Lages recebe nesta semana mais uma edição do Programa Alesc Itinerante
VOCÊ É O QUE COME
Por João Maria
Você é o que come e também quanto e como você come. Os alimentos podem ajudar ou prejudicar sua saúde. Mas não é recomendável sentar-se à mesa como se vai a uma farmácia ou lançar-se a excessos como um condenado em sua última refeição. O prazer do equilíbrio é a chave de tudo.
Quando o francês Jean Anthelme Briblat-Savarian, cunhou, em 1825, a expressão "diga-me o que comes e eu te direi o que és", referia-se, sobretudo aos prazeres de uma boa refeição. De lá para cá, uma série de estudos vem contribuindo para medicalizar o pão (e a carne, e a massa, e o doce) nosso de cada dia. Para o bem e para o mal. Alguns alimentos passaram a ser vistos como venenos e outros, como remédios. Você é, sim, o que você come - desde que entenda que, quando nos sentamos à mesa, o fazemos por motivos que vão além da nutrição pura e simples. Você exagera quando começa a encarar uma refeição como uma ida à farmácia. Qual a saída? Ter uma dieta equilibrada - em qualidade e quantidade. Tão equilibrada que lhe dê a chance de, vez por outra, cometer alguns "crimes" nutricionais. A manutenção da saúde deve ser uma conseqüência, e não o único objetivo do ato de comer bem.
Já está provado que, das dez doenças que mais matam no mundo, cinco estão diretamente associados a uma dieta de má qualidade: obesidade, infarto, derrame, diabetes e câncer ? sobretudo o de mana, o de próstata e o de intestino. "Quem quer que seja o pai de uma doença, a mãe foi uma dieta deficiente", diz o nutrólogo Durval Ribas Filho, presidente da Associação de Nutrologia (Abran). Basta uma semana de alimentação regrada, frugal e saudável para o organismo funcionar melhor. O hábito melhora, o cabelo fica sedoso, a pele mais viçosa. Surge o ânimo para acordar mais cedo e, por que não, fazer inclusive uma caminhada. "A boa alimentação favorece o metabolismo, o sono e a regularidade do intestino e controla os radicais livres, as moléculas responsáveis pelo envelhecimento celular", diz a nutricionista Cristina Menna Barreto, de São Paulo. Até o nosso humor pode ser modulado pela alimentação.
"Uma pessoa que acorda, toma uma xícara de café e não come nada até a hora do almoço tem maior probabilidade de ficar com o humor azedo", diz o nutrólogo Daniel Magnoni, do Hospital do Coração de São Paulo. Existem, ainda, estudos que mostram a relação entre deficiência de ácido fólico e depressão.
Muitos dos alimentos denominados foram essenciais para a evolução do homem. O consumo de carnes vermelhas garantiu a sobrevivência de nossos ancestrais em tempos de escassez de comida. Estocada sob a forma de tecido adiposo, a gordura animal representava a principal fonte de energia. Também se devem à dieta carnívora as proteínas que permitiram ao homem, entre outras coisas, criar o alfabeto, fabricar papel, inventar a tipografia e escrever livros que condenam a carne.
Há uma máxima antiga segundo a qual "as doenças não afetam quem sabe o que comer, o que não comer, quando comer e como comer".
Se ainda não veio à sua cabeça a expressão, aqui está ela: bom senso. Pois é, nesse caso não dá para variar. E bom senso significa não exagerar nem no consumo nem na privação.
Uma dieta para ser equilibrada e prazerosa tem de combinar ao ambiente em que se vive e à genética de cada um. Coma de tudo um pouco e tente transformar o ato de comer numa experiência mais agradável do que se restringir a uma porção de brócolis ou se entupir de frituras.
Coma com calma, sem tanta gordura pingando no prato. Esforce-se para que pelo menos uma das suas refeições diárias seja uma experiência estética e tudo mais, sempre não esquecendo o bom senso. Seja uma pessoa mais saudável e feliz.
João Maria da Silva
Revista Veja ? edição 2058 ? ano 41- n 17 ? 30 de abril de 2008 ? pp. 114/124
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