A Doença de Alzheimer atinge uma alta porcentagem da população, principalmente aos pertencentes à terceira idade. Sendo assim, entrevistamos a médica clínica geral Vanessa Campos Teles, que tem 32 anos, é natural de Lages/SC e atende em Anita Garibaldi há dois anos.
Vanessa é formada pela Univali - Universidade do Vale do Itajaí – SC e Pós Graduanda em Ultrassonografia Ginecológica e Obstétrica. Ela passará informações sobre a doença, como prevenção, sintomas, tratamento e cuidados, além de contar um pouco sobre a experiência de ter alguém da família, no caso sua avó, sendo portadora dessa patologia.
Correio dos Lagos – Segundo dados da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz) existem cerca de 15 milhões de pessoas em todo o mundo portadores da Doença. Apesar da popularidade há a necessidade de maior conhecimento da população. Sendo assim, o que é mal ou doença de Alzheimer?
Dra. Vanessa – É uma doença degenerativa, ou seja, uma doença que altera o funcionamento das células, do tecido ou de um órgão, comprometendo a atenção, a percepção, a memória, o raciocínio, o pensamento e a linguagem. Atualmente ela é incurável, mas possui tratamento, o qual permite retardar a progressão da doença e melhorar a qualidade de vida do paciente. Foi descrita, pela primeira vez, em 1906, pelo psiquiatra alemão Alois Alzheimer, de onde se originou a denominação.
Correio dos Lagos – Qual a faixa etária que possui mais risco de apresentar essa patologia?
Dra. Vanessa – Pessoas acima dos sessenta anos, sendo que no Brasil a doença de Alzheimer é a principal causa de demência em pessoas desta faixa etária. Atinge 1% da população entre 65 e 70 anos, e aumenta conforme a idade, chegando a 60% em pessoas acima de noventa anos.
Correio dos Lagos - Existem fatores que propiciem o aparecimento da Doença de Alzheimer?
Dra. Vanessa – Existem diversos fatores. Dizemos que a origem é multifatorial, podendo ser causada por um componente genético, doenças como diabetes e hipertensão arterial, depressão, traumatismo craniano, déficit de vitaminas, doenças da tireóide, e até mesmo fatores externos, como baixa escolaridade.
Correio dos Lagos - Há algum tratamento preventivo?
Dra. Vanessa – A prática de exercícios físicos e uma dieta saudável e balanceada previnem a doença. Além disso, realizar exames de rotina a fim de diagnosticar doenças como hipertensão arterial, diabetes, alterações de tireóide e déficit de vitaminas, tratando e controlando essas alterações. Porém, vale ressaltar que a doença pode ter um fator genético, o qual não se consegue modificar.
Correio dos Lagos - Quais os sintomas que indicam que a pessoa tem a doença?
Dra. Vanessa – Os sintomas aparecem lentamente e pioram gradativamente à medida que o tempo passa. O principal sintoma é a dificuldade de aprender coisas novas. Os pacientes portadores da doença de Alzheimer apresentam comprometimento da atenção, da percepção e da memória, não conseguindo lembrar fatos recentes como o dia da semana, e com dificuldade para recordar informações antigas. Estes pacientes passam também a ter dificuldade no raciocínio, não conseguindo realizar contas. Apresentam alterações de linguagem e algumas vezes até mesmo alteração da capacidade físico-espacial, ou seja, perdem a capacidade de se situar no ambiente, não reconhecendo a própria casa, por exemplo. Em casos mais graves, o paciente apresenta apatia, depressão, delírios e alucinações.
Vale lembrar que nem sempre a doença começa com problemas de memória.
Correio dos Lagos - A doença progride com o passar dos anos. Dessa forma, ela possui estágios ou níveis de agressividade?
Dra. Vanessa – Sim. Existe uma fase a qual se denomina “pré-clínica”, e que se inicia na quarta década de vida, quando o paciente portador da doença já passa a ter alterações e lesões cerebrais, mas que, no entanto, não são suficientes para causar alterações funcionais. Como já citado anteriormente, a doença tem uma evolução lenta e progride com o passar dos anos. Na fase inicial, denominada de comprometimento cognitivo leve, o paciente pode ser lembrado de informações importantes e ter o suporte da família, sem notável prejuízo nas atividades da vida diária. Na fase moderada, o paciente tem uma dependência maior da família e, às vezes, pode ocorrer mudança do comportamento. Na fase avançada, o portador da doença de Alzheimer apresenta dificuldade para realizar funções básicas, como evacuar ou urinar, comer, tem dificuldade para engolir os alimentos e pode até mesmo apresentar agressividade. A fase avançada dura, em média, oito anos.
Correio dos Lagos - Após a constatação da patologia, quais os procedimentos que o paciente deve tomar?
Dra. Vanessa – Os pacientes com suspeita da doença, devem ser encaminhados para um serviço especializado em neurologia, geriatria ou psiquiatria, para o diagnóstico, que também pode ser feito por médico com treinamento na avaliação de demências.
O paciente deverá realizar acompanhamento médico de rotina e fazer o tratamento conforme prescrito. A família deverá dar apoio ao paciente, que necessitará de carinho e atenção. Muitas vezes o paciente precisará de compreensão e paciência, pois dependendo do estágio da doença poderá precisar de ajuda até mesmo para alimentar-se.
Correio dos Lagos - Como é realizado o tratamento aos portadores de DA?
Dra. Vanessa – O tratamento deve ser multidisciplinar, envolvendo os diversos sinais e sintomas. O objetivo do tratamento medicamentoso é estabilizar o comprometimento cognitivo e as alterações de comportamento e fazer com que o paciente consiga realizar atividades da vida diária.
Correio dos Lagos - Os remédios custam caro? O paciente tem direito a receber o medicamento de graça, havendo algum programa nacional que possibilite isso?
Dra. Vanessa – O valor dependerá do tipo e da dosagem da medicação. Os remédios custam em média entre R$ 70 e R$ 500. De acordo com a legislação brasileira, as pessoas com doença de Alzheimer têm direito à assistência médica e a medicamentos gratuitos, além de obter a isenção do Imposto de Renda.
Conforme a portaria 703, de 12 de abril de 2002, alguns medicamentos para tratamento do Alzheimer são fornecidos gratuitamente aos pacientes.
Correio dos Lagos - Como havia dito que em sua família há um caso de Mal de Alzheimer, sendo a sua avó, a Sr. Maria Coelho Teles, poderia falar sobre sua experiência em conviver com uma pessoa portadora da doença como, por exemplo, se há cuidados especiais?
Dra. Vanessa – Minha avó foi diagnosticada há pouco tempo, aproximadamente cinco anos. Ela faz uso de medicamentos para amenizar os sintomas, faz acompanhamento regular com o neurologista e com o geriatra. Apresenta-se no estágio moderado da doença. Ela é casada e tem cinco filhos, os quais se revezam aos finais de semana para cuidar dela. Uma cuidadora foi contratada para ficar com meus avós durante o período da manhã e tarde, enquanto os filhos trabalham. Alguns dias ela está bem, recorda-se de fatos e pessoas, por vezes, outros dias ela apresenta-se triste, esquecida, não sabendo relatar onde está e não reconhecendo pessoas próximas como o marido e filhos. Possui dificuldades básicas, como tomar banho e ir ao banheiro, para isso precisa que alguém a ajude. Mas, apesar da doença, está sempre cercada de muito carinho e compreensão, e nossa família tenta sempre fazer o melhor para que dia após dia ela se sinta bem.
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