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As individualidades que fazem os números do IDHM

A renda dos anitenses não cresceu tanto nos últimos dez anos, uma notícia suavizada pelo bom desempenho da educação

 No dia 29 de julho deste ano, foi apresentado o Atlas de Desenvolvimento Humano do Brasil, o qual mostra a variação do Índice de Desenvolvimento Humano de cada município do país (IDHM), comparando os dados do último levantamento aos de pesquisas anteriores, do ano de 1991 e de 2000.

Os novos resultados apresentados pelo Atlas baseiam-se em dados colhidos no ano de 2010. Em dezenove anos, o Brasil passou de muito baixo para alto IDH. Porém, a desigualdade social do país ainda não permite o desenvolvimento uniforme de todo o território nacional, como é claramente visto no mapa que apresenta as faixas de IDHM brasileiro.
O Sul, o Sudeste e o Centro-Oeste continuam concentrando o maior número de municípios com alto IDHM (alguns até com o índice muito alto). Entretanto, essas regiões seguem o mesmo padrão brasileiro, apresentando áreas contrastantes de baixo desenvolvimento.
No caso de Santa Catarina, enquanto Florianópolis ocupa um lugar de destaque no ranking nacional, há microrregiões que apresentam municípios abaixo de todas as médias estabelecidas pelo Atlas. Esse é o caso do município de Anita Garibaldi, que embora apresente números melhores dos que os do último levantamento, nunca esteve acima da média estadual.
Hoje, o município é um dos centros comerciais mais importantes da Região dos Lagos, a qual fica no entorno das Usinas Hidrelétricas Campos Novos, Barra Grande, Machadinho e Garibaldi.  Entretanto, a economia municipal ainda tem grande representatividade do campo, sendo que em 2010 quase R$23 mil de um total de R$78.125 do produto interno bruto municipal vinha do setor agropecuário.
 O número de habitantes do município diminuiu drasticamente nos últimos dez anos, sendo que a população hoje não chega a nove mil pessoas. De acordo com dados do IBGE Cidades, estima-se que em 2013 o município tenha em média 8.230 habitantes, os quais terão que se virar para conquistar um lugar no mercado de trabalho local. Em 2008, por exemplo, quando a população era de 9.191 habitantes, a concorrência por uma colocação no mercado de trabalho formal alcançou dez habitantes por emprego, de acordo com dados que compõem a cartilha Santa Catarina em Números, publicada em  2010 pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) catarinense. 
Hoje, o IDHM de Anita Garibaldi é considerado alto. Para se chegar a essa conclusão, avaliou o desenvolvimento de três dimensões do IDH Global (longevidade, educação e renda) adequando a metodologia global ao contexto brasileiro e à disponibilidade de indicadores nacionais. O que se pode perceber é que nos últimos dez anos, a renda do anitense é a dimensão que menos se desenvolveu, enquanto a educação cresceu mais do que as outras dimensões quando o atual índice é comparado ao anterior.
Quase três anos se passaram entre a coleta e a apresentação dos dados pelo Atlas. Parece pouco tempo para que um grupo social tão grande quanto uma cidade como Anita Garibaldi possa ter evoluído seus números positiva ou negativamente. Entretanto, é possível observar o caminho traçado por alguns cidadãos particularmente. Com isso, imagina-se o quadro que o futuro levantamento apresentará.
O jornal, como um meio de comunicação, acompanha o cotidiano dessa gente que luta diariamente pelo sustento e desenvolvimento das famílias anitenses, e consequente luta pelo crescimento do município. O jornal acompanha as ações políticas e as mais diversas opiniões sobre elas. Aos poucos, página por página, semana após semana, apresenta aquilo que o Atlas não mostra e vai além dos números para colocar em destaque a vida de quem faz a história do desenvolvimento de um povo.
 
IDHM e educação: o futuro do desenvolvimento
 
De um lado bem mais confortável com os números do que a dimensão renda, está a educação, a qual apresentou a maior taxa de desenvolvimento entre os componentes do IDHM.
Provavelmente, o destaque da área educacional no município não seria o mesmo se não fosse o bom desempenho da rede estadual de ensino, apresentado em 2012 pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB).
A nota alcançada no IDEB pelas escolas estaduais foi maior do que a alcançada pelas municipais em todas as séries na qual a prova que serviu como base para a avaliação foi aplicada. A nota alcançada pelas quintas séries das instituições estaduais foi de 5.7, enquanto a das escolas municipais foi 4.2.
Para melhorar os índices, a Secretaria de Educação de Anita Garibaldi tem participado de programas e desenvolvido projetos com professores e alunos.
Aulas de inglês do primeiro ao quinto ano começaram a fazer parte da grade curricular da rede municipal, além disso aulas de reforço são realizadas com alunos que apresentam alguma dificuldade para acompanhar a turma até o quarto ano.
Estudantes do último ano do ensino fundamental participam do projeto “Operação Destaque”, no qual desenvolvem atividades especiais em disciplinas como português e matemática. “Participamos do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, desenvolvido pelo governo federal, a fim de dar suporte pedagógico à alfabetização e letramento. Investimos na formação continuada de nossos professores, oferecendo 130 horas de curso para eles. Estamos cientes de que para a educação ser de qualidade o trabalho deve começar desde os alunos pequenos, por isso também começamos a trabalhar com apostilas na educação infantil, com crianças de cinco anos”, comentou a secretária de educação municipal Dilvete Adami, elencando uma série de medidas que foram tomadas desde o início de 2013 para alavancar os números na área.
Para acompanhar mais de perto o resultado dos trabalhos, a secretaria, com acompanhamento da orientação pedagógica e administração escolar, faz avaliações semestrais com todos os alunos da rede, a fim de analisar as dificuldades e acompanhar o nível de aprendizagem deles, para desenvolver estratégias que melhorem a educação no município.
 
