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A FAMÍLIA ENCOLHEU

por João Maria

Eramos tantos e somos tão poucos! Os casais têm menos filhos, os filhos se dispersam, os primos desaparecem, ninguém quer opinião da tia – e as famílias enormes viram um retrato na parede.

O encolhimento da família ocorre da mesma forma na maioria dos lares brasileiros. Aquela família enorme, com dezenas de tios, primos e agregados, é um fenômeno em extinção. Os estudos sobre a mudança demográfica, com todas as suas consequências sociais, mostram que a principal causa desse enxugamento é a queda acentuada na taxa de fecundidade. "Nos anos 1970, havia 6,2 filhos para cada mulher. Hoje, essa taxa caiu para 1,8", compara Marcelo Negri, economista da Fundação Getúlio Vargas. "O processo de queda, além de intenso, aconteceu em um tempo muito curto. Nos países europeus, esse decréscimo demorou 50 anos", diz a socióloga Ana Lúcia Sabóia, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As separações também são consideradas uma grande impulsionadora do encolhimento familiar. Segundo o IBGE, o número de divórcios no Brasil aumentou 52% nos últimos dez anos, sem contar as uniões e as desuniões não oficializadas. "O casamento até a morte era mais fácil no passado. Hoje as pessoas vivem até os 90. É muito mais difícil ficar esse tempo todo junto", avalia Neri.

Paralelamente às explicações para a redução das famílias, existe também a fragmentação dos núcleos familiares – os laços com primos de graus distantes e tios de gerações imemoriais perderam a força, quando não desapareceram. "A família grande era incômoda, dava palpites, interferia na educação dos filhos dos outros. A família nuclear, composta de pais e filhos, é mais individualista, quer criar as crianças do seu jeito e não depender da parentada para nada, diz Magdalena Ramos, terapeuta de casais e de família. Sem contar que não há espaço nem dinheiro para acomodar as festas de família à moda antiga. Estudos demográficos feitos recentemente levantam outras causas do enxugamento das famílias, um desses dados do IBGE, revela que nos nos 80 a taxa de urbanização no Brasil era de 65% e hoje é de 83,5%, o que indica que muitas famílias se cindiram, com parentes mudando-se do campo para os centros urbanos. Outro estudo realizado entre 1997 e 2007, há doze anos, mostra as transformações sociais, onde 56,5% das famílias tinham filhos morando em casa. Em 2007, esse número baixou para 49%. O mundo ficou menor, para nós, em compensação, nos vemos muito menos, descreve a psicóloga Ceneide Cerveny, de São Paulo.

As casas antes comportavam três gerações: os avós, a filha deles com o marido e os netos. Hoje, ninguém quer morar com os pais. A psicóloga Lidia aponta como desvantagem nesse encolhimento o fato de as crianças, principalmente, perderem a possibilidade de conhecer diferentes tipos de relacionamento. "Fazia bem para os pequenos perceber que os tios tinham uma forma distinta de tratar os filhos", Avalia. Mas vê como vantagem os pais, ao se concentrar apenas nos poucos filhos que têm, poderem se dedicar muito mais a eles. A verdade é que nas famílias com cinco, seis crianças, os pais não tinham tempo para conhecê-las direito, diz. E ainda tinham de aguentar os palpites de todo mundo.

A família é a base para uma sociedade sólida e sadia.

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