estrito: não utiliza nenhum produto de origem animal na sua alimentação. Utiliza cereais (arroz, cevada, trigo, milho, aveia), leguminosas (feijões de todos os tipos, ervilha, lentilha, grão-de-bico, soja), frutas, vegetais convencionais ou não convencionais (PANCs), oleaginosas (amêndoas, chia, linhaça, nozes, castanhas, amendoim e avelã), queijos vegetais (castanhas, soja - tofu, grão-de-bico entre outros), leites e iogurtes vegetais (aveia, castanhas, amêndoas, coco, semente de melão) e cogumelos. Ademais, existe uma infinidade de combinações e preparações que o mundo vegetal oferece, convido você a acessar a página oficial da Sociedade Brasileira Vegetariana e conhecer o mundo de receitas que a comunidade vegetariana oferece gratuitamente: https://www.svb.org.br

Correio dos Lagos - O que difere os vegetarianos de veganos?

Nutricionista Natália - O veganismo, segundo definição da Vegan Society, é um modo de viver (ou poderíamos chamar apenas de "escolha") que busca excluir, na medida do possível e praticável, todas as formas de exploração e crueldade contra os animais - seja na alimentação, no vestuário ou em outras esferas do consumo.

Correio dos Lagos - Quais os benefícios da alimentação vegetariana? Há desvantagens?

Nutricionista Natália - A única desvantagem é se não experimentar. Os benefícios para saúde são diversos, desde a melhora no trânsito intestinal, melhora do humor, qualidade de sono, disposição, imunidade, melhora nos quadros inflamatórios, como dermatites e doenças intestinais. Outro benefício da dieta vegetariana estrita é a quantidade de antioxidantes que ingerimos, o que auxilia no combate aos radicais livres, responsáveis pelo envelhecimento. Todas as dietas anti-aging, ou antienvelhecimento, possuem a recomendação de reduzir o consumo de carne. Além disso, estudos populacionais já alertam para benefícios da dieta baseada em plantas adequada nutricionalmente. Os vegetarianos têm menor incidência de todas as doenças crônicas não transmissíveis, como dislipidemias (alteração dos lipídios no sangue), hipertensão, cardiopatia isquêmica (infarto agudo do miocárdio), diabetes, diversos tipos de câncer e obesidade, pois a dieta vegetaria estrita é isenta de colesterol e possui baixo teor de gordura saturada (tipo de gordura responsável por desencadear diabetes, placas de ateromas e contribuir para o aumento de gordura corporal). O consumo de carne processada (presunto, peito de peru, salsicha, salame, calabresa, bacon) tem o mesmo nível de evidência (1A) para o desenvolvimento de câncer que o consumo de cigarro.

O impacto ambiental de um dia sem carne (290 gramas), ovos (38 gramas) e leite (450 gramas), poupa 24m² de terras, poupa 8 Kg em grãos, economiza 60 litros de água azul (reservatórios de água doce) e reduz a emissão de 11 Kg de CO2, imagine todos os dias. Fonte: campanha segunda sem carne.

O vegetarianismo estrito bem planejado é seguro e benéfico em todas as fases da vida, desde o nascimento até nos idosos. Uma plant based diet, dieta baseada em plantas é o termo correto para definir o cardápio que promove uma melhora global na saúde humana. Dietas vegetarianas estritas baseadas em batata frita, salsicha vegana, bolacha recheada vegana definitivamente não promovem os benefícios para a saúde anteriormente citados. Por isso adotamos o termo dieta baseada em plantas. Vale ressaltar aqui que é somente o reino vegetal (frutas e verduras) que possui em sua composição compostos bioativos, como antioxidantes, capazes de auxiliar nas nossas defesas e outro ponto que deve ser ressaltado é que este conhecimento científico ainda não chegou as Universidades e ainda vai demorar um pouco. Por isso ainda não visualizamos profissionais de saúde preparados para atender de forma completa esses pacientes, com planos alimentares adequados capazes de proporcionar todos esses benefícios.

Correio dos Lagos - É necessário fazer suplementação de vitaminas, minerais ou proteínas ao se tornar vegetariano?

Nutricionista Natália - Todo o plano alimentar deve ser acompanhado por um profissional de Nutrição, assim há uma adequação de macro e micronutrientes para que não haja nenhuma deficiência. Antes de qualquer prescrição existe a necessidade de avaliar os exames laboratoriais de todos os pacientes, vegetarianos ou não.

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