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CORPOS JOVENS: COMUNICAÇÃO DE SI MESMO

João Maria da Silva. Endereço eletrônico: joaomaria.ag@gmail.com

No mundo moderno contemporâneo globalizado, jovens inscritos em distintos universos socioculturais vivem os dilemas dos seus tempos. Parece fazer sentido quando Gilles Lipovetsky argumenta que vivemos na era do "hiperconsumo", ou seja: a relação entre a satisfação corporal e a estética dos indivíduos está cada vez mais forte, fundando uma nova relação emocional entre pessoas e mercadorias.

As marcas fortalecem-se e, no lugar da venda de produtos, vendem-se conceitos e estilos de vida. Nesse sentido, ser jovem parece ser referência, conceito, status a ser desejado por outras idades. Em contrapartida, pode verificar também ser portador de comportamentos (in)aceitáveis de corpos (in)desejáveis, quando o que está em xeque é o estranho e inconveniente visual.

Na lógica do prazer – Entretanto, apesar de convivermos com a exacerbação do consumo, pode ser arriscado olhar para as diversas manifestações juvenis como uma mera questão de consumo e/ou rebeldia. Se problematizarmos essas formas de expressividade juvenis, podemos entendê-las como sintomas culturais de um tempo em que os incessantes processos de subjetivação se fundam nos discursos que circulam nas mais variadas instâncias culturais, tornando-se inscapáveis. Dentre eles, destaco os inúmeros investimentos que somos interpelados e convocados a realizar sobre nossos corpos, cada qual carregado de significados que acabam definindo e tornando vivível quem e como estamos sendo, conferindo ao corpo um lugar central nas tramas culturais contemporâneas.

Entre tantas possibilidades de práticas e modificações sobre os corpos, a exibição de inscrições de marcas corporais tem sido uma prática recorrente entre os jovens, em especial através do uso crescente de piercings e tatuagens. Substituindo a antiga lógica do sofrimento pela lógica do prazer, inscrevem em seus corpos sinais de identidade. A dor temporária é ressignificada, dando lugar ao prazer do resultado, que muitas vezes é imediato.

Adotando ainda gestos e imagens específicas, vestimenta e acessórios que chamam atenção e penteados escandalosos, compõem cenários instigantes e assustadores em diferentes espaços das cidades. Ruas, parques, bares, escolas, shoppings... Configuram-se em territórios privilegiados para exibir suas identidades. Aos olhos de quem passa, chamam atenção para si, e através do visual conjugado com gestos e linguagens, mostram que a grupos pertencem, tornam públicas suas buscas e seus desejos, dando visibilidade, muitas vezes, aos desconfortos dos nossos tempos e aos dissabores do mundo adulto.

"Eu existo" – Nesse sentido, o corpo pode ser entendido como espaço de inscrição de experiências, emoções, identificações e pertencimentos, tornando-se, como assinala o filósofo Le Breton, "um decorado arquivo de si". A pele, por exemplo, acolhe diversas marcas – de relações amorosas, aniversários, palavras e imagens inspiradoras – como uma espécie de memória de um acontecimento ou de algo que não se quer perder.

Os corpos tornam-se um dos principais lugares de expressão de si, transformam-se em espaços de comunicação. E é nesse movimento de ver e ser visto que o desejo de ser igual e pertencer coexiste com a necessidade de ser, ao mesmo tempo, diferente perante ao olhar do outro. Sem esse olhar, não há como existir.

Portanto tornar público o seu corpo é também tornar público a si mesmo. Quero argumentar com isso que os corpos jovens espetacularizados em diferentes espaços sociais talvez tenham encontrado, ao fim e ao cabo, um modo de dizer "eu existo!" ou "este sou eu!".

 

Referência:

PEREIRA, Angélica Silvana. In Jornal Mundo Jovem – Ano 47 – n. 397 – junho de 2009 – p. 2.

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