No final da década de 1990 e início dos anos 2000, quando o IDHM de Anita Garibaldi ainda era considerado baixo, o pedreiro Hugomar Zanchetta resolveu dar continuidade a um sonho que o daria muitas perspectivas e mudaria o seu futuro.
Um sonho capaz de fazer isso só poderia estar relacionado à educação.
Hugo, como é conhecido no município, vem de uma família que, graças ao trabalho que desenvolvia, mudava de cidade com certa frequência ou ficava acampada no interior. “Sempre que podia ia à escola, mas só consegui concluir até a quinta série no ensino regular”, conta ele.
Estudar e adquirir conhecimento para ter uma vida menos sofrida era o grande objetivo de Hugo. Para que isso se tornasse realidade, ele se matriculou em um supletivo do EJA (Educação para Jovens e Adultos) e cursou o ensino fundamental. “Ainda lembro das aulas com a professora Beatriz, que não eram fáceis, pois eu tinha que trabalhar e estudar os módulos em casa para fazer as provas. Após o término do ensino fundamental, prossegui com o ensino médio em uma turma grande na qual fiz muitas amizades. Admirava muito a professora Nilva Appio, pois se empenhava para nos ensinar as diversas disciplinas. Passei por muitas dificuldades, pois trabalhava no interior e às vezes tinha que acampar por lá. Em muitos dias frequentava as aulas e fazia as provas muitas vezes cansado, ainda escutando comentários como ‘você não vai aprender nada’,” conta ele lembrando daquela época em que passou por muitas dificuldades para realizar o desejo de se formar.
Hugo nunca desanimou nem deu atenção aos comentário inconvenientes. Confiante e determinado, tinha uma meta e viu seu grande sonho ser realizado.
Hoje, ele é professor pós-graduado em matemática e efetivo na rede estadual de educação, nas escolas Padre Antônio Vieira, de Anita Garibaldi, Irmã Gertrudes, de Ponte Alta.
Ele é apenas mais um exemplo, entre tantos que ajudaram a fazer a educação ter a melhor evolução no IDHM anitense. Hugo faz parte de uma equipe formada por milhares de pessoas que acreditam que a vida pode melhorar, não se deixam abater por críticas e têm certeza que, com paciência e esforço, todo sonho pode ser alcançado.
 
A renda per capita média de Anita Garibaldi aumentou 232,05% nas últimas duas décadas, mesmo assim esse é o item usado para chegar ao IDHM que menos cresceu.
A desigualdade no município diminuiu: o Índice de Gini passou de 0,56 em 2000 para 0,50 em 2010.
 
 
O que é Índice Gini?
 
É um instrumento usado para medir o grau de concentração de renda. Ele aponta a diferença entre os  rendimentos dos mais pobres e dos  mais ricos. Numericamente, varia  de 0 a 1, sendo que 0 representa a situação de total igualdade, ou seja, todos têm a mesma renda, e o valor  1 significa completa desigualdade de renda, ou seja, se uma só pessoa  detém toda a renda do lugar.
 
Os sonhos de uma vida melhor
 
Desde os onze anos, Valdevino Lopes Duarte, natural de Barracão, no Rio Grande do Sul, trabalhou com a agricultura. Hoje ele é aposentado, tem 62 anos e está feliz por ter conseguido construir uma casa nova no bairro Nossa Senhora da Glória. “Vim para Anita em 1974 e sempre trabalhei como ruralista. Naquela época eu não tinha onde morar. Eu parava nos sítios onde trabalhava. Por isso, meu sonho sempre foi ter uma casa própria. Faz uns quatro anos que vim pra cidade e agora realizei esse sonho”, conta o aposentado com um olhar realizado. 
Mesmo sendo um homem simples, Valdevino dá um exemplo de perseverança. Talvez a própria simplicidade com a qual leva a vida o tenha feito sempre manter o controle em busca de seus objetivos. Como ele mesmo diz: “quando a gente quer alguma coisa tem que projetar”.
Após sair do sítio, Valdevino ainda trabalhou como autônomo na cidade antes da aposentadoria chegar. Com persistência, em busca da realização de seu sonho, ele passou anos vendendo picolé e verduras cultivadas ruas de Anita Garibaldi.
Valdevino faz parte de uma parcela da população que fomentou o êxodo rural no município, seguindo uma tendência nacional, um dado preocupante frente à necessidade do aumento do número de ofertas de emprego.
A saída das pessoas do campo para a cidade agrava a situação econômica anitense, frente à falta de alternativas de geração de renda no meio urbano.
Embora nos últimos anos a administração pública venha somando esforços com a iniciativa privada para desenvolver projetos que melhorem a vida do homem no campo, aumentando a renda familiar dessas pessoas, a emigração para a área urbana cresceu tanto que, de acordo com dados do Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil de 2013, atualmente Anita Garibaldi possui mais munícipes no perímetro urbano do que no rural. São 4.551 pessoas vivendo na cidade e 4.072 vivendo no campo. Um dado que muda cada vez mais o cenário econômico do município, o qual, atualmente, está baseado no setor de serviços, mas já foi majoritariamente agrícola.
Em um lugar com pouca oferta de emprego, como é o caso de Anita, a vinda de mais pessoas para a zona urbana é preocupante. Embora a renda per capta do anitense tenha aumentado quase R$200 em dez anos, esse foi o componente do IDHM que menos evoluiu no último levantamento apresentado pelo Atlas.
Atualmente, nenhum programa social específico para a geração de renda é desenvolvido no município
 
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