“Gaúcho é um estado de espírito e não um local de nascimento”

A Semana Farroupilha, que antecede o Dia do Gaúcho, 20 de setembro, é comemorada em alguns estados brasileiros, mas é no Rio Grande do Sul, que a tradição tem mais força e é enaltecida por sua gente.
Para entender um pouco mais sobre as tradições gaúchas, semana Farroupilha e 20 de setembro, o jornal Correio dos Lagos conversou com o filósofo, pesquisador e tradicionalista Ajadil Costa.
Ajadil é nascido e morador da cidade de Esmeralda no Rio Grande do Sul e um grande entusiasta da cultura gaúcha, e irá explicar algumas particularidades sobre o tradicionalismo gaúcho.
Correio dos Lagos – Como surgiu a Semana Farroupilha?
Em 1947 foi um marco da consolidação do tradicionalismo gaúcho, claro que antes desse período tivemos outras manifestações, mas no Rio Grande do Sul aconteceu em 1947 devido a dois fatos históricos. Em 1937 o presidente do Brasil Getúlio Vargas, proíbe o uso da bandeira estadual, manda queimar as bandeiras estaduais, em 1945 final da segunda-guerra o EUA queria impor os modelos culturais e em Porto Alegre em 1947, tinha vários estudantes de origem do campo eles se reuniam e questionavam o que estava havendo com a cultura, a influência estrangeira, tínhamos uma cultura e não estava sendo valorizada, entre esses estudantes tinha um líder João Carlos Paixão Cortes, que cria o departamento de tradições gaúchas dentro da escola Julio de Castilhos e se prontificou a fazer um resgate, nesse ano acontecia o translado de Davi Canabarro de Santana a Porto Alegre e Paixão Cortes liderou o grupo e no dia 5 de setembro, ele percorreu as ruas de Porto Alegre escoltando os restos mortais, como a liga da defesa nacional foi criada em 1916 e depois veio o fogo simbólico para homenagear os heróis da Independência do Brasil, Paixão Cortes inspirado nessa ideia buscou fazer um movimento para homenagear os heróis da Revolução Farroupilha. Em agosto daquele ano, Paixão Cortes vai tomar café em um bar em frente a escola, tinha uma vidraça quebrada que entrava vento e chuva, que era utilizada pedaços da bandeira do Rio Grande do Sul tapando a vidraça e em momento de indignação ele diz: “um dia há de haver um movimento no Rio Grande do Sul para honrar os símbolos”, ele procura o presidente da Liga da Defesa Nacional e pede autorização para no dia 7 de setembro retirar uma centelha da pira do fogo da Pátria para criar a Chama Crioula, então o marco do tradicionalismo gaúcho, foi 7 de setembro de 1947, onde teve a primeira ronda que durou do dia 7 ao dia 20 de setembro. E isso se deu pela falta de valorização da cultura gaúcha. Então foi liderado por jovens estudantes que não se conformavam com a situação.
Correio dos Lagos - O que significa ser gaúcho?
Tem muitas versões. A origem do termo gaúcho é pejorativo, não por maldade, mas talvez por necessidade, diziam que era o vadio, gaudério, andante, pois eram os filhos das índias, portugueses, espanhóis e os homens não se adaptavam a vida do branco e ficavam morando nas beiras de estradas conhecidos por gaudérios. Isso digo nas minhas falas “foi”, sentido pejorativo. Depois surgiu que o gaúcho é quem nasceu na pampa, no Uruguai, Argentina e no Rio Grande do Sul e passou a ser gaúcho quem tinha habilidade andar a cavalo em terras brasileiras. O folclorista Antônio Augusto Fagundes “Gaúcho é quem vivência a cultura gaúcha”, Paixão Cortes diz: “Gaúcho é um estado de espírito e não um local de nascimento”, então gaúcho é quem vivência a cultura gaúcha. A cultura gaúcha não é propriedade dos riograndenses.
Correio dos Lagos - Como surgiu o Ajadil tradicionalista, escritor e palestrante?
O tradicionalismo é o maior evento popular organizado no mundo ocidental, iniciou com Paixão Cortes com oito cavaleiros e hoje ultrapassa mais de 8 milhões, para ver a dimensão do tradicionalismo gaúcho. A tradição é um culto dos valores dos antepassados. Se hoje estou de bombacha, é porque meu pai usa bombacha e meu avô usava, então é a tradição em família e eu que nasci e vivo nesse meio, comecei a pesquisar sobre esses temas, quando eu faço uma fala, além de livros que li, tive oportunidade de conviver e acompanhar essa vivência, a criação de centros de tradições gaúchas e os CTGs foram criados para preservar a parte cultural gaúcha.
Eu fui estudando, tenho uma esposa que me incentiva muito. Hoje faço o que gosto que é falar sobre a cultura gaúcha, de tanto falar sobre a história de José Mendes, Pedro Raimundo, Paixão Cortes e demais artistas, fui me especializando e hoje faço o que gosto. Escrevi o livro sobre José Mendes e lançamos um álbum de figurinhas ilustrando o tradicionalismo gaúcho, que pode ser utilizado nas escolas de forma didática, um trabalho para despertar o conhecimento.
A minha vivência da cultura gaúcha, se transformou em trabalho, levando um pouco da cultura e tradicionalismo gaúcho.
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