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CORRUPÇÃO OU HONESTIDADE? Parte l

João Maria da Silva. Endereço eletrônico: joaomaria.ag@gmail.com

"De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça; de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha ser honesto" A advertência do grande Rui Barbosa (1849-1923) parece muito atual, e o risco é o descrédito com a política, as instituições e os valores.

A mídia, e especialmente a grande mídia, tem vinculado a corrupção com o estado e os políticos. É importante lembrarmos que os vereadores, deputados estaduais e federais, senadores, prefeitos, governadores e o presidente da república são representantes do povo, escolhidos livremente pelo voto secreto. Precisamos acompanhar o trabalho dos nossos representantes, que devem atuar seguindo a nossa vontade e não mais votarmos naqueles que não cumprem corretamente as suas funções.

Não existe corrupção sem a presença de dois pólos nesta relação criminosa: o corruptor e o corrompido. A grande mídia fala apenas nos corrompidos que seriam, quase que exclusivamente, os políticos. A corrupção não ocorre só na política e a política reflete valores presentes em nossa sociedade. Não podemos ficar eternamente colocando a culpa nos políticos que nós mesmos escolhemos. A grande mídia que só coloca a culpa nos políticos quer na verdade desmoralizar o estado e a democracia.

Na realidade, podemos nos perguntar se não seria a sociedade de consumo em que vivemos, onde as pessoas valem pelo que tem e não pelo que são, um fator preponderante nestas condutas? Será que uma sociedade fundada no individualismo, no egoísmo, na competição e na acumulação de bens tem futuro?

A competição e o individualismo, valores saudados como fundamentais em nosso sistema econômico, reflete-se de diversas formas na vida social. Vivemos em uma sociedade da competição permanente: na TV os programas escolhem a melhor música, o melhor cantor, o melhor filme e nós reproduzimos isso no dia-a-dia, quando escolhemos o melhor sanduíche, a melhor pizza, o melhor amigo, o melhor isto e o melhor aquilo. O problema da sociedade do melhor é que nós estamos desaprendendo a viver com a diversidade, com a pluralidade.

A competição e o egoísmo refletem-se em coisas pequenas do nosso cotidiano: desde o motorista do carro que não dá passagem, ao cara que fura a fila do cinema, o comportamento predominante é o "tenho que me dar bem e o outro que se dane". É claro que uma sociedade fundada nestes valores não pode ter futuro. Isso pode virar uma guerra de todos contra todos. Precisamos resgatar a solidariedade e a noção de comunidade como valores sociais fundamentais. A solidariedade pode acabar com a corrupção, fruto da cultura do "se dar bem" a qualquer custo.

Não acredito que os políticos tenham uma responsabilidade maior na manutenção da corrupção. Os políticos não são a causa do problema. A causa está, entre outros fatores, em uma sociedade que reconhece como valor supremo o sucesso pessoal representado pela acumulação de bens. É a sociedade do salve-se quem puder. Reparem que isso se reflete no seu dia-a-dia, nas pequenas coisas: no trânsito, nas filas, no campo de futebol, no trabalho, na escola...

Referência:

MAGALHÃES, José Luiz Quadros de. In Jornal Mundo Jovem – Ano 47 – ed. 400 – Setembro de 2009.

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